>> E não é que a manhã chuvosa desta terça-feira (05/10) aqui em Paris foi perfeita para o desfile da Chanel? O cinza do céu, por entre as estruturas de ferro e vidro do teto do Grand Palais arrematou o jardim francês de pequenas pedras em branco e preto formando arabescos em torno das três fontes que se espalhavam por quase toda extensão da locação. Há tempos não se via uma passarela tão extensa na grife.
>> Não era apenas a locação que era grandiosa. Ao todo o casting somava 80 modelos _entre as quais estavam Inès de la Fressange, Stella Tenant e, como as únicas representantes do Brasil, Aline Weber e Isabeli Fontana. Ah, claro, e o “queridinho” de Karl Lagerfeld, Jean Baptiste Giabiconi.
>> Alguém me dá um pouco disso que a Coutrney (a Love) tomou? Na primeira fila do desfile, a cantora parecia em êxtase, dançando e pulando em seu lugar ao som da orquestra que reinterpretou, com toda uma grandiosidade, músicas de artistas contemporâneos como Björk e The Verve. Próximos a euforia da ex de Kurt Cobain estavam também Alexa Chung, Florence Welsh e Lily Allen.
>> E como analisar um desfile e uma coleção sem deixar se levar pela emoção da apresentação? Talvez a separação não deva ser feita tão estritamente em todos os casos, talvez nem seja possível. O fato é que ao fim do desfile, Karl Lagerfeld estava arrancando suspiros da plateia.
Enquanto o cenário transmitia uma certa serenidade, a partir do momento em que as primeiras duas modelos pisaram juntas na passarela ao som épico da orquestra ali presente, as emoções foram só se acumulando num crescendo sem fim.
Dos famosos casacos Chanel _agora rasgados, quase como que comidos por fungos_ com jeans manchados, passando pelas lindas estampas florais até os looks escuros e sofisticados no final, com plumas no colarinho fechado de um vestido preto de ombros marcados. Havia algo de obscuro e sombrio no ar. Aquele mesmo que deu aspecto pesado e até mesmo “sujo” para coleção de alta-costura em julho, só que agora mais trabalhado.
Há sempre algo de especial na visão e modo com que os temas são abordados por Karl Lagerfeld. E para o verão 2011, o jogo do masculino e feminino _tão Chanel_ ganha um significado completamente diferente. Para além das camisas e blazeres adaptados ao corpo da mulher, aqui a mais pura feminilidade vem subvertida. Masculinizada, quase que bruta, ou tomada numa atitude de descuido proposital.
Era essa a sensação nas dramáticas saias longas de cintura ligeiramente mais baixa _como que caídas_ combinadas com casaquetos quadrados de proporções um pouco afastadas do corpo, camisas ou blusas simples e sapatos pesados, como que para destoar propositalmente da sofisticação do look. Ou então, nas calças com cavalo baixo com as jaquetas rasgadas, nos chemises acinturados e plissados e nos tricôs com motivos assimétricos, numa desordem proposital, e inteiramente desejável. Como dizem por aqui, “dressed up”, mas sem se levar muito a sério. Estar arrumada, ao mesmo tempo que parecer desarrumada.