Por Vinicius Alencar
Profissionais contam como estão se protegendo e as principais diferenças solicitadas pelos clientes nacionais e internacionais
Quando Jacquemus viralizou com seu desfile em um campo de trigo em julho passado, fashionistas foram à loucura, afinal foi o primeiro grande evento desde que a pandemia havia se instaurado. Na semana masculina, Etro e Dolce & Gabbana também apresentaram desfiles presenciais sob o pretexto de que seguiam todas as normas sanitárias: distanciamento, convidados e staff protegidos. Porém em nenhum momento foi questionado sobre o casting que desfilou (literalmente!) sem máscara.
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“Somos as mais expostas porque temos que ficar sem máscara durante o dia no backstage, durante a maquiagem e durante o shooting ou desfile.” Camila Simões
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Modelos se tornaram as mais expostas dentre os profissionais, mesmo com protocolos rigorosos recomendados pela OMS. Em conversas e interações com o FFW, algumas revelaram que clientes se recusaram a pagar por testes – que já se tornaram um passo obrigatório desde o início da flexibilização, não só para participar de desfiles internacionais, como de sets de foto dentro e fora do País.
Camila Simões, 23 anos, já foi rosto da YSL Beauté, Natura e Paula Raia.
A mineira que estava em Paris quando foi decretado isolamento na cidade, retornou ao Brasil imediatamente. “Somos as mais expostas porque temos que ficar sem máscara durante o dia no backstage, durante a maquiagem e durante o shooting ou desfile. Fiz testes [de Covid-19] em alguns trabalhos, mas em outros não. Nos quais não fiz teste teve muito respeito, maquiadores separavam os pincéis, equipe reduzida, alimentos separados, uso de máscaras e constante uso de álcool em gel”, conta sobre os shootings da sua agenda que estão retornando de forma gradual.
Apesar de se sentir segura nos últimos trabalhos que participou, Camila revela que tem procurado algumas garantias antes de dizer sim. “Outra segurança que exijo hoje em dia é sobre o pagamento, porque sabemos que mesmo com todos os cuidados, há o risco de contaminação, já que estamos lidando com um ataque invisível. Não sabemos como será o pós trabalho, e preciso ter essa segurança financeira garantida caso tenha sido infectada”, avalia.
Maryel Uchida, 19 anos, tem no seu currículo participação nos desfiles de J.W. Anderson, Loewe, Prada e Dior, para quem também estrelou a mais recente campanha.
Ela conta que clientes internacionais tem se mostrado mais organizados antes do trabalho. “Dias antes já recebemos um formulário explicando sobre as precauções que devemos tomar durante o job. No set, maquiadores separam utensílios para cada modelo e todos estão com máscara. Além disso somos orientadas a mantermos a distância correta entre nós modelos”, diz ela se referindo aos trabalhos no exterior – incluindo, o desfile de Cruise da Dior, que aconteceu em Lecce, Itália, sem convidados e transmitido apenas on-line.
Joyce Carolina (@joycaroll), modelo, cantora e atriz, que participou recentemente de uma campanha da rede C&A.
“Fiz teste antes do shooting e durante todo o trabalho tudo foi muito bem cuidado. Todos usando máscaras e a temperatura sendo medida a todo momento”, lembra.
Sobre se sentir segura durante a sessão de fotos, Joyce garante ficou tranquilizada ao ver que não só as modelos foram testadas, como todos os outros profissionais que participaram: da limpeza, passando pelo fotógrafo, stylist e maquiadores. “Eles terem se preocupado com o transporte de ida e vinda para minha casa também fez toda diferença”, avalia.
Ana Paula Cassola de Barros, booker na Singular MGT.
“Acredito que tanto os clientes nacionais, quanto internacionais estão se adaptando a este novo momento. Algumas modelos recebem o kit de maquiagem individualmente e via vídeo chamada são orientadas pelo maquiador para fazerem suas próprias maquiagens. Já internacionalmente, muitas marcas pedem para as modelos mandarem selfies das maquiagens que conseguem fazer sozinhas, garantindo uma presença a menos no set, por exemplo [o mesmo acontece, em alguns casos, com o stylist que acompanha via vídeo]”, ressalta.
Ao ser questionada de como têm instruído as modelos desde que a pandemia começou, ela revela: “Sempre sou muito sincera com elas, mostrando a realidade e pedindo para que elas procurem informações em fontes seguras. Importante neste momento de pandemia estarem atentas às mudanças constantes do mercado e se adaptarem de forma inteligente”.
Ana conta que a assistência psicológica e orientações já existentes nas agências foram adaptadas ao novo momento, dando as modelos ferramentas para que elas passem por este momento “de uma forma mais leve, sem pânico e positivas”. “Porque isso vai passar”, finaliza em tom otimista.
Discussão que permanece entre idas e vindas, a jornalista Steff Yotka da Vogue América já havia questionado sobre modelos aparecerem sem máscaras em uma matéria intitulada: “Pessoas usam máscara em todo lugar, menos nos lookbooks”.
Mesmo boa parte das marcas seguirem ignorando o item, que parece não ter um lugar cativo como acessório, algumas já aceitaram a realidade: na NYFW, todas as modelos que cruzaram a passarela do designer Christian Siriano e da marca Eckhaus Latta usavam máscaras. Veremos quais serão as outras adeptas até o final desta temporada internacional de verão 2021.