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Para seu inverno 2011 apresentado na última edição da Casa de Criadores, Jadson Raniere construiu sua coleção em torno de noções de proteção. “Roupas-escudos feitas de náilon preto matelassado, onde os braços do modelo são aprisionados ao corpo por uma espécie de casaco tétrico _no tabuleiro de Jadson, o melhor ataque é uma boa defesa”, escreveu o editor André Rodrigues.
No mesmo evento, ainda que não totalmente focado no mesmo assunto, Arnaldo Ventura apresentou seu inverno inspirado na batalha de Tróia, tirando dali boa parte das referências militares de sua coleção. Como a proteção só nasce de uma ameaça iminente, o tema se fez presente.
Alguns meses antes, durante a semana de moda de Paris, a estilista belga Ann Demeulemeester anunciou que foram as noções de proteção que deram o pontapé inicial no seu verão 2011 abstrato e gráfico. Rebobine uma temporada (para o inverno 2010) e temos Jeremy Scott para a Adidas Originals esbarrando sobre a mesma temática ao olhar para as armaduras medievais, Stefano Pilati, na Yves Saint Laurent, aliando todos esse conceitos com uma boa dosa de religião e espiritualidade.
Proteção está na moda e não é muito difícil entender o motivo: basta ligar a televisão, abrir um jornal ou acessar um site de notícias. Agressões com lâmpadas, verdadeiras guerras civis e assaltos violentos, só para citar alguns dos exemplos mais recentes _e próximos de nossa realidade.
Segundo o dicionário Houaiss, proteção diz respeito “àquilo que protege de um agente exterior; defesa”. Desde os primórdios da humanidade as vestes desempenham justamente esse papel: proteger do frio, do sol, da chuva, e outras ameaças com camuflagens e demais recursos. Fast forward para o século 21. As roupas continuam desempenhando esse papel + alguns outros de cunho morais e sociais.
Acontece que moda também é linguagem em constante diálogo com a sociedade e seus indivíduos em determinado período da História. E em tempos onde ameaças dizem respeito não só a questões de violência física, nada mais natural que nossas roupas passem a refletir algumas noções de proteção. Seja pela simples assimilação de fatores religiosos, seja pela construção de verdadeiras armaduras modernas.
Looks da Comme des Garçons, Lanvin (masc.), John Galliano (masc.), Jean Paul Gaultier (masc.), Raf Simons e Yves Saint Laurent, tudo inverno 2010 © firstVIEW
Proteção _em suas mais diferentes formas_ foi tema recorrente para o inverno 2010 masculino. Referências militares, cinturões tipo corsets, botas pesadas e uma atenção extrema ao outerwear de peso (literalmente) falavam mais sobre força e vigor do que sobre romance e poesia, como havia acontecido em temporadas passadas.
No feminino não foi diferente. Camadas e mais camadas de sobreposições mil falavam não só da proteção contra o frio, mas também de um certo isolamento corporal. Rei Kawakubo em sua Comme des Garçons, ao criar volumes acolchoados _quase como continuação de sua famosa coleção “Lumps & Bumps” de 1997_ esbarrou nas noções de conforto para falar justamente dessa temática de maneira extremamente cerebral. Stefano Pilati, na Yves Saint Laurent, por outro lado, usou uma série imagens religiosas _com modelos freiras cobertas por capas de plástico_ para falar de outras formas de proteção.
Nem tanto pelo lado físico da coisa, mas mais pelo emocional e sensorial, as roupas do século 21 parecem estar cada vez mais oferecendo um refúgio seguro para o ser humano, quase como verdadeiras barreiras à prova de balas.