Na última sexta (05.08), Gisele Bündchen fez a mais longa entrada de passarela de sua carreira ao percorrer 128 metros no estádio do Maracanã, ao som de “Garota de Ipanema” durante a cerimônia de abertura oficial dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O look, admirado de todos os ângulos e transmitido para o mundo, foi assinado por Alexandre Herchcovitch, um trabalho que durou quatro meses para ficar pronto.

A seguir, o estilista conta, em depoimento exclusivo ao FFW, o passo a passo de todo esse processo, entre encontros e desencontros, provas de roupa e trocas de sugestões até o resultado final, momento que foi um dos mais comentados da abertura.

Por Alexandre Herchcovitch, exclusivo para o FFW

Gisele com Regina, mãe de Herchcovitch e Rhody, que trabalha com o estilista ©Cortesia de Herchcovitch

Sobre o convite: minha grande amiga e figurinista da abertura dos Jogos Olímpicos, Claudia Kopke, me ligou e perguntou se eu faria o figurino da Gisele e também da Regina Casé para o evento. Imediatamente disse que sim!

Em abril passado, meu primeiro encontro com Gisele para tirar medidas não aconteceu, pois nossas agendas não bateram. Mandei minha mãe Regina e meu assistente Rhody ao hotel onde ela estava hospedada em São Paulo para conversar sobre o que ela tinha em mente e tirar as medidas.

Samanta Shoel, Gisele e Herchcovitch ©Cortesia Alexandre Herchcovitch

Após sete dias da apresentação dos desenhos, idéias e tecidos, nos encontramos para a primeira prova de roupa em São Paulo. Confeccionei as peças no ateliê de uma grande amiga, Samanta Shoel, que me acompanhou nas provas seguintes e também no dia do evento. Para acompanhar tudo pessoalmente, o Comitê Olímpico pediu para eu ficar no Rio a semana toda. Eu estava bem tranquilo porque tudo estava correndo no tempo certo.

Como sua apresentação aconteceu no estádio vazio, pensamos em usar paetê dourado. Desenvolvi especialmente com a Lotex Tecidos um paetê dupla face dourado claro, da cor da pele e do cabelo da Gisele. A gente bordou ele horizontalmente, o que não é de costume, isso porque quis que ele desse a volta em seu corpo.

A pedido de Gisele, Herchcovitch aumentou a cauda do vestido ©Cortesia Alexandre Herchcovitch

A prova seguinte foi feita no hotel, já no Rio de Janeiro, na segunda feira da semana do evento. Gisele sugeriu que aumentássemos a cauda do vestido. Achei a idéia pertinente e fizemos a mudança. Para a sandália, eu peguei um modelo do Alexandre Birman e redesenhei em cima da forma que já existia. Fiquei em contato com a equipe do Alexandre e foi ótimo, em três dias eles me entregaram.

©Reprodução

Já com a cauda 70 centímetros mais longa, fizemos a última prova no camarim do estádio no ensaio geral, no dia 03.08. Resolvemos então adicionar na cauda uma corrente para que ela não dobrasse. O ensaio geral aconteceu no tempo que aconteceria de verdade, no mesmo horário, tudo igual, com todos os artistas. Cobri Gisele com tecido branco para que não vissem o vestido.

Tudo pronto para o grande momento ©Reprodução

No dia da cerimônia, fui para o Maracanã ao meio-dia para fazer a última revisão nas roupas da Gisele e da Regina Casé. As pessoas começaram a chegar por volta das 16h30. A Gisele chegou, provou novamente e depois fizemos todo o percurso dela – obviamente sem o vestido – pra gente saber onde todo mundo deveria ficar posicionado. A Gisele estava bem, empolgada e muito concentrada. Duas horas antes de começar, ela começou a ficar bem concentrada, pediu para ficar pouca gente dentro do camarim. Ficaram apenas ela, o Daniel Hernandez (que assinou a beleza) com assistente, eu e a Samantha e as duas irmãs dela. E ninguém mais podia entrar.

©Reprodução do Instagram

O tempo foi passando, mas chegou uma hora que entrou um produtor e disse: “vocês têm 20 minutos pra ficar prontas”. Aí veio a contagem regressiva: 15 minutos, 10 minutos, 5 minutos…

Tivemos que caminhar muito dentro do estádio para chegar ao ponto de saída de Gisele. E eu sempre carregando a cauda do vestido e seus sapatos. Nessa hora começou a bater a adrenalina, o que eu sinto quando faço meus desfiles.

Nos minutos finais antes da entrada dela ©Reprodução do Instagram

Momentos que antecedem sua entrada. Tivemos (Ernest Camilleri e eu) 30 segundos para deixar a cauda esticada no chão e “pentear” com as mãos o vestido todo para que o paetê não ficasse virado para o lado errado.

©Reprodução

Gisele desfilando! Nessa hora, quando vimos que tudo deu certo, foi emocionante porque foi um processo longo, alguém poderia ter mudado de ideia no meio do caminho, várias coisas poderiam ter acontecido, de repente falar “ah, não é bem isso o que eu quero”, etc. Mas estavam todos flexíveis e trabalhei junto com a Gisele para ela vestir uma roupa que ela fosse se gostar muito usando e foi isso o que aconteceu.

O segundo modelo, mais curto ©Reprodução

O que pouca gente sabe e percebeu é que havia um segundo vestido feito com o mesmo tecido para uma segunda participação de Gisele, quando ela, no meio das pessoas, dançou “País Tropical”, de Jorge Ben Jor. Em todo o processo, ela foi amável, objetiva, deu opiniões importantes e, mais que tudo, confiou. Ela ficou feliz e eu também.

Por essa ocasião de vestir a Gisele e a Regina, em 24 horas aumentei em 30 mil os followers do meu Instagram. Achei um pouco impressionante. Fui dormir, quando acordei tinha mais 30 mil. Pra você ver, né…