“Nós temos ex-estudantes em praticamente todas as marcas de Paris”. Quem disse isso foi Tuomas Laitinen, um dos coordenadores da Aalto University, de Helsinque, Finlândia. Ele tem observado de perto os desfiles de formatura dos últimos 10 anos e percebido um crescimento no interesse da indústria global nos jovens estilistas finlandeses.
A universidade está na mira da moda, que tem presenciado uma invasão finlandesa silenciosa e está de olho nos talentos que saem de lá – ela também está no topo da lista das melhores escolas de moda do mundo no ranking anual feito pelo Business of Fashion. “O programa aprofunda e amplia as habilidades dos alunos em moda, vestuário e design têxtil em um alto nível artístico e profissional, insere o pensamento estratégico, bem como a criação de conceitos de moda coordenando e liderando processos de design”, diz um texto de abertura no site da faculdade.
Näytös é o nome da noite de formatura da Aalto, quando os alunos mostram seus desfiles de conclusão. O evento, que vende ingressos e é transmitido ao vivo, virou um hot ticket para headhunters de grupos como Kering e LVMH buscando por novos talentos. O corpo de jurados também traz profissionais de peso, com relevância global, de vários setores da indústria. Nesta última edição, que aconteceu dia 31.05, fizeram parte do júri: Francesco Risso, diretor criativo da Marni; Laird Borrelli-Persson, da Vogue.com; Miren Arzalluz, diretor do Palais Galliera; Olya Kuryshchuk, fundadora e editora da 1 Granary; Azza Yousif, da Vogue Hommes International e Daniel Thawley, editor chefe da A Magazine Curated by.
Quem venceu o principal prêmio este ano foi Ines Kalliala, que mostrou uma coleção masculina inspirada pela idéia de obscurecer a presença de uma pessoa. “Estava pesquisando e pensando nas maneiras que usamos roupas para nos misturarmos, nos destacarmos ou nos identificarmos. Eu queria explorar essa relação entre uma pessoa e seu ambiente”. Ines fez uma coleção com produção responsável e inseriu o upcycling em seu processo.
Apesar de não ter uma indústria de moda pulsante nem fábricas de tecidos como vemos na França e na Itália, a Finlândia tem a reputação do design e do pensamento crítico ensinado na Aalto. A faculdade enfatiza em seu programa a “criatividade e novas idéias de pensamento avançado em cada etapa do processo. No centro do programa está a compreensão do sistema de moda e seu impacto na sociedade e nos negócios. Os alunos são desafiados a explorar as possibilidades de novas tecnologias, novos materiais e soluções de design inovadoras em mídias físicas e digitais”.
Talvez estudar em uma cidade pequena com pouco mais de um milhão de pessoas (8 milhões em Londres; 12 milhões em São Paulo como comparação) em um ambiente que também não tem vícios ou uma cultura de moda solidificada pode provocar uma sensação de liberdade no jovem no sentido de que há muito a ser feito, experimentado e construído.
Há estagiários recém formados trabalhando em marcas como Louis Vuitton, Saint Laurent e Rick Owens – a taxa de emprego da Aalto pós faculdade é uma das mais altas na moda. Esse cenário está acordando o mercado de moda da Finlândia. Em uma entrevista ao Hype Beast, Laitinen diz que a indústria do país teve um boom nos anos 60 com marcas como Marimekko, mas depois passou 50 anos em silêncio até que notou uma nova primavera alguns anos atrás.
Um dos nomes hoje em ascensão na cena finlandesa é Rolf Ekrot, que recebeu apoio financeiro para tocar sua marca própria e também foi contratado para revitalizar a grife local focada em ski Terinit. “Esse momento pode significar o nascimento de uma indústria ou de uma cena de moda”, diz Laitinen.
Talvez seja esta a mágica da Finlândia: há espaço para criar e construir e espaço livre hoje (tanto dentro da gente quanto fora) é um luxo hoje em dia. E o fato de que profissionais influentes estejam de olho nos alunos também os dá esperança e os empurram a fazer seu melhor.