O diretor criativo britânico Judy Blame morreu aos 58 anos. Judy era diretor de arte, stylist, designer de acessórios, uma das pessoas mais criativas e livres da moda contemporânea. Judy veio ao Brasil diversas vezes, entre elas para participar da primeira edição do seminário Pense Moda e para fazer o styling do desfile de Reinaldo Lourenço no SPFW.
Blame surgiu em Londres nos anos 80, em meio a cena clubber, e sua estética original e DIY chamaram a atenção desde o início. Ele mesmo criava seus acessórios com objetos como correntes, alfinetes, botões, ossos, abridor de garrafa, corda e o que mais cruzava o seu olhar, em peças cheias de volumes e texturas. “O próprio Judy é o que torna seu trabalho tão especial”, diz Marc Jacobs ao Financial Times. “Ele faz as coisas mais extraordinárias a partir de coisas comuns, botões e outras peças”.
Ao longo de sua carreira, Judy trabalhou como consultor para diversos estilistas, como John Galliano, Marc Jacobs e Rei Kawakubo. Sua presença na música também foi importante. Ele criou a imagem para o álbum de estréia do Massive Attack, Blue Lines, em 1991, e fez o styling de Bjork em seu primeiro trabalho solo, Debut, além de também ter trabalhado para artistas como Boy George, Kylie Minogue e Neneh Cherry. Foi o clipe Manchild, de Cherry, que fez Riccardo Tisci se apaixonar pelo sportswear. Judy não apenas faz a direção de arte como também aparece no video.
Seu trabalho com joias continuou ao longo de seus 35 anos de carreira e virou sua assinatura, sua marca registrada. Ele era sempre visto usando seus próprios acessórios e muitos ensaios de moda também exibiam suas peças statement.
No ano passado, ele ganhou sua primeira exibição solo no ICA (Institute of Contemporary Art), em Londres. A mostra Judy Blame: Never Again reuniu joias, artes, colagens, roupas, sketchbooks, fotos de moda em uma chance única de mergulhar no trabalho desse artista.
Judy nasceu em Devon e saiu de casa aos 17 anos, direto para Londres. “Eu estava preso numa cidade do interior, olhando para uma foto de Jordan”, diz sobre a modelo britânica que foi uma das figuras femininas fortes na cena punk dos anos 70. “Eu falei: desculpa, mãe. Te vejo em breve. Não está acontecendo nada pra mim aqui”.
Um dos fatos que chamam a atenção em se tratando de Judy Blame é que ele nunca teve interesses financeiros. Em muitos momentos, ele poderia ter ido para o mainstream, mas sempre foi apaixonado pela cultura underground. “Eu nunca liguei se o meu nome aparecia ou não. Eu fico feliz em ter um trabalho e fazer parte de um ambiente criativo”, disse na entrevista ao FT. “Até gostaria de ser mais motivado pelo dinheiro, mas aí, isso me tornaria igual a qualquer outra pessoa. Gosto de acordar todo dia para fazer algo novo”. Uma de suas máximas era: “se você não tem, então faça!”. Foi o que ele fez durante toda a sua vida: criando o que não existia e transformando o ordinário em extraordinário.