Por Rodolfo Vieira
Engana-se quem pensa que a expertise em modelagem e estamparia de Rita Comparato foi deixada para trás com o fim da Neon. Após lançar recentemente a Irrita, sua própria marca em parceria com Lia Camargo, a estilista volta ao mercado com um novo modelo de negócios – colaborativo – e em nova fase de sua carreira na moda.
Além de vender em multimarcas como a Choix, em São Paulo, a dupla abriu em janeiro com outras marcas a Loja 77, que vende além das peças da Irrita, as roupas com tecidos africanos da Okan, vestidos vintage japoneses da Voyage Vintage, os lindos básicos da Olímpia Olímpia e as plantas e acessórios da Da Horta. Na Irrita, estampas e grafismos coloridos junto uma modelagem bem pensada, continuam a dar o tom às criações de Comparato, que são usadas por artistas como Céu e Camila Pitanga.
No novo espaço, localizado em Pinheiros, Rita e Lia batem um papo com o FFW sobre os pilares e princípios que sustentam a grife, compartilham inspirações e conselhos para novos empreendedores e, é claro, explicam o motivo por trás do “não me Irrita!”.
Rita, conta o motivo por trás do nome da sua marca, “Irrita”.
O nome Irrita veio de uma brincadeira que eu faço com o meu nome faz muito tempo. É a senha de todas as minhas coisas: “não me irrita!”. Uma vez eu tive um problema com a Neon, o nome da marca não era nosso, mas sim da Santista [Têxtil] e até então, tínhamos vários nomes em mente e fizemos uma lista com mais de 80 nomes, mas todos acabavam sendo patenteados, inclusive “Neon” – um adesivo refletivo. Para essa marca nova, comecei a pensar em uma lista de nomes e nenhum rolava. Em conjunto com esse momento de vontade de criação, eu só pensava em “Irrita” e só vinha esse nome na minha cabeça. A Lia amou, várias pessoas amaram e outras pessoas falavam “mas você vai trocar esse nome, né?”, porque há um sentido pejorativo para algumas pessoas em razão do verbo “irritar”, mas foi um sucesso!
Além da modelagem e estamparia, quais os princípios que se destacam e diferenciam a Irrita?
Lia: Ela tem personalidade, elegância e charme. A marca tem um desafio de vestir diferentes corpos, um desafio muito trabalhado na modelagem, e várias mulheres poderiam ficar bem nas peças.
Rita: Conseguimos vestir diversos corpos em razão da análise que fiz vestindo várias pessoas. Trabalhamos com o P, M e G e no começo sentimos muito a diferença das medidas nos corpos, por exemplo: a mesma peça P em uma modelo de 1,80 e em outra pessoa distante desses padrões, ao experimentar a peça acaba sempre sendo necessário tirar 50cm e mesmo assim continuava longo. Então fizemos toda essa pesquisa de corpos: o P para quem é pequena e o G para quem é alta, não necessariamente gorda.
Como a modelagem das peças adequa-se ao corpo?
Há detalhes na amarração e detalhes na modelagem que fazem com que as roupas vistam bem, se adequem perfeitamente e, por isso, recebemos um feedback de que veste muitos corpos. A roupa da Irrita é certeira no provador, não tem como ficar ruim. E tem o conforto também, em conjunto com esse charme e elegância na simplicidade. Ela tem esses ganchos.
De onde vem a inspiração para suas coleções? Há algum estilista que especialmente te inspirou durante sua carreira?
Inspiração é algo que vem de dentro e vem de tudo, está associado a tudo o que eu vivo, com tudo o que os meus antepassados já viveram, com o que eu vivi, vejo e viajo. Minha inspiração nas viagens aparecem muito nas estampas em razão do impacto que as culturas diferentes têm em mim. Meu “muso” de modelagem e de estilo é o Pierre Cardin. É uma coisa que eu demorei pra entender, que com uma certa maturidade eu entendi o quão chique ele era. Você tinha essa impressão mais vulgar dele meio 60’s e só depois fui entender o quão rico é o universo dele. Gosto muito também de Kenzo, Hermès, eu vou mais nos clássicos. No nacional, gosto de todo mundo, reconheço um valor em cada um… Gosto bastante da Osklen, por exemplo.
Com quais materiais você gosta de trabalhar?
Seda, viscose e linho, com uma faixa de preço entre R$450 a R$1.800. As escolhas dos tecidos têm a ver com dar opções, então temos a seda, mas também conseguimos ter um produto mais acessível, como a viscose. A Irrita é essa combinação: temos como uma das características principais da marca o clima atemporal presente nas modelagens, que não é esse fast fashion, que toda hora precisa renovar seu guarda-roupa. São peças que você vai poder usar durante sua vida inteira.
Há alguma intenção em fazer parcerias com artistas em novas coleções, assim como acontecia na Neon?
Lia: A marca está num momento de consolidação. Lançamos em agosto, achamos que temos muito potencial até pelas estampas e por tudo que estamos criando. Com certeza tem espaço para futuras parcerias, mas nesse momento estamos em um processo de consolidação, de identidade da Irrita, até para que essas parcerias façam sentido no futuro.
O Brasil ainda encontra dificuldade para absorver marcas menores? E como o consumidor atual percebe esse nicho?
Lia: Eu diria que não é nem uma dificuldade de entender a moda, eu acho que há alguns desafios econômicos de você ser uma empresa pequena. A questão da escala… Você passa a competir em um mercado onde tem marcas de grande escala, onde há uma diferença de custo, então esse é um dos grandes desafios da Irrita desde a concepção da marca: como ser pequeno e ter um valor de ser pequeno, porque você compete com marcas muito grandes, que vão ter vantagens competitivas de custo enormes. Nós temos uma escala bem menor, então vivemos o desafio de como ser pequeno e ainda assim competitivo.
Rita: Quanto ao consumidor, eu acho que ele está carente disso, está se movendo e está entediado com as grandes marcas em shoppings. O crescimento de marcas pequenas tem muito a ver com isso, em razão dessa demanda e pelo cansaço e vontade do consumidor em adquirir algo mais direcionado.
Qual o conselho para a nova safra de empreendedores que cada vez mais decide abrir seu próprio negócio no Brasil?
Lia: O melhor conselho é ter parceiros. Eu e a Rita temos uma parceria que se complementa muito bem. De um lado, você tem a pessoa da moda e da criação, mas você tem a pessoa do outro lado da gestão, que é tão importante quanto. Então não basta ser muito criativo, ter peças lindas, se não tiver uma gestão bem feita.
Rita: E não ter uma gestão bem feita sem um produto bom! Abrir seu negócio significa que você precisa estar de olho em todas as fatias, porque às vezes a gente acha que é só ser estilista e ter uma vida legal e não é bem assim… Você faz, você vende, você tem que entender da produção, da roupa, quanto você gasta e compra, seu público, saber quando errou, tem que ser muito pilhado.
Rita, como você resume esse seu novo momento da Irrita de trabalhar em um espaço colaborativo?
Está sendo muito gostoso acordar e vir pro seu lugar, estar perto do público, algo que não acontece quando se trabalha em fábrica, porque você fica muito distante disso. Na Neon, nós não tínhamos uma loja própria, então esse é o meu primeiro exercício e está sendo muito receptivo ter esse contato direto, ver as pessoas vestirem sua roupa e te elogiarem. Porque o trabalho é muito árduo, então são coisas que fazem valer à pena.
Irrita @ Loja 77
Rua Padre de Carvalho, 77 – Pinheiros
À venda também online no site.