A editora Isabella Blow ©Reprodução
Antes de Lady Gaga e Anna Dello Russo, houve Isabella Blow (1958 – 2007). Ícone mais excêntrico da moda e conhecida por seus chapéus arrebatadores, Blow é tema de uma mostra organizada por Daphne Guinness, em parceria com a escola Saint Martins e a Isabella Blow Foundation.
Cerca de 100 peças serão exibidas, todas pertencentes a Guinness, que comprou o guarda-roupa inteiro de Blow em um leilão após sua morte. Grande parte do acervo é composto por peças de Alexander McQueen e do chapeleiro Philip Treacy, que além de confidente, também está por trás de seus chapéus. Isabella descobriu os dois designers, os abrigou no início da carreira e ainda fez a ponte nas negociações entre o Grupo Gucci e McQueen. Ela ainda lançou as modelos Stella Tennant e Sophie Dahl, a quem chamava de uma “boneca inflável com cérebro”.
Respeitada e temida, Blow era considerada genial justamente por ser ousada e corajosa, como uma Diana Vreeland dos anos 1990. Suas assistentes tremiam quando ouviam seus passos no corredor e a primeira coisa que faziam era retocar o batom. “Se você não está de batom, eu não posso conversar com você”, ela dizia. Mas sua vida pessoal teve caminhos obscuros, que ela tentava esconder por trás de seu estilo exuberante e divertido.
Só para se ter uma ideia, entre os momentos mais difíceis, está a morte do irmão mais velho por afogamento quando era criança; o abandono da mãe, que segundo a imprensa britânica, ficou tão devastada com a perda, que apenas apertou a mão de suas filhas, disse tchau e foi embora. Ela também foi deserdada pelo pai, dono de uma fortuna de milhões de libras, e descobriu que seu marido, o marchand Detmar Blow, tinha uma amante. Para se vingar, foi para Veneza, onde teve um caso com um gondoleiro que acabou por roubar o pouco que ela ainda tinha.
Mas vamos às coisas boas. Em 1981, a britânica Isabella foi contratada como assistente de Anna Wintour na “Vogue”. Enquanto morava em Nova York, ficou amiga de Andy Warhol e Basquiat. Ao voltar para Londres, em 1984, trabalhou com Michael Roberts, na época diretor de moda da “Tatler” e do caderno “Style”, do “Sunday Times”. Já no final dessa década, passa a usar as criações de Treacy e aí começa sua história de amor pública com a moda. Nasce uma lenda.
Participação de Isabella Blow como Antonia Cook em cena do filme “A Vida Marinha com Steve Zissou”, de Wes Anderson ©Reprodução
Sempre com humor, ela tinha uma resposta pronta sempre quando era perguntada sobre sua loucura por chapéus: “Uso para manter todos afastados de mim. Eles dizem, oh, posso beijá-la? Eu digo, não, muito obrigada. É para isso que uso o chapéu. Não quero ser beijada por qualquer um. Quero ser beijada pelas pessoas que amo”.
Blow foi diretora da “Tatler” e prestou consultoria para marcas como Lacoste e Swarovski. Em 2002 foi tema da exposição “When Philip met Isabella”, com sketches e fotografias suas usando as peças de Treacy. Em 2004, aparece no filme “The Life Aquatic With Steve Zissou” , de Wes Anderson, devidamente vestida, claro.
Mas por trás dos trabalhos, do convívio com as estrelas da moda e da participação em projetos mais que especiais, ela passava por uma forte depressão. Nenhuma revista apostava nela o suficiente para contrata-la como editora. “Parece que todo mundo ganha contratos enquanto eu ganho apenas vestidos de graça”, ela disse. Cathy Horyn escreveu no “The New York Times”: “Blow não conseguia encontrar uma casa no mundo que ela própria influenciara”. Isabella também sofria com sua infertilidade e já havia tentado fertilizações in vitro por oito vezes, sem sucesso. “Somos como um par de frutos exóticos que não podem procriar quando estão juntos”, disse.
Já no final de sua vida, foi diagnosticada com câncer do ovário. Em 2006 veio a primeira tentativa de suicídio, saltando do Hammersmith Flyover. Em 2007, saiu de uma festa dizendo aos amigos que ia fazer compras, mas foi encontrada desmaiada por conta de ingestão de veneno (seu avô e seu sogro também terminaram suas vidas dessa maneira).
Blow dava a impressão de ser superconfiante, mas por trás de seus chapéus de dente de crocodilo, naves espaciais e lagostas, era insegura e se sentia sozinha e abandonada.
A moda não deu conta de absorver o espírito livre e desafiador de Isabella Blow. Agora, ao menos parte dessa história será revista e o que vai permanecer na mente de todos são as lembranças do estilo incorrigível de uma mulher verdadeiramente original e sem medo de viver.
Isabella Blow: Fashion Galore! @ Sommerset House
De 20 de novembro de 2013 a 14 de março de 2014
Londres