ISTAMBUL, 27 de agosto de 2010
O novo sempre vem. O lema que se encontra na essência do conceito de moda pode estar hoje mais para reciclagem do que para inovações de fato. Porém, a busca pelo novo é essencial para fazer a indústria da moda girar. E a Istanbul Fashion Week parece entender bem disso.
O segundo dia de desfiles começou cedo e com plateia de peso para assistir apresentação de três jovens estilistas locais. Anna Piaggi da “Vogue Itália”, Kate Lampher da “Elle” americana, Patrícia Fields e além nomes importantes de imprensa local.
Durante palestra organizada pela revista “Elle” turca, Paulo Borges, convidado especial da mesa de discussão, afirmou: “O São Paulo Fashion Week teve início com um projeto embrionário, focado em novos estilistas”. Característica que a IFW parece compartilhar ao seu modo.
Looks de Lug Von Siga e Zeynep Tosun ©Divulgação
Quem abriu o desfile foi a estilista Lug Von Siga que buscou nas várias formas de organismos unicelulares _mais precisamente as bactérias_ a base para sua coleção. O tema pode parecer complicado e de difícil tradução para roupas, porém, ao invés de se focar no lado científico do assunto, Von Siga trabalhou em cima de opostos. Rígidos versus estruturados, opacos versus transparentes ou reluzentes e numa enorme variedade de formas que acabou tirando um pouco da coesão da coleção.
O desfile abre com uma série de looks em tecido encorpado, recortes e fendas sensuais, ao lado de comprimentos curtos e silhuetas ajustadas. Aos poucos as formas se ampliam e a feminilidade fala mais alto, como no bom look de saia arredondada com top enrugado ou então no vestido bege.
Vestidos justos e comprimentos micro parecem ser constantes nas ruas da cidade, principalmente nos bairros mais agitados, como Taksim e Beyoğlu. Quase como uma provocação _ou libertação_ das tradições islâmicas, mulheres turcas não têm medo de exagerar. Seja no comprimento, seja em decotes e recortes ousados revelando a pele bronzeada ou então na silhueta adesiva de seus vestidos. Se falam que nós brasileiros somos sensuais, talvez estejamos encontrando alguma competição _ainda que numa forma de sensualidade bem diferente.
Look de Zeynep Tosun e Zeynep Erdogan ©Divulgação
Refletindo um pouco dessa dualidade entre o contemporâneo e o tradicional, o verão 2011 da estilista Zeynep Tosun fala um pouco da vontade de mostrar e da necessidade de esconder. Vestidos longos em tecidos fluídos vinham com fendas ousadas, quando não totalmente abertos revelando hotpants. Barrigas de fora, recortes na região do quadril, cintura e busto acrescentam uma certa provocação nas roupas que, caso contrário, pareceriam puritanas demais.
Para falar da ausência de toque na Era digital, a estilsita Zeynep Erdogan aplicou pequenas mãos de tecidos em suas roupas. Estas vinham fazendo as vezes de bojo em tops retorcidos, dando volume nos ombros ou simplesmente formando estampas em saias e calças naquela silhueta cenoura _outro hit por aqui. A ideia pode ser simples, e também já ter sido trabalhada de formas mais interessantes em coleções da Comme des Garçons e Hussein Chalayan, ainda assim, a estilista tem seu mérito por injetar humor na apresentação, algo que parece um pouco ausente nas passarelas turcas.