“Eu sempre gostei de roupas, mesmo quando não entendia nada de moda“, conta Goodfrey Deeny. Autoridade no jornalismo de moda internacional, Deeny já foi diretor criativo da “Vogue Hommes”, editor-chefe do “WWD” e correspondente dos jornais mais importantes do mundo. E bastou fazer uma única pergunta pra que ele disparasse a falar, compartilhando o seu olhar clínico para a moda e contando mil histórias. Deeny mostra que consegue ser tão boa-vida quanto workaholic.
Confira os melhores trechos da entrevista na sequência:
Godfrey Deeny: jornalista de moda não se incomoda com a cópia quando há interpretação © Priscilla Vilariño/FFW
Antes da moda
Eu era muito mais sério! Trabalhava como correspondente da Dow Jones em Milão. Mas já fui jornalista de esportes, economia, música. Eu só comecei a escrever sobre moda depois dos 29 anos.
Primeiro emprego
Foi no WWD em Paris. Era um cargo excelente: Andre Leon Talley e muitos outros passaram por lá. Fiquei alguns anos em backstages, aprendendo a língua mãe da moda, entrevistando Galliano, Lagerfeld, Albert Elbaz… E quando estava com uns 35 anos, percebi que havia construído uma reputação. Depois disso, você começa a destruir a sua reputação [risos].
Repertório amplo
Eu era um boêmio em Nova York no começo dos Anos 80. Frequentava as galerias do Soho, vi o começo do punk rock, o nascimento da MTV… Tive uma boa formação em cultura pop. Já tinha uma ótima formação em cultura erudita, então acho que foi isso que fez de mim um bom jornalista.
Conectividade
Sempre fiz conexões entre a moda e as outras áreas da cultura. E é essa a qualidade dos bons designers, dos bons jornalistas, dos bons cineastas. Quando você vai a um backstage da Prada, você não encontra só modelos lá. Martin Scorsese está lá. Artistas estão lá. Entende?
Fila A
A primeira fila é como bom vinho: você experimenta uma vez e não quer mais largar. Luxo é uma coisa viciante.
Correspondente de moda
A melhor parte [de ser repórter] é fazer um tour arquitetônico do mundo. No Rio, apesar de existirem limites por causa da violência, eu pude conhecer igrejas antigas, o Forte de Santa Teresa… Já estive em Veneza, na Ásia, em todo lugar […] Quando fui diretor criativo da “Vogue Hommes”, podia realizar o que quisesse, existiam recursos. Por outro lado, você precisa sentar na primeira fila pra fazer negócios.
Cópia x Autoria
Sempre existe inspiração. Quando eu me visto de manhã, lembro de editoriais de “Vogue” que vi há 20, 30 anos. A cópia não importa quando há interpretação. O que considero ruim é quando não há visão nenhuma em cima da inspiração. E é o que acontece na maioria das vezes.
Alessa x Cópia
Eu gostei do desfile (veja fotos aqui). Estou certo de que ela se inspirou em uma nova designer londrina chamada Mary Katrantzou, que fez vestidos com estampas de frascos de perfumes. Procure o nome dela no Google. Essa garota, a Alessa, claramente se inspirou nela. Mas ela colocou na coleção o seu próprio charme, sua identidade, seu twist. E fez isso de maneira competente.
Moda brasileira
Gosto muito da Osklen. Sou viciado nas calças deles, como você pode ver [durante a entrevista, Godfrey usava um modelo da grife]. Em São Paulo, o Reinaldo Lourenço é o melhor de todos. Quanto ao Alexandre Herchcovitch, ele é um designer importante; mas já vi coleções muito ruins e muito boas dele. Entre os novos estilistas, a Patrícia Viera faz um dos trabalhos mais interessantes. Também gostei do Lucas Nascimento.