Marcelo Gomes tem história pra contar. Queria ser diplomata, mas começou trabalhando com marketing e acabou virando fotógrafo. Nascido em Belém do Pará, ele morou em São Luís do Maranhão, fez colégio no Texas, faculdade em Iowa, trabalhou em Miami e Nova York, mas acabou fincando raízes em São Paulo.
Explorando uma estética mais relaxada e menos artificial nas fotografias (ele clica desde moda até artes), Gomes, que ganhou fama de “naturalista” no metiê fashion, lança em fevereiro seu segundo livro, “Taciturn Heart”, pela editora americana Hassla Books (seu primeiro livro “Love and Before, Green and After”, foi lançado em 2008 no Brasil).
Seu modus operandi marcado pelas experimentações contamina a imagem final. “Não busco a perfeição das imagens. Estou sempre à esquerda da perfeição”, confessa em entrevista ao portal FFW.
O fotógrafo Marcelo Gomes © Reprodução
Qual foi o seu primeiro trabalho como fotógrafo?
Foi para a “New York Mag” no começo de 2008. Eu havia deixado o meu portfólio na redação da revista e alguns dias depois liguei para a secretária perguntando por ele. Ela havia perdido. Mais tarde, descobri que Kathy Ryan, a editora de arte da revista, tinha pego e amado. Depois de muito tempo ela me ligou dizendo: “Tenho a matéria perfeita para você fotografar”. Era um retrato de uma artista chamada Jeanne Su para a edição “I Love New York”.
O primeiro trabalho oficial de Marcelo Gomes para a “New York Mag”: a artista Jeanne Su © Marcelo Gomes
A imprensa de moda aponta o seu trabalho como “naturalista”. Essa linguagem é intencional?
O que eu faço pode ser interpretado como piegas, porque é muito sincero. Acho que a simplicidade é o que há de mais contemporâneo. Ser simples é legal. Esse cinismo, essa arte reacionária… Não aguento mais nada disso.
Muitas de suas fotos têm intervenções de cores, filtros e exposições diferenciadas. Fale um pouco sobre suas técnicas.
Não são exatamente técnicas, são mais experimentos. Por exemplo, as fotos cor-de-rosa. Em NY, quando o metrô é interditado, eles usam uma faixa magenta para isolar o espaço [como aquelas amarelas usadas em filmes policiais]. Um dia arranquei um pedaço e amarrei na câmera para fazer uma brincadeira com a Lelê [a stylist e namorada Letícia Toniazzo]. Mas já usei velas de natal, desfoques. Como disse, não são técnicas, são mais experimentos. Agora estou usando filmes de tungstênio que quando expostos à luz natural ficam azuis com tons de verde. É lindo.
Você usa filme, digital, ou os dois? Como a ferramenta interfere no seu trabalho?
Depende. O digital é um meio que serve para uma coisa. Uso digital nos trabalhos comerciais. A minha câmera é a mais arranhada possível, não sou preciosista. Eu trabalho com positivo, não negativo: quando o filme chega para mim ele já está pronto, o positivo é o que é. Não gosto de alterar as imagens. O digital é barato apenas para os amadores, para um profissional é muito mais caro e trabalhoso, porque você precisa de mais tempo e dinheiro, precisa investir em pós-tratamento.
Imagem do livro “Taciturn Heart”, lançado em fevereiro deste ano pela editora Hassla Books. A mulher da foto acima é Letícia Toniazzo, sua namorada © Marcelo Gomes
O que mudou desde que você começou a fotografar?
Eu fotografo menos e edito cada vez mais. Com certeza estou mais crítico e tento encontrar novas maneiras de mostrar minha arte. Fiz uma história com o [stylist] Daniel Ueda para a revista Gudi, numa época em que eu estava fascinado por água. Queria passar a ideia de um corpo se movendo na direção da foto, então meu assistente passou o ensaio inteiro jogando baldes de água.
Quais trabalhos de moda foram marcantes?
Fiz um catálogo para a Urban Outfitters que foi muito interessante. Eles convidaram três fotógrafos para o mesmo catálogo, mas havia uma imposição: tinha que ser tudo fotografado em filme. Fiz um editorial para a extinta revista “KEY” que também foi bem bacana, com a top model Carol Trentini.
Carol Trentini para a revista “KEY” © Marcelo Gomes
Quais são os seus planos para o futuro?
Quero fotografar o Caetano Veloso. Quero ir para as Ilhas Faroé. Quero continuar lançando livros, pelo menos um por ano. E gostaria que no Brasil houvesse mais oportunidades para fotografar.
Quem são seus ídolos?
Comecei a trabalhar com o fotógrafo Mark Porthwick, cujo trabalho eu já gostava muito. Acho que os três anos que passei com ele contribuíram muito para a minha formação artística e crítica. Também gosto de Paolo Roversi, do trabalho da dupla Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, Viviane Sasse, Wolfgang Tillmans.
As modelos Raquel Zimmermann, Bruna Tenório e Lara Stone © Marcelo Gomes
Prefere trabalhar com modelos profissionais ou mulheres da vida real?
É mais difícil trabalhar com as modelos. Sempre prefiro trabalhar com mulheres reais. A Raquel [Zimmermann] é uma mulher de verdade. Procuro fotografar seres humanos, que tenham algo interessante, que já tenham levado um pé na bunda do namorado. Entre as meninas novas, gosto da Carol Pantoliano.
O livro “Taciturn Heart” (Hassla Books) entra em venda na Surface 2 Air de São Paulo a partir de 10 de fevereiro.
Surface To Air
ONDE Al. Lorena, 1989 – Jardins – São Paulo (veja o mapa)
Site oficial do fotógrafo: marcelogomesphoto.com