The sound of silence
As 56 modelos que desfilaram para Marc Jacobs na noite de ontem (13.09), encerrando a NYFW, cruzaram a passarela ao som do silêncio, acompanhadas apenas pelas batidas dos seus próprios passos ou pelo som das miçangas e contas dos acessórios que vestiam. Não havia nenhuma música para sugerir o universo que a coleção habita, vagamente indicado nas notas do estilista como “somewhere (algum lugar)”. A história foi contada, então, através apenas das imagens das roupas e da atitude das modelos, cujo casting, aliás, contou com as rainhas de cliques Kendall Jenner, Taylor Hill, Bella e Gigi Hadid, além de Winnie Harlow, Edie Campbell, Adwoa Aboah, a brasileira Virgínia Santos e a mais-mais da temporada nova-iorquina Kaia Gerber, que fechou o desfile. O silêncio foi quebrado com a entrada da fila final, embalada pela dramática ária do filme francês Diva, de 1981. Segundo o crítico Roger Ebert, o longa é acima de tudo sobre o prazer do diretor em realiza-lo, um paralelo que pode ser feito com a abordagem do estilista sobre a moda, sugerido por Nicole Phelps, da Vogue. Afinal, em sua trajetória de 25 anos na moda, Jacobs sempre fez desfiles com paixão e loucura.
A inspiração
A mulher do Verão 18 de Jacobs soa como uma excêntrica à la Edith Beale: misteriosa, exuberante e um tanto melancólica, suspensa num feriado sem fim. “Durante os últimos meses, nós tiramos férias nas nossas cabeças e fomos para algum lugar – deturpando fantasia em realidade por meio de silhuetas de sportswear exageradas, decadentes e exóticas”, diziam as notas. Códigos visuais tão variados só poderiam mesmo apontar para uma volta ao mundo imaginária. Algum lugar, lugar algum – talvez daí a ausência de trilha? “É a reimaginação de estações passadas num lugar além da paisagem urbana de Nova York”, comenta. Na passarela, estampas opulentas (com direito a florais gigantes), cores vívidas, silhuetas oversized, sandálias rasteiras adornadas com plumas e contas, pochetes e bolsas weekenders, além de muito paetê.
Turbulência turbante
Turbantes de seda em diversas cores e estampas finalizaram os looks de cada modelo. A ideia de Marc era fazer ao look em lamê que Kate Moss vestiu no Baile do MET de 2009 e aos retratos recentes de Sofia Coppola para a WSJ Magazine, em que a cineasta vestiu Marc Jacobs e pediu para usar turbante. As peças criadas para o desfile contaram com a colaboração do chapeleiro Stephen Jones. “São turbantes do mundo inteiro. Pensamos no princípio básico: qual o melhor chapéu do mundo? É uma mulher saindo do banho amarrando uma toalha na cabeça”. Contudo, o backlash por apropriação cultural nessa viagem imaginária (que aponta para além do oeste, vale dizer) não demorou a chegar nas redes sociais da marca. O desfile do Verão 17, em que todo o casting de modelos usou dreadlocks em azul e rosa nos cabelos, gerou o mesmo tipo de controvérsia. Na época, Marc rebateu no Instagram dizendo: “Não enxergo cor ou raça – enxergo pessoas”, mas eventualmente se desculpou em entrevista à revista InStyle. “Talvez eu não tenha a linguagem para isso, talvez eu tenha sido insensível porque opero dentro da minha pequena bolha da moda”. Nenhum comentário sobre o desfile de ontem foi feito em nome da marca ou do estilista até o momento.
Rumor has it
Polêmica à parte, o desfile veio ainda coberto por uma nuvem de rumores. Isso porque em julho deste ano, o Business of Fashion reportou que Marc não demoraria a se afastar da marca que leva seu nome. Ao WWD, o estilista negou essa história dizendo que estava trabalhando com afinco na nova coleção, apresentada ontem. Mas os rumores permanecem, especialmente tendo em vista as mudanças pelas quais a empresa tem passado como o desligamento de Robert Duffy, em 2015, o fechamento de várias boutiques (5 das 6 lojas na Bleecker Street, em NY, por exemplo) e a descontinuação da linha Marc by Marc Jacobs. Se este foi ou não o último desfile do estilista à frente da sua label, não sabemos, mas o fotógrafo Stephen Shore foi incumbido pelo estilista de documentar todo o processo de criação e apresentação da coleção. A comunidade da moda, que tem em Jacobs uma figura de “último romântico” e que apesar do sucesso comercial ainda faz moda com tesão, também já se manifesta. “Marc Jacobs ainda é o desfile em que as celebridades querem ser vistas e que as modelos querem fazer. Ele sabe o que está acontecendo e o que é cool antes do resto”, comenta Nicole Phelps. “Ele pode reenergizar a marca. Está numa idade em que pode ser que queira fazer outra coisa da vida, mas eu espero que ele fique”, completa Cathy Horn, da New York Magazine, em reportagem do NY Post. A editora-chefe da InStyle, Laura Brown, completa: “Marc é a alma e o coração da NYFW. Ele é um talento único”.
Veja o desfile completo aqui.