Desde que Cristóbal Balenciaga fechou seu ateliê em 1968, a Balenciaga não fez mais coleções de Alta Costura. Até agora. Nessa semana, a grife retorna à semana de Couture depois de 53 anos, com a estreia de Demna Gvasalia, atual diretor criativo da Balenciaga, no segmento. Para entendermos um pouco do que podemos esperar da volta da Balenciaga à Alta Costura, que tal dar uma passeada pelo rico passado da marca? Reunimos neste artigo alguns dos fatos e momentos mais importantes da história de uma das mais importantes casas de moda da história da moda.
O INÍCIO DA CARREIRA DE cristóbal balenciaga
Cristóbal Balenciaga nasceu em 1895, em Getaria, na Espanha. Sua mãe era viúva e se tornou costureira para sustentar a família, e daí vem o primeiro contato de Cristóbal com a moda. Sem educação formal mas com os aprendizados de sua mãe, ele abriu sua primeira boutique em 1917, em San Sebastian, com seu nome completo.
Alguns anos depois, ele cria a marca EISA, com lojas em Barcelona e Madrid, em homenagem à sua mãe, mas as lojas foram todas forçadas à fechar devido à Guerra Civil Espanhola. Nesse cenário, Cristóbal Balenciaga vai para Paris, em 1937, que já havia visitado por diversas vezes.
Em solo parisiense, o estilista abre a Casa Balenciaga, no número 10 da Avenue George V, endereço de luxo com os sócios e investidores Wladzio Jaworowski e Nicolás Bizcarrondo e apresenta sua primeira coleção em 1938. À essa época, com 42 anos, o nome de Cristóbal Balenciaga já era conhecido e a coleção foi aclamada pela crítica e imprensa, começava sua ascensão ao sucesso.
A ERA DE OURO
Em contraponto ao look ultrafeminino e acinturado de Christian Dior, Cristóbal optava por construções mais estruturadas, ombros e silhuetas mais largas e formatos realmente esculturais, que o levaram a ser chamado de “o arquiteto da moda”. Nos anos 50, a Balenciaga vive sua era de ouro, sendo reverenciada, aclamada e lançando alguns de seus modelos mais icônicos, lembrados até os dias de hoje. Em 1955, ele criou o vestido-túnica, que posteriormente ficou conhecido como o vestido Chefies; em 1957, novas criações se tornam grandes sucessos para o designer, como o vestido-saco e o vestido-camisa e o vestido baby doll.
É importante apontar que, com tantos designers de Alta Costura de diversas partes do mundo prosperando, um dos principais destaques de Cristóbal Balenciaga era a sua nacionalidade e bagagem cultural. Ele se inspirava nas dançarinas de Flamenco, nos toureiros e nas obras de pintores como pintores como Diego Velázquez e Francisco Zurbarán, referências estas que eram todas muito novas para os franceses e brilhavam os olhos de suas clientes.
Como grande inovador que era, Balenciaga não limitou suas inovações às roupas, mas também à forma de apresentar suas coleções. Em 1956, Cristóbal começou a apresentar as suas coleções depois das temporadas de moda, ganhando espaços exclusivos nas principais revistas de moda da época, sem dividir atenção com seus concorrentes e ainda proibia fotos dos desfiles. Apenas a Vogue tinha permissão para publicar fotos pré-aprovadas por ele.
O FIM DA BALENCIAGA
Nos anos 60, com as diversas mudanças estruturais na moda e no comportamento da mulher moderna, Cristóbal Balenciaga, bem como diversas outras casas de Alta Costura, sentem o impacto da diminuição de suas vendas. Acompanhar o recém surgido modelo de prèt-à-porter não era tarefa fácil para os couturiers, com isso, a Balenciaga foi perdendo fôlego até que, em 1968, Cristóbal fecha seu ateliê e decide se aposentar, vindo a falecer alguns anos depois, em 1972, com 77 anos.
Por muito tempo, a marca ficou esquecida e longe da atenção da mídia até ser comprada, em 1986, pelo The Bogart Group. Michel Goma se torna o diretor criativo da marca até 1992, sendo substituído por Joseph Timinster, que ocupou o cargo até 1997. É só neste ano, com a contratação de Nicholas Ghèsquiere (atual diretor criativo do feminino da Louis Vuitton), que a marca volta a brilhar.
O RENASCIMENTO DA MARCA
As formas estruturadas e o design de Nicholas Ghèsquiere, que também buscava inspiração na arquitetura, lembravam o trabalho do próprio Cristóbal. Suas coleções para a label foram bastante elogiadas se tornando um dos desfiles mais importantes da temporada. Em 2002 o Grupo Gucci – que viria a se tornar a Kering – adquire a Balenciaga. À frente da marca, Ghèsquiere criou a primeira it-bag da Balenciaga, a Motorcycle e começou a produzir também peças masculinas.
Em 2012, Ghèsquiere deixa a marca e é substituído por Alexander Wang, que ocupa o cargo até 2015. Wang prestava homenagem aos designs de Cristóbal, com um twist estadunidense do designer, que era bastante adorado pelas celebridades mas críticado pela imprensa. Sua passagem pela marca foi rápida e esquecível.
OS DIAS DE HOJE
Finalmente, em 2015, a Balenciaga entra numa nova era de ascensão meteórica com a contratação de Demna Gvasalia, da Vetements que surpreendeu a todos. Atual diretor criativo da Balenciaga, Demna nasceu na Georgia, em 1981 e se formou em moda na Royal Academy of Fine Arts, na Antuérpia. Seus designs na Vetements rapidamente chamaram a atenção do mundo da moda, com crescimento rápido e meteórico. Ele foi indicado ao LVMH Prize pela marca e posteriormente recebeu o CFDA pelo seu trabalho na Vetements e na Balenciaga e em 2019, Gvasalia deixou a Vetements para se dedicar exclusivamente à Balenciaga.
DEMNA GVASALIA COM ALEK WEK GANHOU O PRÊMIO DE ESTILISTA INTERNACIONAL DO CFDA EM 2018
O trabalho do designer à frente da grife divide opiniões e alguns fãs mais assíduos da Alta Costura de Cristóbal desgostam de seu trabalho. Mas a verdade é que os dois têm muito em comum. Assim como Balenciaga, Gvasalia é um inovador e não tem medo de incomodar ou chocar. Com essa premissa, reinterpretando e referenciando designs de Cristóbal com fortes influências do streetwear e das subculturas, Demna tornou a Balenciaga uma das marcas mais desejadas e hypadas dos últimos tempos, principalmente entre os jovens.
Ele criou o Triple S e catapultou os ugly sneakers para o sucesso, desenhou o tênis-meia, reimaginou as campanhas de moda junto à stylist Lotta Volkova e trouxe o uso de memes, da anti-estética e da antimoda para a marca de luxo, pelo qual é tão conhecida hoje. Agora, depois de tantos anos, a tarefa de reviver a Alta Costura da Balenciaga está nas mãos de Demna Gvasalia.