Liu Wen ©Reprodução
Simultaneamente à transformação econômica e social por que tem passado a China nos últimos 10 anos, os padrões estéticos ocidentais, tão fixados à beleza caucasiana, sofreram um bem-vindo alargamento. Se na década de 1990 as supermodelos se dividiam entre loiras e morenas de passaporte norte-americano ou britânico, nos últimos anos a moda tem sido palco para belas brasileiras, russas, sul-africanas, indianas e chinesas mostrarem seu potencial. Liu Wen, a primeira asiática a conquistar um contrato com a gigante dos cosméticos Estée Lauder e a primeira chinesa a desfilar para a Victoria’s Secret, é a prova dos novos rumos pelos quais tem caminhado o mercado internacional.
Liu Wen ao lado de Joan Smalls e Constance Jablonski em anúncio da Estée Lauder ©Reprodução
Apenas no mês de março, Liu foi destaque em duas grandes publicações ligadas à moda: a “T”, revista do jornal “The New York Times”, acompanhou a modelo em uma viagem a sua cidade natal, Yongzhou, localizada na província de Hunan, e o “Style” anunciou a chinesa como a top preferida dos leitores do site durante a temporada de Outono/Inverno 2012/13, com 25.375 votos, à frente de Joan Smalls e Candice Swanepoel. Liu, que se mudou para Pequim aos 18 anos, em 2006, e no ano seguinte estabeleceu-se em Nova York, sem falar uma palavra de inglês, já desfilou para os nomes mais importantes da indústria, como Chanel, Christian Dior, Jean Paul Gaultier, Burberry Prorsum, Hermès e Stella McCartney, além de já ter estrelado campanhas da Dolce & Gabbana, Calvin Klein, Bergdorf Goodman e, claro, Estée Lauder. Em setembro de 2010, Liu inclusive abriu o desfile de Primavera/Verão 2011 do estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch na semana de moda de Nova York.
Nos desfiles da Victoria’s Secret e da Balenciaga e Christian Dior de Inverno 2012/13©Reprodução
Nascida em 1988, Liu é filha única (consequência da política de natalidade chinesa) de um casal de trabalhadores. Segundo a modelo, em Yongzhou, cidade que ironicamente também é a terra natal de Mao Tsé-Tung, as únicas referências conhecidas da cultura ocidental eram o McDonald’s e o Kentucky Fried Chicken. O contato com o exterior vinha por meio de novelas sul-coreanas e a moda era algo completamente desconhecido. A trajetória profissional de Liu começou quando, após vencer um concurso de modelos na província de Hunan e mudar-se para Pequim, foi “descoberta” por Joseph Carle, então diretor criativo internacional da “Marie Claire”. Logo se seguiram inúmeros desfiles e outros tantos editoriais para edições chinesas de publicações como a “Vogue”, “FHM” e “Cosmopolitan”, além da própria “Marie Claire”. No início de 2008, Liu debutou nas passarelas internacionais e de imediato já desfilou para Chanel, Hermès, Kenzo, Jean Paul Gaultier e Maison Martin Margiela.
Liu Wen com os estudantes da escola “Yongzhou No.3”, onde a modelo fez ensino fundamental ©Angelo Penneta/Reprodução
A curta biografia de Liu é um reflexo da própria China e da flexibilidade estética do novo século. As mudanças certamente vieram para o bem, já que a ampliação dos padrões de beleza consagram uma quantidade muito maior de mulheres e, não só facilitam as vendas em países emergentes, mas colocam no eixo da moda pessoas que até poucos anos atrás viviam sob o rótulo da exoticidade.