No ano passado surgiram rumores de que um documentário sobre o icônico designer Martin Margiela estava sendo produzido com a participação do próprio. Até um título havia sido divulgado: Without Compromise.
Agora, um perfil do filme surgiu no Instagram revelando um novo nome e confirmando o envolvimento de Margiela, a personalidade mais reclusa da moda. O primeiro post diz que o filme, dirigido pelo alemão Reiner Holzemer, está em processo de finalização e chama-se Margiela In His Own Words. O diretor é conhecido pelo documentário Dries, de Dries Van Noten.
A distribuidora especializada em documentários Dogwoof lançará o filme – eles estão por trás dos lançamentos de outros docs de moda, como Dior and I e Halston. “Estamos muito animados em trabalhar na história de um designer tão enigmático e misterioso; e ainda mais, considerando que, extraordinariamente, é a primeira vez que ele concorda em fazer parte de qualquer filme sobre sua vida ou obra”, diz Ana Vicente, da Dogwoof.
Já a trilha é assinada pela banda dEUS que, assim como o estilista, nasceu na Antuérpia (em 1991) e está muito conectada com a cultura dos anos 90.
Naturalmente, considerando o culto em torno do designer belga, há uma expectativa muito grande em torno desse documentário. Ele é tão famoso por suas criações quanto pelo fato de ter, por todos esses anos, preservado sua identidade. Margiela deu raríssimas entrevistas, não entrava na passarela para agradecer após os desfiles e há apenas duas fotos (supostamente) dele disponíveis na internet, uma delas feita pelo brasileiro Marcio Madeira em 1997. Como bem disse a escritora Susannah Frankel em um artigo para o Independent, Margiela faz Greta Garbo parecer Victoria Beckham.
Como um super herói invisível, ele sempre foi respeitado pelos maiores nomes da moda, influenciou estilistas e continua inspirando as gerações que vieram após sua saída da moda em 2008. Um caso famoso envolve Marc Jacobs, acusado em uma crítica escrita por Suzy Menkes de copiar a estética da Comme des Garçons e de Martin Margiela em suas coleções. Marc respondeu através do WWD: “Nunca neguei o quanto meu trabalho sofre influência de Margiela ou Rei Kawakubo. Não escondo isso. Todo mundo é influenciado por eles. Qualquer pessoa que tenha consciência do que é a vida no mundo contemporâneo é inspirada por esses dois designers”.
Entre outras marcas que também se inspiraram em Margiela, estão Prada, AF Vandevorst, Yeezy e Vetements.
Pode ser que a desconcentração causada pela fama excluiria a pureza do trabalho de Martin Margiela, o refinamento de seu pensamento, sua concentração extrema, despida do ego e focada onde realmente importa. Ele é um radical, talvez um dos únicos que a moda contemporânea viu ou virá, já que no mundo de hoje, em que todo mundo tem uma câmera fotográfica na mão, um Margiela não seria possível. Ele atuava no silêncio enquanto seu trabalho fazia todo o barulho.
Pouco se sabe sobre sua vida, mas sabe-se que, quando ele se retirou, ofereceu seu lugar a Raf Simons e depois Haider Ackermann – ambos recusaram, segundo o New York Times. Não é fácil levar uma história dessas adiante, tamanha identidade e originalidade, mesmo sob a visão desses dois estilistas tão talentosos. Sabe-se também que quando John Galliano assumiu a direção da Maison Margiela, ele o fez com a benção do estilista. Para substituir um gênio, somente outro gênio.
Mas agora, parece que chegou sua hora de falar. O que Margiela pensa de tudo isso? O que será que ele vai contar? Margiela In His Own Words é uma recapitulação da carreira completa do designer, pela primeira vez, nas suas próprias palavras.
Uma boa notícia é que muitos dos docs da Dogwoof entram em plataformas como Netflix ou podem ser vistas on demand no próprio site da produtora. O filme deve estrear ainda este ano.