Direto de Milão
Fila final do desfile de Verão 2014 da Fendi ©Juliana Lopes
Dois pontos apareceram muito no desfile da Fendi na temporada italiana: as cores e as retas.
A escolha de cores parece ter vindo primeiro no processo criativo. As aquarelas desenhadas por Karl Lagerfeld, diretor criativo da marca, no material de divulgação, já contam um pouco dessa história. E o tom pitanga ficou registrado na mente, ainda que tenham sido tantos os azuis e brancos. Quando um desfile apresenta uma quantidade bem marcada de tons de uma mesma cor gritante como essa, a informação que chega para o espectador é: “Estou propondo a cor pitanga, estou propondo a cor pitanga!”. A escolha de cores é algo arriscado, porque dominante. Os olhos ofuscados por cores demoram um pouco para olhar as formas.
No caso da Fendi, os cabelos minimal, retos, como saídos de algum desenho japonês, ajudam a fortalecer a outra informação que vem logo após as cores: a geometria.
A jornalista Suzy Menkes já tinha observado que a primavera passada (do hemisfério norte) foi “gráfica”. Marc Jacobs, Louis Vuitton, Christopher Kane e outros nomes andaram, literalmente, por essa linha. A Fendi nesta temporada, em sua proposta para 2014, ainda que com certos escapes, veio geométrica.
Cores e acessórios de impacto na coleção de Verão 2014 da Fendi ©Juliana Lopes
Que o modernismo, mais precisamente o racionalismo, tenha conquistado um lugar forte nas referências de moda contemporâneas, ninguém duvida. O que suscita uma certa investigação é: por que os criativos e os consumidores não se cansam das linhas retas? Onde está o charme do reto, se somos todos feitos de formas orgânicas?
Um dos conceitos basilares da geometria é o de que a menor distância entre dois pontos distintos é uma linha reta. Na arquitetura, ainda que se construa uma praça redonda, é sabido que a tendência dos passantes é cortar o círculo pelo meio, buscando uma reta. As retas nos dão conforto. São a simplicidade. A base. Caberia uma investigação científica infinita para entender a relação entre o homem e as linhas retas.
Mas estamos falando de um desfile que, por definição, é algo passageiro. Ok, só que o espírito do tempo é menos passageiro que o desfile, então vale olhar um pouquinho pra trás e para outras propostas. E reconhecer que essa geometria, ainda que diferente, é uma continuação. De algo perene, que vem provavelmente das primeiras cidades antigas que eram feitas de retas, retângulos, quadrados. A tendência pela busca das retas vem muito antes das coleções do ano passado e das observações de Suzy Menkes.
O que aconteceu hoje na passarela foi sim, uma geometria, mas suavizada. Como a música de Kraftwerk “We are The Robots”, que fechou o desfile. Remixada, bem menos seca, batida e robótica que a original.