Soldado em Bangladesh ao lado dos destroços do edifício Rana Plaza, que desabou no dia 24 de abril ©Reprodução
Três semanas após o desabamento do edifício Rana Plaza, em Dacca, Bangladesh, onde 1.127 trabalhadores têxteis morreram soterrados, o governo local anunciou nesta terça-feira (14.05) que permitirá a formação de sindicatos do setor, mesmo sem o consentimento dos proprietários de fábricas. Outra nova medida já divulgada foi a assinatura de um acordo com redes varejistas, inclusive H&M, C&A e Zara, para que elas ajudem no financiamento de melhorias na segurança das confecções que utilizam no país.
A H&M foi a primeira a se comprometer com o acordo, que é previsto para durar, inicialmente, cinco anos e cobre dezenas de fábricas em Bangladesh. Logo, se uniram à varejista sueca a holandesa C&A, as britânicas Primark e Tesco e as espanholas Mango e Inditex, dona da Zara. Além do financiamento de reparos necessários à segurança, o plano, segundo a revista “Valor”, determina a criação de um órgão de fiscalização independente, que possa multar e até fechar fábricas em condições irregulares.
Também a Benetton, o Carrefour, a Marks & Spencer e o El Corte Inglés sinalizaram a intenção de aderir ao acordo, assim como a G-Star e a Stockmann. Bill Chandler, vice-presidente de assuntos coorporativos da Gap Inc., disse que a marca está a “seis frases” de se comprometer, revelando que há quem deseje a modificação de certas cláusulas do plano, que possui caráter vinculativo, ou seja, após assinado, torna-se obrigatório e submetido à arbitragem; segundo o “WWD”, as varejistas que o assinaram têm de 30 a 45 dias para se adequar a todas as exigências impostas.
As medidas, apesar de anunciadas há pouquíssimo tempo, já causaram bastante repercussão internacional, mas a holding PVH Corp., detentora das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, foi a única empresa americana a se comprometer com o acordo até agora. Já o Wal-Mart liberou na internet um comunicado em que diz que “a companhia não está em posição de assinar o acordo da IndustriALL [Global Union] agora” e que realizaria, nos próximos seis meses, uma inspeção nas 279 fábricas que usa em Bangladesh. As entidades responsáveis pelo plano, entre elas várias não governamentais, instituíram a meia-noite desta quarta-feira (15.04) como prazo final para assiná-lo.
Destroços do edifício Rana Plaza, que desabou no dia 24 de abril em Bangladesh ©Reprodução
Bangladesh possui cerca de cinco mil fábricas têxteis e é o terceiro maior exportador de itens ligados ao vestuário, atrás apenas da China e da Itália (59% das exportações do país vão para a União Europeia, enquanto 26% dirigem-se aos Estados Unidos). Lá, no entanto, não se paga tão bem quanto se produz: o salário mínimo dos trabalhadores no setor é de (míseros) US$ 38,55 (R$ 77,77). Espera-se o aumento desse valor em breve, já que autoridades locais garantiram a criação de um conselho para tal fim. “É como se as mortes não tivessem sido absolutamente em vão. É um jeito triste de fazer as coisas mudarem, e vem com um custo muito alto, mas, ao menos, estamos vendo o governo reagir”, falou ao “WWD” Mohammed Altaf, trabalhador do distrito de Savar, no subúrbio de Dacca.