Ivana Neves, Marina Silva e Ronaldo Fraga ©Gustavo Scatena/Agência Fotosite
Mais do que um estilista competente, Ronaldo Fraga é um homem inspirador. Da mesma forma, em sua esfera e até mesmo além dela, Marina Silva é uma mulher ímpar, representante de um sem número de brasileiros que nasceram e cresceram em extrema pobreza, mas venceram a partir de seu próprio esforço.
Marina, que é natural do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, esteve no SPFW nesta terça-feira (19.03), assistiu ao desfile da coleção de Verão 2013/14 do estilista mineiro, intitulada “F.U.T.E.B.O.L”, e conversou rapidamente com a imprensa sobre estilo pessoal, moda e sustentabilidade.
Você tem algum interesse ou já teve alguma ligação com moda?
No teatro amador, eu era figurinista do grupo. Então este mundo não me é estranho.
Marina Silva e Ronaldo Fraga ©Gustavo Scatena/Agência Fotosite
É a sua primeira vez no SPFW?
Em 2011, eu vim ao desfile do Ronaldo [Fraga], e agora de novo. Ele é uma pessoa que tem um trabalho social muito interessante com comunidades, é uma pessoa que procura mostrar a diversidade e a beleza do Brasil para o mundo e para nós mesmos, brasileiros, então é a valorização do trabalho que consegue juntar arte com o compromisso de um mundo e de um Brasil melhor, que seja diverso e sustentável.
Eu sou uma pessoa que tem um estilo atemporal, mas acho que o Ronaldo conversa com esse imaginário da diversidade brasileira e consegue fazer com que o universal, o belo, se expresse na singularidade das nossas muitas belezas.
O que você pode falar sobre o seu estilo?
“Quando eu voltei pro meu sertão, eu quis zombar de Januário com meu fole prateado”, aquela música linda [“Respeita Januário”] de Luiz Gonzaga que me ensinou muito para minha vida. Eu sai do meu seringal e, depois, ao entrar em contato com a escola, com este outro mundo letrado, eu aprendi que eu nunca deveria “zombar de Januário”, ou seja, das minhas raízes mais profundas, então a forma como eu me visto, a forma como eu sou, guarda muito esse respeito, e que o Ronaldo evoca muito em seu trabalho e em seu compromisso.
Eu fiquei muito emocionada aqui vendo os sapatos [do desfile] porque o pai do Ronaldo era de um time de várzea, o que tem tudo a ver com o meu universo, e que eles recebiam as chuteiras, muitas vezes grandes demais, e tinham que botar algodão ou jornal. Ou então eram pequenas e tinham que cortar o bico do sapato. Você pode ver que, como diz o [Jean-Paul] Sartre: “Nós não somos o resultado do que o passado fez conosco, nós somos o resultado e o produto do que a gente faz com o passado”, e eu fico emocionada em ver como um passado sofrido é transformado em beleza, em criatividade, sem perder o compromisso com o que é justiça, com o que é a defesa do meio ambiente e, enfim, a busca de um mundo melhor.
Você acha que o Ronaldo Fraga é uma exceção ou a indústria da moda está caminhando para esse “compromisso”?
Cada vez mais, [a indústria] está caminhando para buscar essa coisa de sem aprisionamentos ideológicos, ter vínculo com as nossas muitas realidades.
Você vai assistir mais algum desfile?
Não, agora eu vou correndo para o aeroporto.