A Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi ©Foto Henrique Luz/Divulgação
O Sesc Pompeia recebeu um encontro que fez lotar os 700 lugares do auditório: o curador Hans Ulrich Obrist, o arquiteto Rem Koolhaas e a designer Petra Blaisse falaram para uma plateia jovem formada em sua maioria por estudantes e recém formados em arte e arquitetura. Algumas figuras importantes também prestigiaram o evento, como a artista Beatriz Milhazes, a galerista Maria Baró, o curador do SP Design Waldick Jatobá, e Danilo Miranda, diretor do Sesc SP.
O encontro ocorreu para lançar o projeto Casa de Vidro, que vai ocupar com arte a casa construída por Lina Bo Bardi (1914 – 1992), em São Paulo onde ela viveu e morreu. Grandes artistas nacionais e internacionais já estão confirmados para o evento, entre eles Cildo Meirelles, Dominique Gonzalez-Foerster (que já veio pra 27ª Bienal), Ernesto Neto, Gilbert & George, Paulo Mendes da Rocha, o escritório de arquitetura japonês Sanaa e ainda Petra e Koolhaas, que junto com Hans deram a largada no projeto.
No Sesc, Obrist, um dos mais importantes curadores de arte do mundo, fez seu papel e agradeceu aos parceiros e introduziu as palestras. Mas, mesmo quando fala de arte, seu discurso soa robótico e sem emoção.
A holandesa Petra Laisse ©Reprodução
Apesar de muita gente ter ido até lá para ouvir Koolhaas, foi Petra Laisse quem roubou a cena. Essa designer holandesa trabalha com interiores e exteriores e é daí que vem o nome de seu estúdio, Inside Outside. Através de uma série de projetos fascinantes, ela faz uma releitura para cada espaço, de museus e grandes prédios ao deserto do Quatar. Sua interferência nos espaços acontece através de efeitos lindos criados por luz natural, texturas e cores. É incrível ver o que ela faz com uma simples entrada de luz ou com um arranjo de plantas. Entre os seus projetos, está o paisagismo do Swarovski Building, na Áustria; os efeitos entre claro e escuro no Mercedes-Benz Museum, na Alemanha; a parte acústica e de iluminação natural da Casa da Música, na Cidade do Porto, em Portugal; consultoria para acabamentos de interiores da loja da Prada, em Los Angeles; e ainda a acústica e iluminação do Mick Jagger Centre, em Londres. Mas não deixe de visitar o site da Inside Outside, que traz informações completas sobre cada obra.
Espaço da Casa da Música projetado por Petra ©Reprodução
Seu escritório conta com diversas pessoas de nacionalidades, culturas e religiões diferentes. A celebração da diversidade começa aí e se expande na luz, nas cores, nos elementos e nas texturas, criando ambientes nada óbvios e muito inspiradores.
REM KOOLHAAS E A ARQUITETURA GENEROSA
A palestra de Rem Koolhaas foi interessante, apesar de sua frieza e dureza. Em primeiro lugar, ele deixou de lado o trabalho de design e arquitetura desenvolvido pelo seu escritório Oma, para tratar de uma arquitetura “generosa”, que pensa no bem-estar social e estuda as mudanças sócio-econômicas de cada região e como a arquitetura local é afetada por elas. “Gosto de criar ambientes com cor, som e luz de forma que as pessoas que convivem neles possam se sentir em seu melhor estado”, disse.
Quando era um adolescente, viu uma foto da Brasília de Niemeyer na capa da “Time” e ficou intrigado com o projeto. “Naquela época, eu não queria ser um arquiteto. Queria ser um arquiteto brasileiro”, brinca.
Mas o mesmo arquiteto que tanto o inspirou um dia é alvo de suas críticas em alguns de seus projetos, como o Cronocaos, que ficou exposto no New Museum, em Nova York. “O Brasil é um país que percebe seus arquitetos como heróis e eu não acho isso muito bom. Um herói não mostra suas fraquezas e todos nós temos fragilidades. Um herói também não olha para trás e, às vezes, nós precisamos rever o passado”.
Trailer do documentário “Rem Koolhaas: A Kind of Architect” (2008)
Ele passou por toda a sua vida, desde quando nasceu, numa Holanda destruída pela Guerra, até os dias atuais, em que tem buscado no interior das cidades fontes de inspiração.
Rem também faz uma crítica ao que o arquiteto se tornou hoje. “Antes o urbanismo servia para potencializar a infra-estrutura de cada cidade. Hoje ele apenas cria alguma ordem. O arquiteto hoje é um vendedor. Antes ele era um pensador, que estudava os assuntos com profundidade. Esse profissional de hoje não trabalha para o benefício da população”, diz. Sobre o Brasil, ele repete: “quero contribuir para que o Brasil reveja o heroísmo de seus arquitetos. Eles merecem o respeito, mas é essencial ser crítico com a arquitetura. Essa vai ser minha contribuição aqui”.
Todo o discurso de Koolhaas gira em torno do bem estar social, das grandes transformações e de como ser útil para a sociedade. E ele mostra fotos incríveis de áreas em que a arquitetura moderna faz um contraste enorme com áreas com infra-estrutura quase rural, mostrando a falta de planejamento, a exclusão e tratando a arquitetura como um gigante que vai comendo terra. “A economia tem um desinteresse nas cidades. Eu tento entender as cidades”.
Agora, além de pensar sobre as metrópoles, ele está interessado no interior. “Todo mundo fala que as pessoas querem sair do campo para as cidades, mas eu estou interessado em ver o que elas estão deixando para trás”.
Saiba mais:
Hans Ulrich Obrist é co-diretor da Serpentine Gallery, em Londres. Obrist já co-curou mais de 250 exposições desde a sua primeira, the Kitchen show (World Soup) em 1991-1994, em sua própria cozinha.
Petra Laisse é uma designer de interiores holandesa e dona do estúdio Inside Outside.
Rem Koolhaas, holandês, é um dos maiores arquitetos hoje em ação. Ele é sócio do escritório OMA e, recentemente criou o AMO, um estúdio de design e pesquisa. Seu escritório faz obras de todas as escalas, no mundo inteiro, da loja da Prada em Nova York à estatal de Tv na China.
A exposição na Casa de Vidro acontece de setembro de 2012 a janeiro de 2013