David Bowie, o “camaleão do rock”, um dos nomes mais importantes da música mundial, morreu na noite do último domingo (10), vítima de câncer. Difícil resumir todo o legado que Bowie deixou para gerações do passado, do presente e do futuro. Em nossa homenagem a um de nossos artistas preferidos de todas as áreas e tempos, reunimos em 10 itens algumas de suas principais influências para a moda e a música.
1. Os olhos bicolores
Bowie é uma exaltação à beleza da diferença de cara. Seus olhos, um de cada cor, são um ícone da diversidade que ele sempre pregou, na música, na moda, na identidade de gênero, na postura de vida como um outsider. A diferença de tom, no caso dele, aconteceu por causa de um soco que o músico levou de um amigo da escola, bem no olho, quando era adolescente. A pupila esquerda ficou permanentemente dilatada, deixando um olho mais escuro que o outro. O mesmo efeito de olhos bicolores é causado pela heterocromia, nome da “anomalia” genética que Bowie fez virar uma qualidade, um charme.
2. Gender bender
O fim da barreira entre a roupa masculina e feminina é o assunto mais pulsante da moda atual, e teve um pioneiro há mais de quarenta anos, nos anos 70, em Bowie. Suas personas, de Ziggy Stardust a Thin White Duke – em especial Ziggy – transpiram essa liberdade de ser homem, mulher, ou um misto indefinido de ambos, com a possibilidade transgressora de não precisar se encaixar em definições formais.
3. Ziggy Stardust e outros alter egos
Ziggy Stardust, do álbum “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972) é um astro do rock mensageiro de extraterrestres e o alter ego mais famoso de Bowie, referência de estilo até hoje, com sua imagem glam rock, andrógina, que divulgava sua sexualidade livre e ambígua. Antes houve o astronauta Major Tom, do seu hit “Space Odity”(1969), e depois Thin White Duke, com seu visual meio dândi, meio cabaré, sombrio, com camisas brancas, colete e calças escuras, de sua fase do álbum “Station to Station” (1976), época em que enfrentou uma grande dependência de cocaína.
4. Influência na moda
De Jean Paul Gaultier a Jonathan Saunders, de Hedi Slimane a Alexander McQueen, todo mundo que importa já declarou influência direta ou indireta da estética criada por Bowie, tanto em coleções assumidamente reverenciais (caso de Gaultier e Saunders) como em inspirações criativas mais difusas. O mesmo se aplica a editoriais de moda das principais publicações do mundo. Basta olhar para a capa da Vogue UK de 2012 com Kate Moss pintada com o mesmo raio de Bowie na capa do disco “Aladdin Sane” no rosto, referência vista mais centenas de vezes em outros lugares. “Ele foi relevante em vários períodos, os influenciando, até os criando musical, intelectual e humanamente. Pessoalmente, fui muito influenciado por sua criatividade, sua extravagância, seu senso de moda, brilho, elegância e jogo de gêneros”, disse Gaultier, numa espécie de resumo da importância do músico no mundo da moda.
5. Camaleão musical
Rock, cabaré, jazz, soul, funk, música eletrônica. Bowie costumava dizer que tinha uma “plastic soul”, misturando gêneros musicais, pulando de um para outro, conectando vários. Sua adaptação elástica a diferentes influências, no entanto, não elimina, mas sim evidencia sua identidade artística, que se mostra mais original e marcante a cada nova experimentação.
6. Hits
Atire o primeiro vinil, cd, pen drive de sets musicais quem nunca dançou ao som de “Let’s Dance”, “Fashion”, “Changes”, “Heroes”, “Fame”, “Golden Years”. As músicas de Bowie começaram a nascer no fim dos anos 60 para atravessar gerações nas pistas.
7. Álbuns inesquecíveis
A trilogia “Heroes”, “Low” e “Lodger”, os três álbuns gravados em Berlim no fim dos anos 70, amarraram as pontas do rock e da música eletrônica até então ignoradas; Hunky Dory (1971), vai para o lado mais folk, “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972) é o emblema da estética glam rock, influenciador na música e na moda com regravações por artistas diversos, de Boy George a Guns and Roses; “Station to Station” (1976) traz o uso de sintetizadores misturados ao funk e baladas românticas, com letras que vão de filosofia, mitologia a religião; “Let’s Dance” (1983), com uma pegada mais pop rock e new wave. A lista é longa e passível de grandes discussões, o que reitera a influência e a importância de Bowie na cultura musical mundial. Vale lembrar também que Bowie produzia todas as capas de seus discos, escolhendo os fotógrafos, o figurino e ajudando a fazer o cenário das fotos.
8. Figurinos
A androginia sexy de Bowie, sua liberdade em misturar cores, estampas, de usar ternos masculinos de maneira feminina, dar virilidade às mais coloridas maquiagens e roupas justíssimas no corpo tiveram a contribuição de alguns designers como Freddie Burretti, que desenhou muitos de seus figurinos de Ziggy Stardust, como o macacão multicolorido de sua persona, o costume azul bebê do vídeo “Life on Mars” (1972), e também do estilista japonês Kansai Yamamoto, responsável pelo macacão glitter brilhante listrado óptico da turnê Aladdin Sane, de 1973. Já Ola Hudson criou os looks para a turnê do álbum Station to Station, em 1976, na fase mais austera de Thin White Duke.
9. Parcerias
Bowie tinha um talento raro em parcerias: o de jamais ofuscar o brilho do outro artista. Ao contrário, tornava-se a mão invisível que evidenciava suas qualidades. Foi assim quando produziu os primeiros discos solos de Lou Reed e Iggy Pop, artistas que conheceu ainda na condição de fã, quando se mudou para os Estados Unidos e o primeiro ainda estava no Velvet Underground e o outro, no The Stooges. Na turnê de “Lust for Life”, álbum de 1977 produzido por Bowie (ele também ajudou a produzir “The Idiot”, primeiro disco solo de Iggy Pop), reza a lenda que Bowie tocava ao vivo nos shows de Iggy, sempre escondido atrás de uma cortina preta. Para Lou Reed, produziu “Transformer” (1972), o disco da música “Walk on the Wild Side”. Bowie ainda escreveu a canção “Fame” com John Lennon, fez parceria com Mick Jagger e com Fred Mercury em “Under Pressure”, entre outros.
10. Fome de Viver
No cinema, Bowie fez interessantes incursões como ator. Sua estreia aconteceu em 1976 no drama de ficção científica “The Man Who Fell to Earth”, em que interpreta o protagonista, um extraterrestre que vem à Terra em busca de água para o seu planeta natal. Ele ganhou prêmio de melhor ator pelo Festival de Berlim e o filme virou cult. No também cult “Fome de Viver”, de 1983, interpretou um vampiro amante da também vampira Catherine Deneuve, desesperado com seu envelhecimento. Já na fábula “Labirinto – A Magia do Tempo”, de 1986, criou canções da trilha sonora e interpretou um rei dos duendes. Também fez participações no filme “Twin Peaks: Fire Walk With Me”, continuação de David Lynch para a série televisiva “Twin Peaks”, encarnando um detetive do FBI, em “Basquiat” (1996), como Andy Warhol, e na comédia “Zoolander”(2001), como ele mesmo.