A discussão sobre o uso excessivo de softwares de edição de imagens pela mídia não é novidade. Divulgam-se ideais de beleza que quase beiram o inalcançável em fotos com edições que chegam até a modificar a silhueta dos modelos ou celebridades que estampam campanhas publicitárias e revistas de moda – já houve até atrizes que se posicionaram contra isso, como Kate Winslet, que incluiu uma cláusula anti-Photoshop em seus contratos publicitários. Quem estampa tais campanhas e editoriais são, na maioria das vezes, modelos demasiadamente magros e, com mais essa ajudinha dos retoques, estabelecem-se padrões que deixam no imaginário coletivo sobretudo o desejo de ter o corpo “perfeito”. Na contramão desta realidade, a França deu um importante passo para reorganizar em especial a indústria da moda.
A partir de outubro deste ano, uma nova lei entrará em vigor no país exigindo que as revistas de moda declarem quais fotos publicadas foram retocadas com o uso de editores de imagens como Photoshop (as tais fotos “photoshoppadas”) de maneira a modificar a aparência física do modelo. Ainda que faltem esclarecimentos sobre como praticá-la, a multa em caso de violação é de 37.500 euros.
Além disso, a lei também exige que os modelos façam exames médicos a cada dois anos comprovando que estão saudáveis para atuar. A partir de agora, todos os modelos que trabalharem em âmbito francês deverão fazer esses exames, pois geram um atestado que destaca o IMC (índice de massa corporal) – a Organização Mundial da Saúde considera abaixo do peso uma pessoa de IMC inferior a 18,5. O não cumprimento da lei por parte da agência de modelos, marca ou veículo implica na multa de 75.000 euros e, dependendo do caso, até seis meses de prisão.
O que está em jogo, afinal, é a saúde da população. Segundo a Dazed Digital, dados do ano passado apontam que havia cerca de 30.000 a 40.000 franceses com anorexia. “Expor os jovens a imagens normativas e irrealistas de corpos impecáveis leva a um sentimento de autodepreciação e baixa autoestima, o que pode afetar o comportamento e a saúde”, disse Marisol Touraine, ministra francesa da Saúde e de Assuntos Sociais, ao WWD. “Os dois textos publicados no Jornal Oficial pretendem atuar sobre a imagem corporal na sociedade, com o objetivo de evitar a divulgação de ideias de beleza que são inacessíveis e também prevenir a anorexia nos jovens”, arremata.
A França não é o primeiro país a implementar leis desta natureza. Em 2006, Espanha e Itália proibiram a atuação de modelos que têm o IMC inferior ao ideal proposto pela OMS, sobretudo nas semanas de moda. Seis anos depois, Israel seguiu o mesmo caminho, exigindo que os modelos (não só da cena fashion como também da mídia em geral) façam exames a cada três meses.