Texto e curadoria Hisan Silva / Dendezeiro
O futuro da moda é diverso, inclusivo e especial. É tempo de pequenas produções e grandes ideias. O que vestimos sempre foi espelho do que nós somos. Se antes uma roupa era sobre a nossa identidade, de quem as vestia e de quem as produzia, no atual momento de pesquisa interna que as pessoas e a moda estão vivendo, o que irá ao nosso corpo a partir de agora é sobre ser 100% nós mesmos.
Por muitos anos foi compreendido que estar na moda ou seguir uma tendência, ainda que nacional, significava abandonar referências dos seus berços de origens, histórias, inspirações próprias e englobar uma realidade de moda que por muito tempo as pessoas tentavam forçar se adequar, mas como um cabo de três pinos e uma tomada de dois, algumas coisas não são criadas pensadas na gente, tanto quanto sobre história quanto estrutura e ferramenta para englobar nossos diversos e múltiplos corpos.
+ Leia a primeira parte do nosso especial que apresenta criadores do Norte do país.
O Norte do Brasil demarca muito bem suas influências em suas criações. As diversas tecnologias que atravessam a moda são nitidamente desenvolvidas por base na cultura indígena. Os traços, o artesanato, as técnicas aplicadas nas roupas, imagens, acessórios refletem com início, meio e fim a construção do Norte e sua abundância cultural dentro de uma raça que tanto passou por processos de apagamentos.
Pensando nisso, trouxe artistas do Norte que trabalham com artes bem específicas. Artes que valorizam e contam sobre suas histórias, que referenciam seu dia a dia quanto cidadãos nascidos na região com maior influência indígena do país.
marcas de moda
@petrvsfigueira é do Pará. Ele tem um trabalho incrível. Antologia Amarga foi a coleção inspirada no ambiente de obsessões e medos do estilista com assimetrias agressivas, texturas volumétricas e cartela de cor minimalista. Projeto que rendeu o título de Melhor Estilista do Ano de 2019 pelo Sindicato de Profissionais do Estado do Pará.
@ludimilaheringer é de Belém. Tem um trabalho de tingir fios de tricô com casca de cebola, folhas como Pariri, sementes e muito mais para construir peças de tricô feitas à mão pela própria estilista.
ACESSÓRIOS E DESIGN ARTESANAIS
O artesanato no Brasil é uma arte ainda desvalorizada pelo próprio brasileiro que parece ainda não estar pronto para lidar com seu próprio racismo. Os artesãos de grãos, folhas, raizes, madeira, penas, sementes, pedras fora do panteão eurocentrico de preciosas são colocados como pessoas “sujas, desleixadas, artes baratas e até mesmo vagabundos”, os mesmos adjetivos direcionados a indígenas aldeados, de onde o brasileiro conhece a cultura desse tipo de artesanato. Então, o problema do artesanato no Brasil, não é sobre como é feito ou como é vendido, mas quem ele lembra: indígenas. Nós vivemos numa nação racista que engole as diversas formas de produzir e viver arte por conta de sua ignorância na possibilidade de ver sua própria cultura. A repulsa ao artesanato tem o mesmo teor grotesco que os ancestrais abusadores tiveram ao chegar na terra do artesanato e fazer o que fez a partir da colonização.
Separei três das diversas lojas e artesãos que trabalham com acessórios e deisgn construídos das riquezas naturais extraídos do chão extenso e diverso do Norte brasileiro.
@enare.arteindigena é de Belém, Pará ! Suas peças são construídas à mão, baseando-se em geometrias sagradas das culturas indígena e africana, além de ter um lindo trabalho de construção individual de peças, criado através do estudo pessoal de cada cliente.
@kotiriaartesanato de Manaus é uma marca que utiliza de obra prima natural da Amazônia para desenvolver seus produtos, como por exemplo novelo de tucum. O tucum é uma fibra extraída da palmeira do tucumã, é a maior matéria prima na confecção de colares, bolsas, pulseiras e porta jóias da marca e fibra de arumã para fazer cestos e outros produtos. Além disso, cada grafismo representa uma história da mitologia indígena e utensílios culturais gerais.
@amazoniaancestral é de Belém. A marca trabalha com acessórios esculpidos em madeira. Algo que me chamou muito atenção são os diferentes formatos dos acessórios, fora completamente do que a indústria sulista considera como normal. É interessante também as referências diversas para a criação dos objetos, como mulheres Icamiabas e diversas outras narrativas indígenas.
@aldeia_yawarany é do Acre. É um trabalho em aldeia, onde eles trabalham com estamparia manual, confecção e até desenhos feitos à mão com aplicação nas peças. Além de uma diversidade de acessórios construídos com base na cultura indígena.