James Gager, vice-presidente sênior e diretor criativo da M.A.C; Jennifer Balbier, vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da M.A.C; Gareth Pugh; e John Demsey, presidente da M.A.C Cosmetics ©Divulgação
Quando foi anunciado o lançamento da coleção colaborativa entre a M.A.C e Gareth Pugh, a reportagem da “Mag!” viajou a Nova York à convite da gigante dos cosméticos para uma entrevista com o próprio estilista, além de Jennifer Balbier (vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da M.A.C) e Alexis Page (gerente de desenvolvimento de produtos da M.A.C) (A reportagem foi publicada na edição #28 da revista). A linha de maquiagem, em que até as embalagens são totalmente personalizadas para refletir o estilo de Pugh, finalmente chegou ao Brasil; entenda o conceito da coleção nas palavras de seus criadores, em entrevista na íntegra a seguir:
Pelo release sobre a coleção, tem-se a impressão de que você tinha uma ideia muito clara do que você queria; você sempre quis, ou já considerava fazer uma coleção de maquiagem?
Para ser sincero, não muito; quer dizer, foi uma coisa que fez muito sentido quando a M.A.C me abordou, porque ela está comigo desde o comecinho, e eles são uma ótima companhia para se trabalhar em conjunto. Eu não faço esse tipo de coisa com muita frequência, então tem que ser certo e tem que fazer sentido, e fez, e foi assim que aconteceu.
No release, a Jennifer Balbier diz que “na primeira reunião que tivemos em Nova York, o Gareth explicou que as pessoas o acham meio gótico, mas que o que ele realmente está interessado em criar é um rosto belo”. Qual é o seu conceito de beleza?
Acho que o que eu faço é muito específico, e o que eu acho que é bonito pode não ser a percepção geral de beleza, mas sempre gosto que as minhas mulheres sejam muito poderosas, muito fortes, muito assertivas, e eu precisava transformar o que eu faço na passarela em algo que eu nunca havia feito antes, que é maquiagem — e também pensando no quesito cor, porque em meu trabalho eu me limito intencionalmente no que diz respeito ao que eu uso, mas obviamente as cores na coleção são uma parte incrivelmente importante dela, então eu não queria que o ponto central fosse o preto ou alguma coisa monótona.
Com a embalagem fazia sentido para mim que ela fosse preta, e rígida, e brilhante, e algo que fosse muito “eu”, mas que dentro fosse algo quase surpreendente, eu suponho. Então temos esse tipo de beleza, como o esmalte, por exemplo. Temos dois esmaltes que meio que têm reflexos, que refletem do roxo para o verde, temos um que reflete do azul, verde, roxo, e a ideia é que seja como uma tempestade elétrica, porque o que eu faço tem muito a ver com opostos se unindo. Então temos o preto, e então o prata, talvez como o relâmpago, o roxo, como a névoa que o envolve. A minha ideia de beleza é uma ideia muito abstrata, mas acho que a cada seis meses eu posso falar o que estou sentindo naquele dado momento, então cada coleção para mim é como uma progressão da última, é como o próximo passo. Minha ideia de beleza está constantemente evoluindo, não é bem uma noção, é algo que, novamente, é bastante abstrato, e eu estou muito aberto a mudanças no que diz respeito às minhas ideias.
Assim como faz em seu trabalho como designer, Gareth Pugh decidiu divulgar sua parceria com a M.A.C por meio de um vídeo produzido com sua colaboradora de longa data Ruth Hogben:
Eu gostaria de saber mais da sua relação com maquiagem e beleza; quais são as suas primeiras lembranças de brincar com maquiagem, ou de descobrir o que era isso?
Acho que a minha primeira lembrança de maquiagem é de observar minha mãe se arrumando para sair numa noite de sábado, e o cheiro do esmalte dela — eram os anos 1980, então rolava muito esmalte vermelho framboesa (risos). E minha avó usava um tipo muito específico de rouge. E também, eu era dançarino, então quando tinha apresentações no palco, eu usava muita maquiagem e pancake no rosto. Essas são algumas das primeiras lembranças, mas maquiagem é uma coisa que eu uso todo dia. Não me sinto incomodado de dizer que uso maquiagem, como um homem, não é algo que eu ache nem um pouco desmasculinizante, é algo que uso para me fazer sentir melhor, ter uma aparência melhor. E eu penso as minhas roupas como sendo espécies de armaduras, então a maquiagem é meio que uma extensão disso; e eu gosto bastante do fato de que ela é como uma máscara invisível, então a maquiagem tem muitas conotações diferentes. É algo com o qual eu sou muito familiarizado, e eu gosto do poder dela, ela tem um poder transformador muito forte, e acho que isso é verdadeiro para a maquiagem e verdadeiro para minhas roupas e verdadeiro para a moda em geral: trata-se de aspiração e de ser uma pessoa que talvez você não seja por um curto período de tempo, e então você pode tirar as suas roupas ou limpar a sua maquiagem, e você volta à estaca zero. Mas é legal que toda vez você meio que se prepare para entrar em uma jornada, e ser outra pessoa. É legal!
Não sabia que você era dançarino. Que tipo de dança você fazia?
Muitas coisas diferentes; ballet era a coisa que eu amava. Fiz desde os nove até os 16 ou 17, já faz um tempo, não sou tão flexível quanto eu costumava ser, eu conseguia colocar a minha perna aqui [ele ri, enquanto faz uma mímica de quem coloca a perna perto da orelha].
Você estava dizendo que também usa maquiagem, e estou vendo que você está usando o esmalte; em algum momento você considerou direcionar a campanha dessa coleção para homens, por exemplo usando um modelo homem?
Bem, na verdade o James Gager [vice-presidente sênior e diretor criativo da M.A.C] queria que eu aparecesse na campanha. Eu fiquei um pouco preocupado, eu não sou mais um jovemzinho (risos!), mas, enfim, essas coisas que estão aqui eu uso o tempo todo, como o esmalte, o delineador, até a máscara de cílios de vez em quando. O “Strada”, é um produto que a M.A.C já fazia e é tipo uma ferramenta universal de contorno, faz você parecer bastante definido. E também há o “Beauty Powder”, que funciona em todos os tons de pele, seja você um homem ou uma mulher, ele matifica a pele. Qualquer coisa pode ser usada por qualquer pessoa, você pode criar suas próprias regras em relação a até onde você quer ir. Você pode fazer o extremo que nós vimos no filme, com os cílios duplos, ou você pode apenas usar um pouco do delineador e do esmalte, e você tem uma versão muito mais diluída. Os ingredientes estão aí para você brincar do jeito que você quiser.
A coleção M.A.C + Gareth Pugh ©Divulgação
Os cílios são incríveis!
Sim!
Jennifer Balbier: Nós achamos que eles se diferenciam de todo o resto, porque pelo que a gente sabe ninguém nunca havia tentado fazer um cílio como esse, e a Alexis pode falar sobre isso.
Alexis Page: Quando começamos, o Gareth cortou alguns [cílios] de papel, e pensamos ‘a gente consegue fazer cílios de papel?’, o que na verdade não é seguro, do ponto de vista cosmético, então nós simplesmente pegamos o formato do cílio de papel e o traduzimos para cílios reais — o que foi um processo de ir e voltar, e de ‘como vamos conseguir a densidade certa, e exatamente o formato geométrico certo que a gente queria’. Mas eles são realmente incríveis quando usados porque eles substituem a necessidade de qualquer outra maquiagem para os olhos. Você pode pintá-los com delineador líquido e conseguir o mesmo efeito, ou você pode só usar os cílios e é isso aí, eles simplesmente adicionam uma dimensão diferente aos olhos.
Vocês têm itens preferidos nesta coleção?
Sim, os cílios, os esmaltes que meio que variam de cor… A outra coisa que eu acho que a minha mãe vai ficar muito feliz de ganhar no Natal é o grande item da coleção, esse pó compacto bem pesado, e tem o pó e a esponja, e ele meio que parece uma coisa especial e cara.
Já ouvi falar que a gente reconhece a qualidade de um produto de beleza pelo seu peso.
Oh, bem, isso nós temos! (risos!)
Jennifer: Isso é verdade, porque nós os pesamos, para ter certeza de que eles passem essa sensação, porque isso é psicológico, com a mulher. Quando ela segura alguma coisa que é muito levinha, ela não acha que aquilo é caro. Eles fazem essa pesquisa, ano após ano, e isso não mudou.
O que você achou do processo de criação para esta linha? Viu similaridades com o trabalho que você desenvolve como estilista?
Foi um tipo de abordagem muito diferente; com o meu próprio trabalho é uma coisa de forma de silhueta, e como ela funciona no corpo, e como ela funciona quando em movimento, enquanto que isto é simplesmente um exercício sobre cor e textura. É um processo muito diferente, mas eu acho que ambos vêm de pontos de partida similares. E com as roupas e com isto, tudo vem de mim, eu não trabalho com assistentes, não trabalho com estilistas assistentes, tudo vem de mim, então é claro que vai existir um fio condutor muito específico que corre em tudo o que eu faço, e acho que isso é um jeito muito legal de trabalhar, porque significa que posso manter a minha identidade, o que eu suponho que como um estilista é coisa mais importante a se manter.
Imagem de divulgação da coleção M.A.C + Gareth Pugh ©Divulgação
Ambos são relevantes. Sou muito ligado ao meu próprio trabalho, não costumo me permitir ir muito longe do que eu faço; a cada temporada eu gosto de pensar que estou fazendo algo diferente do que fiz anteriormente. Como eu disse, é uma evolução de ideias, mas com isto, era uma oportunidade de oferecer algo a que qualquer pessoa pode ter acesso. É tipo, minha mãe não tem nenhuma roupa minha, mas ela vai amar isto, porque vem de mim, e vem do mesmo lugar, mas ela nunca poderia sair andando vestindo uma dessas coisas [enquanto aponta para os vestidos Gareth Pugh expostos no fundo da sala] (risos gerais). E essa é a grande coisa da maquiagem, porque é muito mais acessível, e muito mais sutil, de certa maneira, do que roupas. Como eu dizia, você pode ir e fazer aquele extremo que temos no filme, ou você pode quebrar aquilo e fazer algo mais simples, mas que ainda tem algo de meu naquilo; enquanto que com as roupas, não há muito onde quebrar, aquilo é o que é, é o casaco enorme, com ombros enormes (risos!), não há muito o que você possa fazer, além de aceitá-lo como ele é.
Gostaria que você explicasse os elementos que são “essencialmente Gareth Pugh”, o porquê deles serem importantes para você – e como esses elementos foram traduzidos em maquiagem.
A forma geométrica está comigo há muito tempo, e é algo com o qual a gente trabalha bastante a cada estação. E há muitos motivos diferentes: os triângulos são a forma mais forte que conhecemos, nós os vemos muito na arquitetura, no misticismo, e em muitas outras coisas, como na nota de um dólar, com o olho. E o quadrado feito de quatro triângulos é um tema que eu tenho usado já há muitas temporadas, e é algo que eu uso em meus próprios acessórios. A coisa dos opostos é que eu gosto que eles criam uma espécie de fricção. É como os ímãs, sabe quando você coloca dois ímãs juntos, e eles meio que lutam? É como quando você veste uma mulher com algo bem masculino, eu gosto dessa fricção. Com essa coleção de maquiagem, nós temos as cores meio de um relâmpago; a ideia foi criar algo bem prateado e frágil, e criar o outro lado da moeda, que é de um azul e roxo muito escuros, e meio sombrios — e essas duas coisas funcionam independentemente uma da outra, mas funcionam nesta coleção como os opostos com que eu trabalho nas minhas coleções. A ideia é que homens e mulheres podem ter acesso a coisas diferentes, seja um visual mais para o dia, ou você pode carregar um pouco para a noite, e eu gosto dessa dualidade; essa é uma boa palavra, dualidade, é como você poder ter o melhor dos dois mundos.