A estilista Phoebe Philo, diretora criativa da Céline ©Reprodução
“A mulher Céline não é exibida. Quero poder andar pelas ruas de Londres sem chamar a atenção de ninguém, mas com uma sensação gostosa de que as roupas que uso são as mais bem feitas possíveis e que vestem meu corpo com perfeição e conforto”.
Essa frase de Phoebe Philo serve tanto para descrever o estilo que imprimiu na marca Céline, da qual é diretora criativa, quanto uma boa amostra de sua personalidade. Apesar de ser uma das melhores estilistas de sua geração, ela é uma pessoa bastante reservada para alguém em sua posição.
Phoebe, 40, está por trás das melhores coleções das últimas estações e certamente fez o melhor desfile na temporada Inverno 2013/14, o que a coloca como a nº 1 da pirâmide fashion, dividindo espaço com os também aclamados Haider Ackermann e Riccardo Tisci, da Givenchy.
A modelo brasileira Chris Herrmann abre o desfile da Céline Inverno 2013/14; mais looks ao centro e à direita ©Imaxtree
Mas o que é que Phoebe tem? O que ela faz que torna seus desfiles ultra disputados e comentados? Simples: ela tem uma habilidade enorme para antecipar o que mulheres como ela querem vestir. Ou como a jornalista Sarah Mower escreveu no site da “Vogue”, “é o trabalho de uma mulher trabalhando para outras mulheres”.
Mais do que isso, Phoebe é uma “hit maker”. Desde que entrou na Céline, em 2008, a casa mais que dobrou o faturamento e passou de uma marca adormecida para a grife definitiva e com o poder de mudar a maré da moda conforme seu gosto.
A Céline foi comprada pelo grupo LVMH em 1996 por €412 milhões, mas era tida como um caso sem esperança, uma casa sem identidade.
A modelo Gemma Ward em dois looks da Chloé, com a bolsa Paddington ao centro ©Reprodução
Phoebe também vinha de uma história peculiar. Após se formar na Central Saint Martins, ela mudou-se para Paris para ser assistente de Stella McCartney na Chloé. Quando Stella saiu para abrir sua própria marca, Phoebe ficou no posto de diretora criativa. Fez um tremendo sucesso, foi eleita Melhor Estilista do Ano pelo British Fashion Council, e colocou no mercado peças que viraram febre e esgotaram nas lojas, como a bolsa Paddington, o jeans de cintura alta e a plataforma de madeira. Mas no auge de sua carreira, largou tudo para se dedicar à família. Ela não estava dando conta de ter residência fixa em Londres, onde estavam seu marido e primeiro filho, e trabalhar em Paris, sede da Chloé.
Se todo mundo ficou com o queixo caído, para Phoebe foi uma atitude natural. “Na verdade, foi uma decisão muito fácil de tomar”, disse em uma entrevista ao “Financial Times”.
Nos dois anos que tirou, teve seu segundo filho e decidiu que quando voltasse a trabalhar, seria nos seus termos. E então veio a proposta da Céline. “Na época a marca não significava muito para mim. Tinha outras ofertas, mas nenhuma aceitava que eu trabalhasse em Londres, o que era algo que eu não estava disposta a negociar”, diz.
A Céline permitiu. Após seis meses de negociação, negócio fechado, e a LVMH construiu um ateliê para ela em Londres. Outro ponto foi o fato de que a marca não tinha uma identidade forte. “Não importa o que ela foi, ela agora passaria a ser o que eu fizesse enquanto estivesse lá”.
Look da coleção Resort 2010 da Céline, a estreia de Phoebe Philo na marca ©Reprodução
Sua primeira coleção já colocou Philo de volta ao topo do mercado, mas com crescimento cuidadoso e sem pular etapas. “Com a Céline, andamos passo a passo, sem nenhuma estratégia gigante. Sou um ser humano, com limitações humanas e preciso respeitar isso”, disse a Vanessa Friedman no “Financial Times”.
O estilo de suas roupas é minimalista, mas com as já cultuadas inserções de cores e formas que são confortáveis e ao mesmo tempo reverenciam o corpo feminino. “Quero fazer algo que seja honesto, uma mistura do que quero vestir e como quero viver. Simples e real”.
As roupas são limpas, mas fortes. Os acessórios, impactantes, traduzem as necessidades da mulher contemporânea por algo que seja belo e sofisticado, mas que seja utilitário e tenha vida longa. Phoebe virou cult, assim como suas peças, e a cada temporada aumenta a legião de Philophiles, como são chamadas suas seguidoras.
Sandálias de pele no desfile da Céline Verão 2013 ©Imaxtree
“Minha relação com a moda é divertida e expressa muito como eu estou me sentindo”. Certamente o desfile de Verão 2013 é uma boa tradução para essa frase. Com seu terceiro filho ainda pequeno, Phoebe buscava conforto e passava por uma fase de laços familiares cada vez mais fortes. Dessa forma, ela humanizou a imagem da mulher ao colocar na passarela sandálias felpudas tipo Birkenstock para combinar com uma série de roupas oversized e soltas.
Philo leva as crianças à escola e está em casa novamente na hora de jantar e coloca-las na cama. Avessa ao Facebook, diz que não gosta de se comunicar com seus amigos dessa maneira e que não quer ter muito contato com pessoas que não sejam família ou amigos.
Na Céline, nunca contratou uma celebridade para ser embaixadora. Suas campanhas têm foco na roupa e no lifestyle da marca enquanto a fotografia de Juergen Teller segue sua estética minimalista. Sucesso anunciado para a menina que, aos quatro anos, brigava para se vestir sozinha e ainda adolescente ganhou sua primeira máquina de costura para fazer suas próprias roupas.
LINHA DO TEMPO
1973: Nasce na França de pais britânicos. Sua mãe é designer gráfica e ajudou a fazer a capa do álbum “Aladdin Sane”, de David Bowie
1993: Entra na Central Saint Martins
1997: Muda-se para Paris com Stella McCartney para ser sua assistente na Chloé
2001: Stella sai da Chloé e Phoebe torna-se diretora criativa da marca
A top Eugenia Volodina com o jeans de cintura alta da coleção de Spring 2004 ©Reprodução
2003: Mostra um jeans de cintura alta que vira hit e esgota nas lojas logo no primeiro dia (segundo o “Financial Times”)
2004: Casa-se com o galerista Max Wigram e tem sua primeira filha, Maya
2005: As plataformas de madeira da coleção de Verão 2006 viram mania entre as jovens fashionistas
2006: No auge do sucesso, deixa a Chloé e a moda para se dedicar à família e retorna para Londres
2008: Aceita a proposta da Céline para ser diretora criativa da marca
2010: Ganha pela segunda vez o prêmio de Melhor Estilista do Ano pelo BFC
Fotografada em seu ateliê em Londres ©Reprodução
2011: É premiada Designer Internacional do Ano pelo CFDA
2011: A Céline anuncia que vai pular a temporada de Inverno 2012, por conta da terceira gestação de Phoebe; a coleção é apresentada para uma quantidade pequena de jornalistas
2012: A revista “Vogue” americana a coloca na lista das pessoas mais influentes da moda com menos de 45 anos
2013: A Céline faz o melhor desfile da temporada e posiciona Phoebe Philo como a número um da moda internacional