Com apenas 19 anos, o canadense Vejas Kruszewski abocanhou o segundo lugar do prêmio LVMH (Grace Wales Bonner ficou em primeiro), ganhando uma quantia de 150 mil euros mais um ano de orientação para sua marca Vejas. Entre seus tutores está Phoebe Philo, diretora criativa da Céline.
Vejas é o designer mais jovem a receber esse prêmio e talvez até mesmo o mais novo estilista em atuação profissional hoje, se pensarmos que, em apenas dois anos de marca, ele já desfilou em Nova York e Paris e suas roupas são encontradas em multimarcas descoladas como Opening Ceremony.
Exceto um pouco de sorte, nada disso caiu do céu e é resultado de trabalho árduo e constante. Vejas nunca desistiu tampouco parou de sonhar e de acreditar em seu potencial. Foi isso, na verdade, que o trouxe até aqui.
Com 10 anos começou a costurar assistindo a tutoriais no You Tube e vendo revistas japonesas que vinham com moldes. Aprendeu a costurar desconstruindo peças da Miu Miu e Céline que comprava em grandes liquidações. “Foi um aprendizado de tentativa, acerto e erro. Tem muitas técnicas que eu ainda preciso aprender, mas a vantagem de ser autodidata é que você pode fazer as coisas de uma perspectiva diferente”.
Aos 16, passou a postar no Tumblr as peças que criava e chamou a atenção de pessoas com quem se comunicava online. Essa turma que o incentivou desde cedo é até hoje próxima de Vejas. “Foi assim que conheci minha sócia, foi como eu conheci Hari Nef… Tudo começou daí”.
Vejas passou um bom tempo indo de ônibus de Toronto para Nova York semanalmente, uma viagem de 12 horas que fazia durante a noite. E assim, insistindo e fazendo contatos, ele conseguiu um encontro com a assistente de uma editora importante e entregou pessoalmente cinco looks na mão da stylist da Beyoncé. Na temporada de Inverno 15, fez um desfile lá fora do calendário, sempre com a ajuda de amigos. Um deles o apresentou a Hari Nef, que modelou, fotografou e o ajudou a fazer uma pop-up na cidade. Foi quando começou a trabalhar com seu stylist Marcus Cuffie e outras pessoas da cena jovem que passaram a usar suas roupas nas ruas.
E assim foi até que recebeu o convite para entrar no concurso da Louis Vuitton. Sua parceira na marca, Saam Emme, achava que ainda era cedo para aceitar. “Queria construir a marca de maneira lenta e orgânica”, disse em entrevista ao BoF. Mas no final, foram convencidos por membros do conselho do prêmio.
Se o prêmio trouxe visibilidade e interesse do mercado (as vendas de sua marca cresceram 700% entre 2015 e 2016, segundo o BoF), a dinheiro deu um fôlego extra para contratar pessoas para posições fundamentais em uma marca, além de dois estagiários. A operação ainda é pequena e Vejas ainda trabalha 12 horas por dia. Tudo que entra volta para a empresa para compra de materiais, pagamento de aluguel, etc. “Nesse sentido, foi essencial conversar com Phoebe. Por ser muito novo, eu ainda não entendia as implicações de ter uma marca, como operar o lado financeiro, gerenciar as pessoas e trabalhar no mundo real”, disse a Dazed Digital.
Vejas e Sam não se iludem com o sucesso. Estão construindo um plano de negócios que mantém a marca com essa aura de novidade ao mesmo tempo em que ganha mais presença em multimarcas pelo mundo. “Não quero estar em todas as lojas, e sim nas lojas certas”.
Entre as habilidades de Vejas, está o talento de transformar o normal em algo único, com exercícios de cortes, recortes e modelagem. Ao final, roupas do dia a dia, como blusões e jaquetas, lembram peças básicas, mas são diferentes, estranhas e em alguns momentos, incríveis. “Quando comecei, queria pegar roupas e texturas familiares e faze-los virarem meio aliens”, disse ao site da Vogue americana. “Agora evoluímos mais em explorar alguns elementos de design e então criar um guarda-chuva de produtos onde esse elementos são trabalhados em roupas e acessórios”.
O que chama a atenção é que suas roupas são bem feitas e com valor de design, e descomplicadas. Tem uma similaridade com a Vetements no sentido de que Vejas também mostra um guarda-roupa jovem, atualizando o streetwear e desafiando os gêneros. Seus modelos representam gêneros e raças diferentes e são usualmente seus amigos. “Acho que cheguei aqui por uma combinação de impaciência, egoísmo e gratidão. Mas nada disso teria acontecido sem a internet”.