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    “Muitos não vingam porque a grande coisa é você postar na sua diferença”, diz Camila Coutinho
    “Muitos não vingam porque a grande coisa é você postar na sua diferença”, diz Camila Coutinho
    POR Camila Yahn

    Essa entrevista poderia ganhar o título do novo programa de Dave Letterman, “Meu próximo convidado dispensa apresentação”. Todos conhecem a história de Camila Coutinho, que com menos de 20 anos criou o blog Garotas Estúpidas e hoje, 10 anos mais tarde, lança seu primeiro livro, Estúpida, Eu?, pela editora Intrínseca (compre aqui). De fato, quem acompanha Camila pelas redes (e fora delas) sabe que de estúpida ela não tem nada. Mas nem só de esperteza alguém sobrevive no mercado e ela reúne muitas outras qualidades e talentos que trazem longevidade ao seu trabalho em um ambiente tão competitivo, instável e efêmero como é o digital. Depois de muitas combinações pelo whatsapp, nós conseguimos “nos encontrar” por telefone – ela sempre animada e cheia de ideias.

    Abaixo, você pode ler a transcrição da nossa conversa. Se você tem preconceito com blogueiras, vai rever seu pensamento. Se você nunca ouviu falar dela, vai gostar de conhecer. Se você já tem simpatia, vai ter muito mais. Se você gosta de Instagram, vai aprender algo. Agora, se é do fã clube, só espero que tenha alguma informação nova pra você aqui nessa leitura!

    Você lançou seu primeiro livro recentemente, com noites de autógrafos em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Você acompanha informações sobre a venda?

    Por opção, escolhi não acompanhar números agora porque quero trabalhar sem ansiedade e sentindo o feedback. Vou ver os números mais pra frente, mas o livro já entrou em algumas listas dos mais vendidos.

     E qual o feedback você tem recebido?

    O melhor possível, um sonho. Desde meninas de 14 anos até homens de 50 anos que não tinham a menor ideia de quem eu era. Era esse meu objetivo. Eu queria uma linguagem fácil, mas que expandisse o meu público. Vejo ele circulando muito mais porque está ao lado de livros de CEOs na lista. E poder inspirar meninas novas além do consumo e do estilo é muito bom.

    Quais foram as maiores dificuldades que você teve ao longo do processo?

    Julgava muito o que estava fazendo porque não queria que fosse um livro egotrip. “Meu Deus, eu escrevo na internet há mais de 10 anos, mas isso vai ser impresso”. E assim bloqueei o criativo. Eu guardava quatro dias na minha agenda entre viagens e compromissos só para me dedicar ao livro e escrever, mas eu sentava e não vinha nada… Mas o livro foi se transformando com o tempo e acabou ficando do jeito certo.livro-camila-coutinho

     

    Você começou fazendo o blog no seu quarto e hoje tem fãs pelo país todo, é agenciada fora do Brasil, cria novos negócios para empresas e acaba de escrever um livro… O que mais tem vontade de fazer?

    Olha, eu sou muito pé no chão. Às vezes não tenho a noção exata da importância ou da influência que eu tenho pras pessoas. E com essa coisa do livro, de ouvir que as pessoas falam que eu ajudei com isso e aquilo, percebi que posso ir muito além da foto e descobri que a comunicação é o que eu mais amo fazer. Palestras e talks têm me encantando porque a palavra ao vivo tem muita força. Comecei até a fazer uma aula com um speaker training (Paulo Ferreira) porque percebi que eu domino o assunto, mas às vezes fico nervosa. A principal meta com ele é montar um talk sobre o tema do livro. Vamos ver no que dá, mas sinto que o livro simboliza um novo momento de carreira pra mim e vi que posso planejar minha carreira a prazos mais longos.

    Olhando pra trás, você algum dia pensou que chegaria aqui hoje?

    E eu nem imaginava que isso aconteceria e nem era o objetivo. Eu queria era ser estilista e desenhar estampa.

    Quando você se deu conta que o blog viraria seu trabalho fixo?

    Um ano e meio depois eu já via um potencial e foi quando percebi que poderia virar um modelo de negócio. E pouco tempo depois disso eu recebi meu primeiro anúncio.

    Quem eram seus primeiros leitores?

    Eram duas amigas e mais uns 80 viewers, uma galera que achava o blog em buscas no Google. A primeira leitora mais conhecida que eu tive foi a Bela Frugiuele, da Triya.

    O blog é a sua voz e o seu olhar. Como você escolhe as pessoas para escrever no seu lugar?

    É muito difícil. Na verdade por enquanto somos apenas eu e Andressa no conteúdo, mas vou contratar mais uma pessoa. Estou sondando até leitores mais próximos. Minha audiência é muito inteligente e troco muita figurinha com eles. O formato do blog vai mudar, vai ficar mais maduro como conteúdo. Vou deixar a parte de lançamentos no Instagram e trazer uma coisa mais de texto e opinião no blog com textos mais densos sobre dinheiro, carreira, etc. Não vejo mais porque o blog tem que ser alimentado todo dia.

    O que você faz no seu trabalho que as pessoas ficariam surpresas em saber?

    Fico por dentro de tudo. Vejo planilha, acompanho meta de venda, vejo faturamento, identifico os períodos em que podemos vender mais anúncios. E também ser chata – às vezes sou chata mesmo.

    O que o Garotas Estúpidas tem que se tornou tão popular?

    Tinha essa onda do girl next door e era a primeira leva da internet das pessoas quererem muito ouvir uma opinião pessoal. O high low, o bom humor, as piadas, um jeito de ser leve.

    Qual tipo de conteúdo é o mais popular? O que os seguidores mais gostam de ver?

    No perfil @camilacoutinho, é quando eu faço selfie, foto de biquíni… mas é uma coisa que vende em qualquer veículo e claro que não me apoio só nelas. Posto muitas coisas que sei que não terão tanta audiência, mas que quero falar como posicionamento. Já no @garotasestupidas, é Kim Kardashian e lançamento de maquiagem.

    O que você gostaria de saber antes de se tornar uma influenciadora?

    Nada, acho que tiraria a naturalidade, o desafio da coisa. A maneira orgânica e natural foi a melhor possível pra mim. Vejo as meninas começando hoje com uma fórmula pronta.

    E o que é essa fórmula?

    Cria um insta, contrata um fotógrafo, faz make, posta, contrata alguém pra fazer comercial, vai no jantar x e posta uma foto e por aí vai. Um monte de gente pode fazer, mas muitos não vingam porque a grande coisa é você postar na sua originalidade, na sua diferença. Aí vem a MC Loma e você percebe que ela tem uma estrela, é comunicadora, engaçada e está aí bombando com milhões de seguidores.

     Você gosta do termo influenciadora?

    Acho que ele se encaixa bem porque todo mundo influencia alguém. Todo mundo que tá na rede com perfil aberto e ativo está influenciando alguém. Mas eu se pudesse me definir, me vejo mais como comunicadora.

     Como você lida com os conteúdos pagos?

    Temos parcerias mais curtas ou a longos prazos. Já virou uma coisa natural, hoje não tem diferença entre propaganda e conteúdo. A propaganda está inserida em um momento em que o leitor já está prestando atenção. É sobre contar histórias. Se você contar histórias que as pessoas querem escutar, ninguém reclama. No meu dia a dia temos diárias de fotos pra vários tipos de entrega, mas o meu desafio é fazer essa entrega de uma maneira diferente.

    Me dá um exemplo.

    Tem a Hope, um trabalho a longo prazo e muito legal. Me associei a marca deles de outra forma e não só com look do dia. Pensamos em uma campanha digital e que envolva lingerie. Fizemos fotos e vídeos e postamos de uma vez. Depois fizemos as coisas mais básicas de look e eu usei peças da marca em todas as noites de autógrafo do livro. E quero cada vez mais pensar nos consteúdos e entregas de maneira individual.

    O que faz uma boa parceria comercial?

    As marcas têm mania de achar que quando nos contratam vai zerar o produto da prateleira na hora. Mas tem a ver com os momentos da marca e do influenciador e se o influenciador tem o público que ela quer conquistar. O cliente precisa observar quem tem a ver com a marca dele. E não pode prender muito o influenciador.

    Você é agenciada pela The Society, de Nova York. Como está o seu trabalho com eles?

    Eu gosto bastante, as meninas são muito boas. Só que com essa história do livro fiquei mais aqui no Brasil, que é o meu maior mercado. Mas o mercado americano é muito importante, claro. A ideia é ir pra NYFW em setembro e fazer umas visitas a NY pra retomar o trabalho.

    Quem você admira?

    Ela já deve estar cansada desse clipping, mas é a Costanza Pascolato. Acho ela maravilhosa em mil sentidos. Simples, educada, sempre atenta a tudo e aos movimentos novos.

     Você tem algum arrependimento fashion?

    Usava lente azul quando tinha 13 anos pra ir à escola. Era horrível!

    Quais conselhos pode dar para quem está começando?

    Primeiro, começar. Ficar planejando muito e não fazer não leva a nada. Dá uma olhada ao redor, veja quem está fazendo algo parecido e pesquise. E, muito importante, não fique tão preso pensando no que os outros vão pensar. Errou, errou, faz de novo. Procure o que você faz de original e não ache que você precisa de uma mega estrutura para começar.

    Qual o melhor conselho que você já recebeu?

    Não sei se foi um conselho, mas uma atitude de você ter consciência de suas coisas legais, mas não achar que você é mais importante que ninguém e que já chegou ao topo. De nunca achar que você está isolada lá em cima e que ninguém vai te tirar de lá.

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