Direção Criativa: a profissão, que é relativamente nova na moda, tem sido cada dia mais falada, mas acredite, antigamente, um estilista era apenas um estilista e essa denominação, da figura criativa que controla toda a criação (das coleções à comunicação e colaborações) de uma marca como um todo é bastante recente. Alguns dizem que Alexander McQueen teria sido o primeiro estilista a atuar como diretor criativo quando assumiu a Givenchy, em 1996.
Um diretor criativo é responsável por toda a gestão criativa de uma marca ou projeto: da concepção, design, liderança de equipes à execução, o que tem se tornado cada vez mais complexo, com as marcas ocupando mais plataformas, explorando formatos e linguagens. Hoje, o papel do Diretor Criativo na moda inclui não só a direção criativa do estilo, mas das campanhas, de mídias sociais, lojas e flagships e toda a mensagem global que a marca precisa transmitir para seu público. Afinal, além do branding, um dos aspectos que consegue deixar a comunicação de uma marca integrada e sua imagem memorável, é a coerência de uma boa direção criativa.
Para entender um pouco mais sobre esse papel tão importante na indústria da moda, nós analisamos o trabalho de algumas figuras marcantes que definiram o conceito de um diretor criativo na atualidade.
Hedi Slimane
Hedi Slimane talvez seja o estilista que popularizou a função de diretor criativo na moda. Fotógrafo e tendo estudado história da arte, ele sempre se dedicou a mais que as roupas em todas as marcas que passou, da Dior Homme (que foi lançada por ele) à Saint Laurent e atualmente, na Celine.
Slimane só aceita assumir uma marca se puder ter controle total da gestão criativa das casas por onde passa, imprimindo sua visão e estética tanto nas coleções, campanhas campanhas publicitárias, nas lojas, cenografias dos desfiles e na escolha das celebridades que usam seus designs nos red carpets.
O controle criativo dele passa até mesmo por alterar o nome das marcas. Sob seu comando criativo a Yves Sant Laurent virou só Saint Laurent e a Céline perdeu o acento no ‘e’. O designer desenha até mesmo a embalagem dos perfumes, bem como comissiona pessoalmente as trilhas sonoras de seus desfiles para bandas que ele pesquisa, tudo em um esforço para manter a coerência criativa das marcas. Além da silhueta marcante que desenvolveu na Dior, Hedi também é reconhecido pelo seu trabalho como um diretor criativo control freak. Nada que a marca a qual dirige faça acontece sem que exista o toque e aprovação final dele.
Rei Kawakubo
A designer japonesa, baseada em Tóquio e Paris, é fundadora da Comme Des Garçons e do Dover Street Market e tem uma carreira brilhante, com destaque para seu estilo de design avant-garde.
Além de estilista da Comme Des Garçons e sob este guarda-chuva, Kawabuko criou um império de multi-linhas, todas sob a mesma direção criativa. Coleções principais desfiladas em Paris, linhas como a Play, perfumes, a marcante parceria com a Converse: há uma oferta grande de produtos e preços com o espírito Comme Des Garçons.
Em 2004, antes do boom das lojas pop-up, a designer já criava espaços temporários que chamava de Guerrilla Store e que funcionavam como experimentos de varejo sob novas óticas e que mais tarde se transformariam no fenômeno das lojas pop-ups. As lojas mais se pareciam com instalações em bairros alternativos de Londres, Berlim e Paris. Rei Kawakubo também criou a própria multimarcas, a Dover Street Market, que abriu sua primeira loja em 2004 na rua Dover Street, em Londres. Rei é a responsável pela curadoria original das marcas, o que também contribui para a coerência da direção criativa de Kawakubo.
Kim Jones
O inglês Kim Jones estudou design gráfico e fotografia, antes de estudar moda na Central Saint Martins. Além de ter criado sua marca homônima em 2013, o designer também é o nome no comando criativo da Dior Men desde 2018 e da linha feminina da Fendi, desde 2020. Ele também já atuou como stylist e diretor de arte para uma série de revistas e publicações de moda.
Grande parte do trabalho de direção criativa na moda hoje, inclui o licenciamento de produtos e colaborações, e podemos afirmar que Kim Jones é rei das collabs. O diretor criativo foi o grande responsável por convencer a Supreme em criar uma collab com a Louis Vuitton. E ele foi além: Kim tem uma longa parceria com a Nike, desenhando periodicamente linhas para a marca, além de modelos para a Converse, colaborações com a Stussy, Alyx, Ambush, Sorayama e uma série de artistas plásticos (na direção criativa da Dior). O trabalho de produzir diversos produtos dentro da mesma identidade e comunicação criativa é parte importantíssima do trabalho de um diretor criativo hoje, pois conecta a marca a outros universos e audiências e o resultado são mais produtos desejáveis e lucro no caixa das marcas.
Virgil Abloh
Quando pensamos em Virgil Abloh, algumas coisas podem vir à mente: os lacres, seus “designs” com aspas, seu streetwear inteligente, ser um dos poucos homens negros à frente da direção criativa de uma maison de luxo são algumas delas. Virgil tem uma visão criativa bastante única, mesmo com designs simples, ele consegue deixar a sua marca em todos os produtos que cria – e não sou poucos!
Na Off-White, sua marca, Virgil tem um design marcante e que revolucionou o streetwear nos últimos anos, além de uma série de colaborações, das mais óbvias, como as com a Nike, até algumas mais inusitadas com a rede de produtos de casa sueca IKEA e a Pionner. Em março de 2018, como resultado de seu impressionante trabalho como diretor criativo, Virgil Abloh se tornou diretor da linha de moda masculina da Louis Vuitton, dando uma nova cara à marca e trazendo sua visão disruptiva e seu modus operandi criativo para a tradicional Vuitton.
Alexandre Herchcovitch
No Brasil, o diretor criativo mais notório é Alexandre Herchcovitch. O estilista e designer já foi dono de marca homônima, onde desenvolveu a marcante estampa de caveiras e o licenciamento de uma série de produtos, de isqueiros a almofadas e itens para casa – um movimento ainda pioneiro na época, por aqui que mais tarde viriam a ganhar o nome de colaborações.
Alexandre já foi diretor criativo de marcas importantes do mercado nacional como Zoomp, Cori, Rosa Chá e Olympikus e criou projetos com McDonalds, Mattel e Melissa.
Hoje, em outro momento de sua carreira, Herchcovitch está à frente da marca-mãe À La Garçonne e da ÀLG, na segunda focada no esporte e com posicionamento mais acessível. O design de Alexandre Herchcovitch é marcante, e em seus diversos empreendimentos na moda, ele conseguiu aliar muito bem a criatividade às necessidades do negócio, renovando marcas e tornando-as desejáveis, lucrativas e inovadoras, algo imprescindível para o trabalho de um diretor criativo.