Diagnosticadas com câncer de mama, oito mulheres em tratamento no hospital Pérola Byington, em São Paulo, contam suas histórias. Elas fazem parte da campanha Mulheres de Peito, criada e organizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que facilita o exame de mamografia e agiliza o diagnóstico precoce do câncer de mama. Basta ligar no 0800 779-0000 para qualquer informação necessária.
O FFW tem publicado artigos que mostram como as mulheres lidam com a doença. Leia aqui o depoimento de Costanza Pascolato e as lições de vida de mulheres forte, como Joyce Pascowitch e a cantora Elba Ramalho.
Abaixo, as histórias das oito convidadas que aceitaram a proposta de se transformar em ícones da música e do cinema. Uma turma forte da moda trabalhou no ensaio, que teve foto de Cristiano e beleza de Raul Melo. Entrevistas concedidas a Barbara Hecker.
Geralda Barreto
Salvar-se ou cuidar da própria mãe? Foi nessa difícil encruzilhada que Geralda Barreto, 64, viu-se em 2012. A baiana estava praticamente morando no Pérola Byington para assistir a mãe, Djalma Barreto – na época, com 86 anos. A senhora estava em tratamento de câncer de mama, em estado terminal, e a filha não saía do seu lado. Nesse período, uma enfermeira – ou “anjo da guarda”, como Geralda acredita – aconselhou-a a fazer um exame de acompanhamento, já que uma das causas deste tipo de câncer pode ser a genética. Geralda, então, soube que carregava o mesmo problema que a mãe. O tumor estava em estágio inicial, mas era preciso extraí-lo imediatamente. A médica pediu para que Geralda pensasse em um plano B. “Não havia outro jeito, eu precisava ficar com a minha mãe”, conta a filha que, ainda, pediu sigilo à médica, pois não queria que a notícia chegasse aos ouvidos de Djalma. Três meses se passaram e não havia mais jeito. Era chegada a hora de Geralda operar. Como desculpa pelo futuro sumiço, disse para a mãe que iria fazer um curso. Na maca, pronta para operar, sua prima chegou com a triste notícia de que dona Djalma havia falecido. Sem condições de prosseguir com a cirurgia, Geralda só teve o tumor retirado dali um mês. Apesar de tantos acontecimentos que poderiam resultar em traumas, ela diz que a vida é o maior presente que o ser humano pode ter.
Luciana Lopes Robeiro
Quando a paulista Luciana Ribeiro, 46, recebeu a notícia de que estava com câncer de mama, foi um baque. Com medo da morte, a primeira pergunta foi: “Doutor, quanto tempo eu tenho de vida?”. O médico, fingindo pegar uma bola de cristal, respondeu calmamente: “E quem sabe essa resposta? Vá viver sua vida”. Com ajuda de um psicólogo do Pérola Byington, entendeu que, se ficasse deprimida, seu estado de saúde poderia piorar. E o quadro era grave. Desde que sentiu um caroço na axila até ser atendida de forma correta no “Pérola”. Em um ano o tumor evoluiu a ponto de realizar uma mastectomia –retirada total da mama – no seio esquerdo. Após alguns meses de tratamento, outro golpe. O câncer havia voltado, no mesmo lado. O desânimo tomou conta, mas as três filhas serviram como foco para sua luta. “Minhas filhas são jovens e elas precisam de mim”, conta Luciana, que tinha se separado do marido pouco tempo antes de descobrir a doença. “Mas eu me tornei mais forte depois de tudo que aconteceu comigo. E você tem que ser forte, senão a vida acaba”, diz a paciente que encontra, em cada amigo, um pouco de amor para continuar seu caminho de força e fé.
Cristina Genova Garcia
Ao contrário da maioria das mulheres, constatar o diagnóstico de um tumor no seio foi um alívio para Cristina Garcia, 46. Durante dois anos, a paulistana reparou uma alteração no bico do seio, como se fosse uma micose. Os resultados imprecisos só lhe causavam angústia. “As informações vinham homeopaticamente, então, quando finalmente detectei o que tinha, foi uma felicidade. Queria me livrar logo daquilo”, conta Cristina, que passou a se tratar no Pérola Byington, onde descobriu que o seu câncer de mama era raro. E não foi só a doença que ela descobriu. Encontrou, no seu interior, uma força para lutar pela vida, principalmente para poder cuidar dos pais. “Tinha que ficar de pé pelos meus pais velhinhos, que precisam de minha ajuda”, conta a filha que os chama, carinhosamente, de “minhas crianças”. Cristina não caminhou sozinha. A ajuda veio da cunhada que, num ato de amor, deixou de receber uma promoção no trabalho para ter tempo de acompanhá-la às sessões de quimioterapia e consultas médicas. Hoje, Cristina percebe que mudou em muitos aspectos. “Adquiri paciência e tolerância. Percebi que as coisas não são, muitas vezes, como queremos”, diz. O pensamento positivo e o espírito leve foram essenciais para não sucumbir à doença e chegar até a etapa final do tratamento.
Eny Rodrigues Silva
Um “probleminha” para resolver a cada 21 dias. A paulista Eny Rodrigues Silva, 57, optou por encarar o tratamento de câncer dessa forma. E, para quem ouve essa mulher dizer essas palavras, não tem noção da longa história vivida por ela, dentro de um hospital. Foi em 2002, amamentando, que sentiu algo diferente no seio. Desconfiou de leite empedrado, mas quis conferir com um médico. A desconfiança salvou sua vida. Estava com um tumor agressivo, o que a fez passar por uma mastectomia e sessões de quimioterapia no Pérola Byington. Depois de cinco anos de acompanhamento pós-tratamento, Eny recebeu alta, como é de praxe. No ano seguinte, percebeu que uma dor estranha nos braços e pernas. O diagnóstico a deixou em choque: o câncer havia se espalhado para os ossos e fígado. “Não havia mais jeito. O médico, naquele momento, me deu uma só opção: participar de uma pesquisa de uma nova medicação que poderia me salvar”, lembra Eny. A decisão estava tomada, aquela era a única saída. “Não queria deixar meu filho e minha família. Precisava viver”. Na sexta aplicação, a paciente, até então sem forças nem para se levantar, voltou a andar. Tornou-se um exemplo de vitória no hospital, o qual ainda frequenta para prosseguir com o tratamento. “Quando você acredita que ainda não é o fim, você renasce”, diz Eny, com os olhos brilhando de quem se move com garra na vida.
Marilena Galvão dos Santos
Otimismo e fé são características da personalidade de Marilena dos Santos, 73. Foi assim que a baiana encarou o tratamento de câncer de mama: com alto astral. Logo que sentiu algo diferente no seio, ao fazer o autoexame, foi ao posto de saúde, que a encaminhou ao hospital Pérola Byington. Marilena recebeu sozinha a notícia de que precisaria retirar metade do seio. Sem chorar ou se desesperar, disse à médica “Se é para a minha saúde, vamos lá”. Só deu a notícia para a filha quando marcou a cirurgia. Mesmo no período das sessões de quimioterapia, não deixava de ir trabalhar, de tarde, como costureira. A chefe a ajudava lhe servindo comida saudável para ajudar no tratamento. Nada abalava Marilena. “Eu vejo a vida como antes. Passeio, vou aos bailes da igreja para dançar, me divirto”, diz, com um grande sorriso. A vaidade nítida na senhora de unhas pintadas com esmalte brilhante mostra que a vida, para ela, não parou e não parará tão cedo.
Neide Maria Roque da Silva
Um grande choque. Foi como a pernambucana Neide Maria da Silva, 53, recebeu o diagnóstico de câncer de mama, após perceber um nódulo no seio com o autoexame. “Não acreditava no que estava acontecendo”, desabafa Neide, que contou com todo o apoio da família. Foram dois anos de tratamento. Mas outra notícia ruim viria nos exames de controle. Em 2013, foi diagnosticado um tumor no outro seio. “Dessa vez foi mais difícil. Perguntava-me o porquê de estar acontecendo isso de novo!”, lembra. A revolta, porém, foi passageira. No dia seguinte, Neide erguia a cabeça para enfrentar o novo desafio. E assim encarou a segunda etapa, com sorriso no rosto, entre amigos e indo a ONGs que dão apoio a mulheres em tratamento de câncer. “Desde o início, passei a dar mais valor a pequenas ações do dia a dia. Se estou com vontade de dar um abraço ou ligar para alguém, não espero. Vou lá e faço”, conta. Neide faz questão de agradecer pela sua vida a cada despertar.
Jucy Bertulino
Parece que a personalidade guerreira passou de mãe para filha. A baiana Jucy Bertulino, 41, percebeu que era mais forte do que imaginava ao enfrentar o tratamento de câncer de mama com muito otimismo. Mesmo assim, receber a notícia não foi nada fácil. Após realizar o autoexame e perceber o nódulo no seio, não tardou a consultar um médico. Por sorte, trabalhava como oficial de saúde no Hospital Pérola Byington e já sabia que, ali, poderia ter toda a assistência. “Quando soube do resultado, meu chão se abriu. Eu convivia com as mulheres em tratamento o tempo todo e ser uma delas me deixou paralisada”, conta. Mas a preocupação maior era com sua mãe. Como daria a triste notícia a uma senhora que já havia sofrido tanto na vida? Com a ajuda do irmão, reuniu forças e foi conversar com ela. Para sua surpresa, a mãe se manteve forte. O importante era ajudar a filha. Em cada momento de desânimo, com os cabelos raspados, Jucy chorava escondida, para que os dois filhos pequenos não a vissem. “Mas depois pensava neles, no meu marido e na minha família. Enxugava o rosto e seguia em frente”, confessa. Hoje, quase dois anos após a descoberta do tumor, ela aproveita cada segundo do dia a dia e enxerga no diagnóstico precoce uma nova oportunidade de vida.
Maria Aparecida Vieira
“Eu tenho que respeitar a doença e ela tem que me respeitar também”. É assim que a paulista Maria Aparecida Vieira, 52, aprendeu a encarar o câncer de mama. Para ela, não adianta fingir que nada acontece com o corpo e o psicológico. Mas também não pode se entregar à doença. Apesar de não poder trabalhar mais como doméstica, atividade que exercia até 2011, quando descobriu o câncer, Cida, como é chamada, faz questão de fazer as tarefas de casa, como lavar e passar roupas e até ir ao mercado. Tudo no seu limite. Ainda em tratamento, ela foi prejudicada por um diagnóstico tardio em relação ao nódulo que havia sentido no seio. Depois de orientada a ir ao Hospital Pérola Byington, todo o processo foi ágil. Triagem, mamografia e biópsia foram realizadas no mesmo dia. O resultado, infelizmente, era um caso grave de câncer de mama. Começou a fazer a quimioterapia e, a cada sessão, procurava não se entregar. “Penso na minha menina, ela me dá muita força”, conta a mãe, emocionada em lembrar que a filha deixou um sonho profissional de lado para cuidar dela. E é a fé de vê-la realizar seus desejos que faz Cida continuar a perseverar dia após dia.