A designer Jil Sander ©Reprodução
O desfile da Jil Sander, a grife, neste sábado (23.06), na temporada masculina em Milão, representa o retorno de Jil Sander, a designer, à empresa que ela criou em 1968 e que tem, paralelamente a uma das identidades visuais mais sólidas do mundo da moda, uma história pontuada pela instabilidade administrativa que inclui dois desligamentos de sua fundadora: o primeiro em 2000, seguido por um retorno em 2003 que só durou até 2004, quando a estilista alemã deixou novamente a marca.
O novo regresso de Sander é cercado por expectativas, como bem destacou a editora de moda Suzy Menkes, do “International Herald Tribune”: primeiro, porque o mundo mudou muito desde a última coleção da designer para a Jil Sander, há sete anos; segundo, porque apesar de Raf Simons estar agora muito bem alocado como diretor criativo da Christian Dior, ainda fica a “impressão de que ele foi grosseiramente expulso para o retorno da Sra. Sander”, em fevereiro de 2012; e terceiro, porque Phoebe Philo, da Céline, criou nos últimos anos uma legião de fãs “semelhantes às mulheres que eram fieis ao estilo original de Jil Sander e sua atitude serena e sem complicações”.
Primavera/Verão 2005, a última coleção completa de Jil Sander para a marca que leva seu nome ©Reprodução
O fato é que tudo o que Jil Sander faz recebe muita atenção, tanto da mídia, quanto do público – mesmo com (ou talvez por causa da) sua postura super discreta, quase reclusa. E não é por menos; a designer ajudou a redefinir a estética da moda com suas linhas limpas e sofisticadas, e começou a faze-lo antes de o minimalismo ser popular ou até mesmo aceito. Suas criações estavam muito à frente de seu tempo para serem bem-recebidas pela crítica nos anos 1980, quando a marca alemã começou a se tornar mais internacional, mas no início dos anos 1990, ela começou a receber seu devido valor. Uma reportagem do “The New York Times” de janeiro de 1993 analisa:
“Tornar-se um grande nome nos Estados Unidos será apenas mais uma das conquistas da designer Jil Sander. A energética alemã é uma estrela de mega magnitude na Europa, famosa por seus designs que combinam uma simplicidade sofisticada com conhecimento sobre corte e um senso levemente avant-garde. Ela também é uma empresária astuta, comandando uma companhia de US$ 100 milhões. (…) Seus preços estão entre os mais altos (a partir de US$ 1 mil), mas esse é o preço a se pagar por tal tipo de trabalho e design atemporal”. Uma resenha do mesmo veículo, publicada em março de 1994, exalta o minimalismo que é parte da identidade da estilista:
“Esse é o poder de sua visão sucinta (…), que fez de sua apresentação a mais glamorosa de Milão até agora. É uma moda tão limpa que os únicos acessórios são os arrepios. E havia muitos deles na audiência. A Sra. Sander entra naquela categoria de designers que, para as groupies da moda, nunca erram”. Com a venda de 75% de sua marca para o grupo Prada em 1999, porém, e com suas idas e vindas, as tais “groupies da moda” devem, sim, ter se sentido desapontadas. Mas pode-se justificar que essas decisões foram tomadas no sentido de preservar sua visão como criadora; os problemas com a Prada eram resultantes de discordâncias com o diretor executivo do grupo, Patrizio Bertelli, sobre os caminhos da Jil Sander.
Outono/Inverno 2011: a última coleção da J+, linha da Uniqlo assinada por Jil Sander ©Reprodução
Agora, com a marca sob o controle de um novo grupo (Onward Holdings Co, que a comprou em 2008), e com a experiência adquirida por Sander em seu período sabático e também na Uniqlo, com a qual colaborou de 2009 a 2011, resta a expectativa quanto ao trabalho que a estilista, aos 68 anos, desenvolverá na marca que leva o seu nome. À Suzy Menkes, do “International Herald Tribune”, ela afirmou: “Minha família pergunta: ‘O que você está pensando?’. Mas quando você trabalha criativamente, é facilmente seduzido a retornar. (…) Você tem que ter amor e paixão. A beleza é que eu posso fazer esse retorno em uma companhia que eu conheço. Farei o meu melhor”.