Fernanda Yamamoto e o namorado, o arquiteto Rodrigo Ohtake, no Teshima Art Museum ©Fernanda Yamamoto
Dona de um trabalho autoral marcado por experimentações na construção, forma e sentido, a estilista Fernanda Yamamoto é a entrevistada da semana da nossa seção FFW Inspirações, que desvenda o universo criativo de expoentes do mundo da moda e das artes.
Confira o relato da Fernanda nas palavras da própria — e inspire-se!
“Eu me apaixonei recentemente por um trabalho de uma artista japonesa chamada Rei Nato, que descobri em uma viagem ao Japão em março. Estive em uma ilha chamada Teshima cuja atração principal é um museu recém aberto (final de 2010), o Teshima Art Museum. O museu possui uma única obra de arte, feita em conjunto pela artista Rei Nato e o arquiteto Ryue Nishizawa.
Vista aérea do Teshima Art Museum ©Reprodução
É uma experiência que começa quando você aluga uma bicicleta para chegar ao museu. Ele fica em uma colina no meio do nada e é um espaço de concreto em formato de gota de água. Para entrar no pavilhão (a gota d’água) você tem que tirar seus sapatos, vestir uma sapatilha, e inclusive é proibido falar quando se entra nele.
Lá você vê um enorme vazio, mas percebe que há pequenas gotas d’água brotando do próprio chão de concreto. E essas gotas começam a se mover e a se juntar com outras gotas, formando gotas maiores que se movem por todo pavilhão. E você fica contemplando esses movimentos suaves e seguindo as gotas que se movem pela obra.
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Além disso, há um enorme vão oval na parte superior do pavilhão, pelo qual entra luz (chuva e neve também) e você percebe que há uma fitinha que se move conforme a disposição do vento. E você fica lá contemplando a água, luz, vento e sons da natureza.
Depois você percebe que o piso não é exatamente reto (ele foi milimetricamente projeto para ter inclinações quase que imperceptíveis), o que faz a água se mover. Também percebe que a água “brota” do chão por capilaridade. E que é uma obra que se transforma de acordo com o clima e a estação do ano.
É incrível porque foge de todos os conceitos de museus tradicionais com os quais estamos acostumados. Trabalha o princípio de vazio, e a obra de arte na verdade é sensorial, uma experiência propiciada por natureza, luz, água e ar.
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O que eu acho inspirador é que a artista trabalha o impacto da arte nas pessoas. Há interação das pessoas com “a arte”. É um trabalho muito sensorial, pode-se dizer até que espiritual. De uma simplicidade aparente, mas extremamente forte e impactante.
Isso está me influenciando tanto no lado pessoal quanto no profissional. Pela delicadeza do trabalho, por aguçar a sensibilidade, o olhar e percepção do que é arte, da relação que temos com a arte e natureza nesse mundo louco que vivemos. É difícil descrever o lugar, acho que só vivenciar a obra de arte e a experiência é um momento único e insubstituível. Mas com certeza recomendo ir até Teshima no inverno”.
+ Veja na galeria mais imagens do ambiente externo do Teshima Art Museum, em cliques enviados para o FFW pela própria Fernanda: