>> É interessante como algumas roupas podem parecer completamente apáticas na foto, e ao vivo fazem você querer esfregá-las todinhas pelo seu corpo. Com essa atual onda pró-minimalismo, então, isso é ainda mais comum. Virtualmente, as roupas da Céline podem parecer nada além de linhas puras e uma enorme limpeza no design. Porém, ao vivo, a perfeição de execução e acabamento, aliado ao mais puro conceito de simplicidade, funcionam quase como um calmante visual.
Simples. Elegante. Sofisticado. Luxuoso sem querer assim parecer. Era essa a sensação ao entrar na loja com decoração bruta, como se estivesse em reforma, com tubulações de ar e tijolos aparentes. Isso e a vontade de apertar e acariciar toda e qualquer peça texturizada exposta quase como uma obra de arte.
>> Aconteceu hoje no famoso prédio de paredes cinza da Avenue Montaigne, o press day da Dior. Trata-se de um grande showroom onde a imprensa pode conferir de perto as roupas da mais recente coleção desfilada na última sexta-feira (01/10) aqui em Paris. Tipo um backstage pós-desfile _só que com comidinhas e bebidas.
Nos manequins e araras a coleção exatamente como desfilada imprimiu ainda mais comercial. Sem a iluminação, música e toda aquela emoção da apresentação, são roupas prontas para a vida real. Aliás, uma vida real à beira-mar. Sempre bem colorido, o mais interessante foi poder ver de perto os tingimentos _em seda ou em crochê, quase como uma versão simplificada daqueles utilizados no inverno 2010 de alta-costura em julho deste ano_, e o trabalho artesanal de tiras de tecidos entrelaçados.
>> Afastada das passarelas desde 2003, a Cacharel marcou seu retorno para a semana de moda parisiense na última temporada (inverno 2010), atraindo uma considerável atenção de imprensa e compradores. De lá para cá, a marca expandiu com extrema rapidez sua presença em lojas de departamemto ao inaugurar novos pontos de venda ao redor do mundo _só nos EUA foram 50.
O sucesso não é à toa. Agora sob o comando do estilista francês Cédric Charlier a marca dá início a uma nova fase _mais contemporânea e jovial, ainda que mantendo sua essência. Assim, o verão 2011 vem todo trabalhado em cima das cores. Dos neutros aos ácidos são elas que dão força a coleção, toda trabalhada em algodão e seda.
As formas são simples, quase geométricas, com algumas sobreposições interessantes _principalmente quando aparecem os tricôs_, sempre em silhuetas afastadas do corpo. A camisaria é um elemento importante, aparecendo desde sua versão clássica (ou de smoking) e longos chemises com micro pregas no centro, até desconstruções mais elaboradas as transformando em micro coletes.
E os florais que se associam tão facilmente com a marca, agora ficam abstratos. Olhando para o trabalho de pintura de Kim Gordon, Charlier pensou em estampas quase como uma explosão de tintas, mas cujas formas se assemelhavam à flores.
>> “Girls who are boys, who like boy to be girls, who do boys like they’re girls, who do girls like they’re boys…” E assim, ao som de Blur, Stella McCartney falou exatamente sobre um dos principais rumos do verão 2011: o incansável jogo do masculino no feminino que encontrou na atual vontade minimalista e em algum resquício dos anos 80 a desculpa perfeita para se fazer mais uma vez presente.
E aí falou das calças de cintura alta, das camisas _aqui totalmente abotoadas_, das tão em alta camisetas-túnicas de mangas, das pantalonas e das sobreposições. Todos elementos que a estilista há tempos chama de “seus”, bem antes de toda essa onda pró-minimalista. Mais interessantes são seus vestidos longos de manga inflada, com torso ajustado e saias longas com plissados assimétricos e as estampas de limões e laranjas que aparecem no último bloco do desfile. Mais do mesmo? Pelo menos foi divertio.
>> O problema do minimalismo é que, na verdade, ele é chato. Fazer algo dentro desta estética sem cair na mesmice não é tarefa fácil. Tanto que apenas uma estação após ter se tornado a nova coqueluche fashion, a tendência já começa a dar sinais de desgaste. A antropofagia reciclável da moda tomou proporções tão extremas que os habituais 6 meses já são suficientes para fazer do novo, velho?
Se a gente tomar como exemplo o verão 2011 da Chloé a resposta pode ser: sim. Quer dizer, pode ser: talvez. Para não dizer que não houve nenhuma mudança, Hannah MacGibbon deixou o sportswear da coleção passada de lado para dar contornos mais elegantes para esta atual. Fato que, aliás, acabou eliminando sua jovialidade.
Se antes havia uma clara distinção entre a mulher Chloé e a Céline, agora essas duas praticamente se confundem. O desenho purista, as linhas e cortes simples, falam de uma maturidade um tanto austera demais para marca.
Vestidos de saia no meio da perna vinham, então, na mais perfeita execução. Corte preciso, linhas puras e uma cartela de cores neutras que só reforçou a sensação de sofisticação limpa da coleção. Tecidos encorpados nas partes de cima delineavam ainda mais firmemente as formas clássicas da coleção. Roupas lindas, mas um tanto herméticas demais. Onde antes havia algo de diversão e bem estar jovem, agora há caretice.
>> Tudo bem que era um dos desfiles mais aguardados, mas ninguém imaginou que a estréia de Giles Deacon na direção criativa da Ungaro fosse causar tamanho alvoroço. Fãs (da marca ou do estilista?) se aglomeravam na entrada do desfile impedindo que alguns importantes nomes da indústria conseguissem passar para o lado de dentro.
E numa passarela coberta de grama (artificial?) com carros antigos repletos de flores, Deacon levou a Ungaro de volta… bem, de volta para a França. Roupas extremamente femininas, que incluíam vestidos envelopes, saias drapeadas, blusas transparentes, lenços, calças cigarretes, laços, rendas, lingeries à mostra e todo aquele je ne sais quoi que fazem das mulheres parisienses particularmente sexy estavam ali na passarela. Havia também algo de lúdico na apresentação. No caminhar das modelos, nas poses… Um pouco daquele humor irreverente do novo estilista.
Jovial como nunca, sofisticada, bem humorada e provocativa, a coleção de verão 2011 sob comando de Giles Deacon, parece estar finalmente colocando a Ungaro no caminho certo.
>> Será que podemos dizer que a alta dose de glamour e todo clima 1970s presentes no desfile da Yves Saint Laurent seriam uma adequação de Stefano Pilati as vontades do momento? Ou seriam o caminho inverso? Afinal de contas, o grande Yves Saint Laurent em si é referência máxima para esta temporada.
Seja lá qual for a resposta, o que importa mesmo é que Pilati apresentou uma das melhores interpretações da década. Uma versão obscura, com batons mate bem escuros, cabelos presos e sensualidade latente no ar. Calças de cintura bem marcada (e alta) vinham combinadas com blusas-colete frente única ou bons macacões de silhueta seca, saias estreitas faziam par com blusas volumosas ou camisas de manga ampla,vestidos transparentes no melhor estilo 70s, e acessórios felpudos imprimiam ainda mais sensualidade e glamour.
O mais interessante, contudo, é como Pilati conseguiu fazer tudo parecer autêntico e atual. Aplicando recortes geométricos em suas peças _como as fendas arrematadas por pequenos bolsos nas saias evasês_ o estilista fala de uma certa contemporaneidade discreta, balanceando bem passado e presente.