Coco Chanel em si, jamais levou seus tailleurs para passear em Xangai, ou qualquer outra cidade chinesa. Mas conforme o mercado de luxo aponta a China como um dos principais mercados em expansão, pareceu natural que Karl Lagerfeld escolhesse a paisagem metálica e iluminada de Xangai como cenário de sua coleção pre-fall 2010.
Além, disso a apresentação marcou também a inauguração de uma das maiores loja de Chanel na China, evidenciando o imenso potencial mercadológico que o país representa para as marcas de luxo.
Quanto as roupas em si, foi a mais perfeita união do que há de mais essencial na Chanel, com diversos elementos chineses. E não estamos falando apenas das golas Mao que apareceram em camisas e nos clássicos casaquinhos de tweed. Desde o vermelho comunista, até as saias com aberturas laterais das chinesas, Lagerfeld foi muito além, buscando inspiração nos primórdios da cultura chinesa. Da Mongólia traz a tapeçaria que aparece em botas de cano alto, de lá vem também as peles que decoram mangas, golas ou a totalidade das peças.
Da era comunistas, vem o verde militar, com o logo da Chanel fazendo as vezes da estrela do partido comunista. As medalhas viram maxi camélias douradas aplicadas sobre o tweed dos vestidos e tailleurs, ou então aparecem recortadas em couro em casacos militares ou leggings no mesmo material.
E até o matelassê, técnica originalmente chinesa que Coco Chanel usou para confeccionar uma de suas bolsas mais famosas (a 2.55), aparecem como homenagem a essa cultura que a própria estilista era fã, colecionando louças, antiguidades e outros objetos de arte.
Sob o ponto de vista de moda, nada além de um grande e belo exercício de Karl Lagerfeld em adaptar a herança de Chanel para as necessidades (comerciais) modernas. Se pararmos para pensar, nada de muito novo foi apresentado, além de versões à la Chanel de algumas das principais vontades que já se formam nessa temporada de “pré-inverno” – o militarismo e as cortes escuras.
Mas, sob o ponto de vista de marketing, uma ótima ação para despertar desejo numa clientela onde a crise econômica parece não ter abalado os hábitos de consumo.