Por Lucas Assunção e Augusto Mariotti
No ano em que a Gucci completa um século, Alessandro Michele faz uma retomada histórica sobre todo o passado da label e sua importância no presente e futuro da moda (se depender dele) com a coleção Aria. A marca, que é a maior do grupo Kering, vinha sofrendo duras quedas de vendas nos últimos meses, e ensaia uma recuperação histórica com Gucci Aria: o Inverno 21 da marca, que conta com uma parte da coleção assinada com a Balenciaga.
REFERÊNCIAS À HISTÓRIA DA MARCA
Logo de cara, o primeiro look, um terno bordô em veludo sobre camisa azul já dá uma pista do que virá. A imagem faz referência a uma criação de Tom Ford para o inverno 96 da Gucci. Michele se disse obcecado pela fase do americano na Gucci nos anos 90. Vemos também uma série de elementos que remontam direto a história e o coeur da marca: a estampa Savoy Club em referências ao Hotel Savoy, onde Guccio Gucci trabalhava antes de fundar a label; as peças de equitação e hipismo, que relembra o início e criação da Gucci e o resgate das clássicas bolsas, entre elas a Bamboo Bag que ganha novas versões em tamanhos menores e alça com chicote. Destaque também para detalhes como os corações em cristais e o coelho (renascimento?) carregado por algumas modelos.
BALENCIAGA HACKEADA
O troca troca com a Balenciaga traz novos ares para a Gucci, através dos volumes e shapes exagerados, largos, quadrados e mais ousados, que são marca registrada da maison e que Demna Gvasalia vem reinventando desde que assumiu a direção criativa. Alessandro se refere não como uma colaboração, mas um hackeamento das primeiras coleções de Demna pra marca pelas quais ele é apaixonado. Ele então retrabalha essas formas e silhuetas cobrindo-as por logos e o monogramas da Gucci.
alguns dos looks da collab onde michele trabalhou o monograma da gucci sobre silhuetas da balenciaga
Sexo e Fetiche
Ao contrário da fase sexy de Tom Ford, que explorava mais o nu e o corpo, Michele escolhe o caminho do fetiche e do bondage. As referências do hipismo e da equitação se fundem com a estética fetichista S&M, com ares mais edgy e com direito a chicotes e harness com a ferragem do Horsebit que adornam os modelos ao longo da passarela.
Surrealismo e Escapismo
A fotógrafa e diretora italiana Floria Sigismondi é quem assina a direção do filme. Ela, que tem um trabalho bastante surrealista e já criou para Marilyn Manson e David Bowie. Daí se entende o momento final do desfile em que as modelos saem desse mundo espetaculoso da passarela e encontram um campo aberto, cheio de vegetação, onde podem se abraçar e beijar, voar e viver um momento surreal. Seria essa a sensação e vontade de viver que estamos esperando quando essa pandemia passar?
TRILHA SONORA
Entre hits do hip-hop como Gucci Gang, Gucci Green Suit e Gucci Flip Flops, a marca reitera que ela é parte da história da moda, mas também da cultura pop atual, sendo referenciada constantemente como um signo de luxo e status. A trilha vai de encontro com a Gucci de agora, mais moderna, inclusiva e ousada que conversa diretamente com a nova geração de consumidores de luxo.