Por Juliana Lopes, de Milão
Fila final do desfile da Dolce & Gabbana Verão 2013 ©Reprodução
Existem no mínimo dois modos de olhar a coleção de verão da Dolce & Gabbana: no espírito geral e nos particulares de cada look.
Friamente analisando look a look, podemos nos perder em querer traçar aspectos comuns. Hora nos lembramos de roupas de praia dos anos 30, hora sentimos um espírito Courreges, anos 60, com modelagens trapézio. Ou então, combinando com saias mini ou midi, os tops justos e curtos, estilo pin-up, que ainda dão o ar da graça em seu trajeto final de tendência. Nenhuma modelagem marcante, mas um mix delas que dialogam entre si. Encontramos listras e estampas, sempre em vestidos-quase foulards. Os brincos pesadões, cheios de badulaques, combinados com o lenço na cabeça nos trazem a lembrança de que estamos olhando pra uma Itália que praticamente esbarra na África. Longe do estilo milanês, é o estilo italiano de raiz, a mulher italianona decotada, mãe de família, que não recusa um prato de spaghetti.
Um dos looks da coleção Verão 2013 de Dolce & Gabbana ©Reprodução
Com o pensamento nessa italianona do Sul é que conseguimos nos conectar com uma análise mais geral e mais histórica de um feeling do que a Dolce & Gabbana propõe a cada temporada e se mantém fiel. A Itália da bonança, do excesso de beleza natural, da vida aproveitada até o último raio de sol, dos campos de flores e ervas, da gastronomia excitante que não economiza sais ou calorias. A Itália da grande família e das férias de 30, 50 dias sem sair da praia. Esses desejos todos são celebrados com o clima praia italiana, numa região cheia de tradições e memória histórica.
O recado já vinha sido dado nas últimas temporadas. Os editoriais publicitários, com grandes famílias reunidas e mulheres-mães sensuais em rendas pretas, sorrindo para a vida. Tudo parece que ganhou mais força quando a marca fechou sua segunda linha, a D&G, e focou apenas no fenômeno de identidade da primeira linha, que já estava descobrindo, provocando e reforçando sua imagem.
Uma das imagens da campanha atual da Dolce & Gabbana ©Reprodução
Vários indícios mostraram isso, mas na pequena história mais recente da tendência vemos a consagração do barroco como grande efeito da marca de Stefano Gabbana e Domenico Dolce. E o barroco foi para todos os lados, afetou inclusive a Prada (em seus acessórios principalmente), a Gucci, etc. Mas falou-se em barroquismo, pensa-se em Dolce & Gabbana. A escolha, no desfile masculino passado, de um casting totalmente popular, feito com meninos e homens escolhidos com outros critérios que não os comuns para uma passarela. Alguns mais feios, outros mais baixos, mas todos eram, inevitavelmente, pessoas do povo do sul da Itália.
Num tempo em que as imagens de referência pipocam na internet como micróbios em reprodução, as raízes tradicionais, informações mais concretas sobre um tipo de vida e estética, enfim, tudo aquilo que foi conservado por mais tempo, permanece. O que existia antes da internet, ou que ainda encontramos em contextos menos globalizados e de certa forma mais puros, nos transmite uma facilidade de identificação. Essa é a Itália da qual lembram bem os italianos, e que ainda existe, produz comida, cerâmica, turismo. É daí que saiu essa mulher Dolce & Gabbana que vimos na passarela: colorida, enfeitada, feminina e tradicional.
Modelos no camarim da Dolce & Gabbana ©Reprodução