Ianire Soraluze
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Em vez de buscar um tema para seu Inverno 2010, a estilista Ianire Soraluze partiu da simples imagem de uma flor no meio de um campo nevado para elaborar sua coleção. Com extremo foco na vida real, a estilista trabalha toda a composição da imagem, começando com os brancos da neve, passando por tons mais escuros como cinzas e pretos até chegar ao vermelho forte, passional, ápice da coleção.
O denominador comum dessas três etapas é a constante busca pelo conforto. Como a própria estilista disse, “há sempre a busca pelo aconchego”. Na prática isso se traduziu em peças de formas mais amplas, sempre afastadas ao corpo, como no vestido off-white que abre o desfile ou nas calças que vêm mais soltas no quadril e ficam mais retas à medida em que descem rumo ao tornozelo. Quando a silhueta se ajusta, é sempre de forma suave, transmitindo uma sensação de conforto, como vimos na blusa de tricô branco ou então no maxi pull com bolinhas de tricô salientes.
Ainda que as peças sejam desejáveis e, de certa forma, atemporais, fica a sensação de que faltou aquele elemento que faz os olhos brilhar e o coração bater mais rápido. É como se o frio polar falasse mais alto que a vida e cor da rosa vermelha que nasce neste deserto de gelo.
Der Metropol
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Muitos achavam que a característica principal da Der Metropol era seu trabalho com moletons. Depois de algumas coleções, fica claro que o elemento mais presente no estilista Mario Francisco é a referência aos Anos 90.
Dessa vez ele se inspira na agressividade do filme de terror “Hellraiser: Renascido do Inferno”. Seguindo seu trabalho de construção e modelagem da coleção anterior, o estilista adapta as roupas do dia-a-dia do homem contemporâneo para a estética violenta do filme, o que faz com que blazeres e camisas tenham cortes pontudos, bolsos utilitários maximizados, ombreiras e capuzes angulares. É muito interessante a interpretação do filme na visão do estilista: faixas de cor vermelha simulam a musculatura do corpo humano numa clara referência às cenas em que seres humanos são escalpelados vivos no longa-metragem que deu fama ao vilão Pinhead, além do couro e dos pontos metálicos que aparecem no final do desfile relembrando o figurino sado-maso dos Hierofantes – os demônios do filme.
Porém, assim como aconteceu de forma mais suave na coleção anterior, esses bens exercícios de construção perdem força por que dão a sensação de déjà vu com alguns estilos do passado. Talvez Mario esteja muito preso aos Anos 90, fazendo com que suas roupas pareçam muito mais uma reedição do passado do que uma adaptação à nossa atual realidade.
Marcelu Ferraz
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Olhando para o filme “O Nome da Rosa”, Marcelu Ferraz busca adaptar ao século 21 os trajes e armaduras medievais. Com foco no sportswear e naquele estilo descontraído que seus clientes tanto gostam, o estilista altera a modelagem de peças convencionais para deixá-las mais próximas das túnicas, togas e capas usadas na Idade Média. Daí vêm as calças e bermudas sarouel, as camisetas mais soltinhas, as peças em tecidos metalizados, as capas usadas para arrematar os looks e os elementos de alfaiataria que apareciam bem fundidos à toda essa estética medieval.
O problema é que em vários momentos do desfile a inspiração é muito literal, transformando roupa em figurino. Em vez de focar-se nas necessidades e vontades reais, o estilista fica preso à temática, esquecendo que seus consumidores vivem alguns séculos a frente do seu ponto de partida.
Tony Jr.
Será que a recente visita de Dita Von Teese exerceu alguma influência sobre Tony Jr.? Lançamos a pergunta por um motivo simples: sua coleção de Inverno 2010 é toda inspirada na estética das dançarinas burlescas, viajando desde a origem do estilo (nos Anos 20) até suas releituras mais ousadas que começaram a ser feitas a partir dos Anos 80.
Se esse leque de referências parece amplo demais, foi justamente isso que o estilista colocou na passarela: com direito a uma perfomance da VJ Madame Mim do que deveria ser “uma nova forma do burlesco”, nas palavras do estilista. Metade homem, metade mulher, Madame Mim tentava coordenar os seus passos de dança pra transmitir essa dualidade, o que deixou a apresentação mais caricata e desengonçada do que qualquer outra coisa.
Boudoir, rendas, corsets, brilhos, alfaiataria masculina, collants, ombros marcados, comprimentos mini, saias rodadas, babados, drapeados e todo tipo de clichê que se pode imaginar quando o assunto é performance burlesca apareceu na coleção de Tony, que pareceu totalmente sem foco e com pouquíssima pesquisa e exploração do tema de forma mais autoral ou inventiva.
Rober Dognani
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O futurismo é um tema recorrente no trabalho de Rober Dognani. Desta vez, foi olhando para os filmes de ficção-científica dos anos 60 (principalmente “Stars Wars”) que o estilista encontrou o caminho para trabalhar volumes tridimensionais e pontiagudos em seus modernos vestidos de festa.
O shape continua o mesmo das três últimas estações: vestidos curtos, de silhueta levemente ajustada ao corpo, sempre com volumes bem marcantes na forma de dobraduras ou maxi pregas, num misto de moulage com modelagem convencional. A diferença é que Rober vai refinando e aprimorando elementos de suas peças para torná-las ainda mais desejáveis e poderosas. Livrando-se dos excessos, ele aposta novamente nos curtos, trabalhando volumes ora de forma mais pontual, ora dominando toda a peça, mas sem nunca perder a harmonia. Rober acerta ao equilibrar a apresentação entre os looks mais conceituais, em que construções elaboradas dificultam um pouco o apelo real das peças, com outros mais simples que imersos na mesma estética são vendas garantidas – caso do tubinho preto bem justo ou do modelo de lamê rosado com volume apenas nas costas.
Continua também seu bom trabalho de alfaiataria descontruída que apareceu na coleção anterior, só que agora elevado a um patamar ainda mais sofisticado e com (des)construções mais elaboradas e ricas. Ainda mais quando hibridizadas com os ótimos looks de lurex semi transparente, com pregas e drapeados, que se mostraram como versões mais simples e sofisticadas das estruturas com aspceto de armaduras (ou reptilianas?) que decoravam frentes e costas das partes de cima de vestidos e algumas blusas. A única ressalva é que Rober sempre olha muito para as passarelas internacionais, onde busca referências para as suas belas criações. Sendo assim, qualquer semelhança com Gareth Pugh ou Alexander Mcqueen (principalmente no make) pode não ser mera coincidência.