O grupo Ermenegildo Zegna anunciou hoje que chegou a um acordo para a aquisição de 85% da marca americana Thom Browne por US$ 500 milhões. Browne continua o único acionista dos 15% restantes.
A marca será trabalhada como um negócio independente para poder acelerar uma trajetória que tem se mostrado forte e lucrativa nos últimos anos. “Como líderes no segmento masculino de luxo, sempre estivemos abertos a oportunidades de crescimento externo. E desde que começamos a procurar parceiros, sempre soube que Thom Browne seria perfeito para o grupo”, diz Ermenegildo Zegna, CEO da empresa.
A aquisição é uma maneira da Zegna entrar no mercado feminino e ainda através de uma marca que tem apelo aos millennials. O investimento também significa que a marca americana passará por uma expansão que inclui o aumento da presença no varejo. Como benefícios imediatos, há o suporte com materiais e manufatura de primeira. “Nós dividimos a mesma paixão por uma alfaiataria moderna e impecável. A abordagem visionária de Thom fez com ele construísse uma clientela fiel. E graças a sua marca, que representa mulheres fortes e tem grande apelo aos millennials, acreditamos que podemos criar mais valor para todos nossos acionistas”.
Se por um lado a negociação é mais uma porta de entrada para o grupo Zegna, por outro representa uma vitória para os designers independentes com forte visão criativa. É um sinal de que, por mais que o lado tradicional do mercado queira te ensinar uma fórmula, você deve se manter fiel ao seu propósito. O estilista lançou sua marca em 2001 e executou todos os passos do negócio corretamente e com uma visão a longo prazo.
“Estou orgulhoso e animado com minha nova parceria com a Zegna. Sinto que sua paixão pela melhor qualidade e pelo trabalho artesanal está muito alinhada com a forma como sempre trabalhei minhas coleções. Meu olhar conceitual para o design e minha visão de crescimento a longo termo são elementos que nós dois sentimos ser a força do futuro da marca Thom Browne”, diz Browne.
Ele lançou sua marca em 2001 com uma pequena loja no West Village, em Nova York, que funcionava somente por agendamento. A partir daí começou a expandir o business na medida que podia. Em 2003 já tinha uma linha completa de roupas e acessórios masculinos. O feminino veio só em 2011, quando ele já era reconhecido e havia até recebido o prêmio de Estilista Masculino do Ano no CFDA 2006 (Browne ganharia ainda em 2013 e 2016).
O estilista se firmou no mercado com duas características: produção de alta qualidade e desfiles conceituais que até hoje questionam as proporções das roupas. Ao criar uma imagem lúdica, dramática e muitas vezes impensável, alinhada a um negócio com potencial comercial, ele imediatamente ganhava espaço com seu ponto de vista único.
Thom sempre fez o oposto do que uma visão tradicional o mandaria fazer. Muitas de suas roupas de passarelas poderiam vestir personagens de desenho animado ou de um espetáculo circense, com proporções exageradas e desconstruídas. Sua marca não anuncia em revistas, nunca entrou em licenciamento para vender perfume nem trabalha com celebridades. Por mais que muitas marcas possam discordar, essas foram escolhas bem pensadas para seu negócio e agora provam ter sido a estratégia certa: Thom Browne tem 31 lojas próprias espalhadas pelo mundo e suas coleções podem ser encontradas em 300 lojas de departamento em 40 países.
E, claro, em se tratando de um designer que é tão conceitual quando comercial, suas peças mais especiais integram acervos de museus como Costume Institute do Metropolitan, MoMA, Victoria & Albert e o ModeMuseum na Antuérpia.