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    Entrevista: a história por trás das noivas de Emannuelle Junqueira
    Entrevista: a história por trás das noivas de Emannuelle Junqueira
    POR Redação

    A estilista Emannuelle Junqueira durante entrevista ao FFW ©Ricardo Toscani

    Dando continuidade a nossa serie de entrevistas com personagens da moda brasileira (relembre as matérias com Jack VartanianDudu Bertholini e Rita Comparato, da Neon; Juliana JabourHelô Rocha, da Têca; e Carô Gold e Pitty Taliani, da Amapô), a estilista Emannuelle Junqueira gentilmente recebeu o FFW em sua loja nos Jardins, em São Paulo, para uma conversa sobre moda, negócios e sensibilidade. Leia abaixo:

    O início do interesse e a formação em moda

    Deve ter começado porque um tio tinha uma confecção, uma marca masculina bem legal, com lojas no Rio; a fábrica era em São Cristóvão, e eu lembro que ia com ele e acompanhava um pouco do desenvolvimento e ficava desenhando. Talvez tenha sido lá o primeiro contato. Depois me interessei novamente na adolescência — aos 14 anos, comecei a costurar por vontade própria, porque queria fazer roupa pra mim, e passei a comercializar no colégio. E na hora de decidir mesmo o que eu faria… Era em 1993, o curso de moda era super novo aqui no Brasil, a gente ainda ficava um pouco receoso, não sabia se era promissor ou não. Quase fiz Arquitetura, quase fiz Publicidade, mas quando decidi por moda, estava decidido, nem procurei outra faculdade ou outra profissão.

    Trabalhei bastante, desde o segundo ano de faculdade, sempre fui super curiosa, fucei todas as áreas. Mas a arte e a arquitetura sempre me influenciaram, desde pequena. Nasci no Rio de Janeiro, que já tem um charme dele, depois viajei; moramos um pouco na Europa, o que acho que também agregou informação visual, cores – talvez as minhas influências das cores com que eu trabalho até hoje, que são sempre mais invernais, empoeiradas, tenham a ver com isso. Eu tinha sete anos quando fui morar fora, e voltei pro Rio aos 10. Fui pra Paris e Turim, dois lugares lindos de morrer, com a família inteira — meu pai, que era da Aeronáutica, foi trabalhar lá. Foi muito boa essa oportunidade, pra mim foi essencial.

    O vestido de casamento de Emannuelle Junqueira (imagens cedidas pela estilista para uso do FFW)

    A começo da marca e a abertura do atelier

    [Depois de terminar a faculdade] passei pela Carvin masculina, pela FIT, que foi meu primeiro estágio, na época do Morumbi Fashion, Ellus e mais algumas outras. A minha marca começou em 1999/2000. Quando eu casei, fiz meu vestido, e fiz uma marca – mas não abri um espaço. Tinha a marca, a etiqueta, mas ia fazendo em paralelo com outras coisas. Abri o atelier em 2003, comecei por acaso essa história de noiva, que acho que me pegou, e ela foi crescendo pra outras linhas.

    Minha intenção inicial não era focar em noivas, tanto que sempre trabalhei em outros setores. Quando casei, fui atrás de fazer o meu vestido, e a partir disso as pessoas foram me procurando e as coisas foram acontecendo, mas fiquei uns quatro anos fazendo isso como um paralelo, em casa. Eu tinha muita vontade de conhecer e entender o mercado – mais do que a moda ou a criação. Isso me preocupava demais. A gente não se prepara pra isso na faculdade. Eu me preocupava em conhecer tecidos a fundo, modelagens, fornecedores, fabricantes, tudo que eu pudesse. Abri quando a minha filha nasceu; acho que foi um momento “ela vai nascer, minha vida vai mudar, então vamos mudar tudo de uma vez!” (risos), daí eu abri o atelier.

    Criação X Business: o aprendizado na faculdade e na vida real

    Na Santa Marcelina eles são fantásticos em Criação, eu sempre falo que a Santa Marcelina cria artistas e designers maravilhosos, mas não tão preparados pro mercado, até quanto à postura profissional… Encarei fábrica de cinto masculino, encarei algumas coisas pra me preparar mesmo. Porque não é fácil se manter, crescer. É dia a dia. Contei muito com o apoio da minha família toda. Abri a marca com a minha mãe, e ela me ajudava na parte administrativa; meu pai, apesar de engenheiro, empresário, deu muita força no começo com relação a softwear – era muito engraçado, a gente alugava salas e fazia uma vez por mês uma reunião de planejamento. E hoje eu tenho junto comigo, minha cunhada no comercial e minha irmã, no marketing — isso deu muita segurança, porque estar sozinha num momento desse é muito difícil, ainda mais tendo essa cabeça mais criativa. Acho que me forcei a sair um pouco desse mundo da lua, porque a minha essência é um pouco essa, não dá pra negar (risos).

    O piso térreo da loja de Emannuelle Junqueira em São Paulo ©Ricardo Toscani

    A dinâmica de trabalho 

    Tenho duas assistentes e divido o atelier em estilo noiva, e estilo coleção. Acredito muito no foco: sempre dei muito foco ao varejo em si, ao treinamento da minha equipe, tanto comercial quanto no escritório.

    Cada vez menos eu trabalho com tendências, é uma coisa bem interessante. Sempre pesquiso muito as marcas que eu gosto de usar, pra mim. Sou bem eclética, então são marcas muito autorais, muito diferentes do que eu faço, mas que você vê que tem uma identidade muito forte, independente de qualquer tipo de tendência. Lógico, eu preciso saber o que está acontecendo no mundo, economicamente, socialmente, pra me inspirar em alguma coisa que tem a ver com o momento. Quero sempre novidades, quero inovar com materiais e beneficiamento, mas não tendências.

    Mariage e Prêt-à-Porter

    Hoje tenho três linhas de noivas: o Exclusivo, que é o premium, que eu faço do começo ao fim e preparo essa roupa especialmente pra alguém; o Sob Medida, que tem crescido muito, que é mais independente de mim no atendimento – ofereço cerca de 30 vestidos customizáveis, elas podem trocar tecido, e são feitos sob medida; e tem a linha mais recente, a Off-White, para um novo perfil de mulher, muito prática que quer um vestido lindo pra casar e ponto. Elas não têm tempo ou não têm esse sonho, não sentem a necessidade de passar por todo um ritual. Esses três formam a Mariage; daí tem também a coleção que é cada vez mais de after-six. É uma roupa super especial que, também sem perder a identidade da marca, abrange muitos estilos de mulheres. E a linha de lingerie com a Jogê, que é um desejo que eu tenho super forte e ainda preciso pensar com mais carinho, porque a lingerie fala muito essa mesma língua da minha roupa, e eu sinto um pouco de carência desse estilo no mercado. A colaboração com a Jogê foi lançada em novembro; foi um laboratório e tem sido ótimo. Eu gostaria de fazer coisas muito mais mirabolantes do que eu faço, mas a gente tem que se segurar um pouco com timing, processos, custos…

    A coleção Jogê + Emannuelle Junqueira ©Divulgação

    Identidade da marca Emannuelle Junqueira

    Sempre tive essa coisa de ter o meu olhar, a minha mão na minha peça — sempre mexia em alguma coisa, pensando “ela ainda poderia ser comprada em outro lugar”. A roupa tem que ter a identidade forte da marca, não dá pra confundir.

    O que faz a minha marca ser reconhecível é uma mistura de algo que foi construído. A peça, por mais simples que ela seja, não pode sair do papel pra modelagem. Ela tem que sair do papel, passando por um processo de moulage, indo pra modelagem. Porque isso vai me fazer criar outras possibilidades. E há sempre algum beneficiamento em cima, texturas. A peça tem que ter força, tem que encantar. É isso, acho que é encantamento, e um encantamento por algo que a pessoa não consegue distinguir. Então acho que a pessoa tem que olhar e pensar “é tão especial, mas o que que faz essa peça ser especial?”. As minhas roupas são bem trabalhadas, mas não têm nada que seja maxi, não tem a coisa de choque. É difícil descrever quando você tem tantos elementos e ao mesmo tempo tem um resultado limpo.

    Pontos de venda físicos e online

    Tenho uma loja própria e alguns poucos pontos de venda de atacado. Sempre me preocupei ao vender em multimarcas porque das vezes que fui visitar pra ver como estavam os produtos, eles os expõem miscigenando com outras marcas, com roupas que não tem nada a ver, e isso me incomodava, porque a marca é mais do que a roupa, é todo um conceito. Então se for pra fazer uma ampliação, ela pode até estar dentro de uma multimarcas, mas ela tem que ter o conceito dela. E em novembro abro no Rio de Janeiro, no Village Mall. Por enquanto não haverá o atendimento personalizado; vamos ver se mais pra frente eu vou uma vez ou outra, mas a ideia é levar o Sob Medida, o Off-White e a minha coleção.

    Vendo pela Farfetch também, e agora vamos fazer uma ação com a linha Off-White, que é uma linha mais prática. Se é viável vender vestidos de noiva pela internet, mesmo sendo uma linha direcionada a um novo perfil de mulher? Acho que futuramente sim. Há uns oito anos a gente falava de e-commerce de moda como uma coisa absurda: “Imagina, ninguém vai comprar roupa pela internet!”. Lembro que em algumas empresas por onde passei eles falavam “isso é uma viagem! Você pode comprar até um produto, um objeto, mas roupa não se compra”. E acho que isso já está mudando. É interessante estar na Farfetch porque faz as pessoas comprarem a moda pela internet: quando você entra no site, você tem uma leitura, um bom gosto, uma excelente seleção, ótimas fotos; isso faz com que a pessoa se atraia.

    Vestidos no andar superior da loja, onde é feito o atendimento da linha Exclusivo ©Ricardo Toscani

    Posicionamento da marca com as mídias sociais

    Tenho feito muito. No instagram eu trabalho com o meu lifestyle, é tudo muito natural. O meu olhar está ali, eu fotografo, não deixo ninguém mexer! (risos). O Pinterest, que é uma outra comunicação interessante, inteligente e que tem feito a gente ter muito interesse de fora. O Facebook tem a página que é praticamente um site. E o twitter, que é uma comunicação mais via imagem. A gente consegue atingir a pessoa da maneira que acreditamos porque somos nós que alimentamos; chegamos à pessoa de uma maneira muito verdadeira – isso que é interessante.

    Contato com a cliente e relação emotiva

    É engraçado isso; por mais independente, autêntica que ela seja, é um momento muito sensível. Acho que é o mesmo momento de um pré-natal, porque envolve muitas pessoas, a família, uma expectativa muito grande. Então sinto que elas estão em um momento enlouquecedor, e elas se sentem acolhidas. Elas chegam e falam “ah, que bom, cheguei!”. Já tive muitas histórias, dos stresses, dos problemas de saúde; já tive noivas que passaram por problemas muito sérios, e todas elas se sentiam acolhidas aqui. E elas saem chorando, um dia desses tinha três saindo com o vestido, e as três saíram chorando! Sabe mulheres que você nem imagina? Chorando de emoção, começam a falar “muito obrigada, e baahh”, e começa a chorar! É bem lindo, e eu me orgulho demais, encho o peito pra falar, porque é um momento tão especial…

    É uma dinâmica bem diferente de prêt-à-porter, por isso eu tenho equipes distintas no escritório. A outra já é loucura – é tingimento, fornecedor, a pedraria que não veio; é outra história. Aqui é a parte gostosa que a gente consegue apresentar, porque a noiva vai vendo o vestido sendo construído. Mas os dois me encantam muito. Estar aqui dentro com a noiva e fazer o vestido pra ela é uma terapia; eu preciso disso! Se fico uma semana sem fazer, já sinto falta. E isso me traz muita inspiração pra fazer a coleção, que é onde eu posso pirar mais, usar cor, que pra mim é essencial também. Mas também quero me desprender e cada vez mais ampliar essa visão com outras coisas. Um artista que eu admiro demais e que acho um caminho super interessante é o Ronaldo Fraga. Ele tem isso, vai lançar um livro agora, vai virar exposição… a moda precisa disso.

    + emannuellejunqueira.com.br

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