Por Luísa Graça
O som do vaivém das ondas do mar recebeu os convidados da A. Niemeyer numa sala clara, bem iluminada por luz natural, em prédio na Vila Madalena. A ideia de aconchego e acolhimento, já bem característica da marca, estendeu-se à atmosfera do desfile e, claro, à coleção apresentada hoje no SPFW N45, intitulada Meet me in Montauk – uma referência ao lifestyle da cidadezinha litorânea próxima à Nova York, que orientou a coleção, e também à expressão usada no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.
“No desfile passado, como era nossa estreia, quisemos mostrar a nossa essência: o conforto que, junto com qualidade e estilo, é o pilar da marca. Agora procuramos pensar em como evoluir essa história, sem bater na mesma tecla”, conta Fernanda Niemeyer. Surgiu, então, a ideia de desenvolver uma coleção a partir da ideia do après-surf – o momento após a prática do surf, um esporte ao qual elas se referem como “meditação ativa”. Desse universo, tomaram emprestado os zíperes aparentes resinados, sobreposições e peças oversized, trabalhando com tecidos macios e lãs e uma paleta cromática neutra, com base em bege, off white, cinza mescla e detalhes em azul. Nos pés tênis Converse em padronagens desenvolvidas exclusivamente em parceria com a marca ou slides adornados por um trabalho de tapeçaria. Ainda complementando os looks, joias das coleções T e Hardwear da Tiffany & Co., que ofereceu peças para um desfile de semana de moda brasileira primeira vez.
“A ideia é vestir as pessoas justamente para prolongar o momento de sensação de bem-estar pós-esporte, quando estão se sentindo revigoradas. Foi a forma que a gente encontrou de prolongar essa história de conforto com uma cara nova”, continua Fernanda e Renata Alhadeff concorda. Abaixo, as duas dividem algumas ideias sobre esses temas com o FFW.
Como vocês definem conforto?
No sentido mais amplo da palavra: paz de espírito. A sensação quando você fecha os olhos e se sente inteira, bem, em paz.
O que traz bem-estar a vocês? O que fazem para ter o tal “conforto da alma” a que se referem?
Estar perto da família e dos amigos – quem tem isso tem tudo. Nós duas buscamos estar em contato direto com a força da natureza . Seja nos nossos finais de semana ou em nossas viagens de férias. Dormimos em rede, tomamos banho de rio, meditamos, sempre com a ideia de nos conectarmos com nós mesmas, com a nossa essência. Surfar no amanhecer, o pôr-do-sol no Rio Arapiuns, na Amazônia.
Se o vestir e o sentir se relacionam, como enxergam a moda enquanto ferramenta para o bem-estar? Ela pode ser transformadora nesse sentido?
Sim. Modelagens e tecidos que acariciam a pele nos fazem sentir leves, soltas, flexíveis.
O processo criativo de vocês é sereno como a gente imagina? O clima no backstage, certamente, é mais tranquilo do que costuma ser na maioria dos desfiles.
Gostamos de criar desconectadas da bagunça do dia-a-dia. Em um lugar calmo e com música. Esse é o ponta pé inicial! Mas é claro que o processo dali adiante segue dentro do cotidiano do escritório com outras mil e uma atividades envolvidas.
O desfile tem o mar como pano de fundo. O que essa figura significa pra vocês?
O mar é curativo! Passar algumas horas ou minutos olhando pra ele é uma das sensações mais confortantes. Ele limpa a mente. Dentro do mar, é revigorante sentir a água, o sal do corpo. Em se tratando desta coleção, o surf no inverno de Montauk te propicia o máximo de conforto ambiental – zero de poluição sonora e visual. É você num processo de foco total, você consigo mesmo imerso na natureza em uma espécie de meditação ativa. Depois de sair do mar, a sensação é de êxtase e bem-estar máximo.