Se você não consegue lembrar muito da semana de moda masculina de Milão, não se preocupe: sua memória está muito boa. O masculino do verão 2011 apresentado na cidade italiana entre os dias 19 e 22 de junho passou sem grandes emoções.
O extremo foco na qualidade e manufatura das peças tirou quase que por completo o poder das imagens de moda. Roupas para vida real, confortáveis, num grande mix do formal com o causal. Reviver a essência ou herança das marcas é outra preocupação que continua prendendo estilistas numa zona de segurança. Domenico Dolce e Stefano Gabbana, comemorando os 20 anos de sua linha masculina, colocaram na passarela uma linda coleção que trouxe de volta o melhor da alfaiataria siciliana.
Dolce & Gabbana verão 2011 ©firstVIEW
Calças e bermudas largas com cordas amarradas na cintura, blazeres de linho com abotoamento duplo ou simples, camisas extrafinas (às vezes até transparentes) e uma constante imagem de despojamento, não carecem de apelo comercial. Porém, não agregam nada de novo.
O mesmo acontece na Gucci, onde Frida Giannini fez a acertada escolha de falar menos de sua paixão rocker e mais de alguns códigos elementares da grife. Assim, olha para um homem dos finais dos anos 1960, aposta numa sensualidade nonchalance, onde camisas abertas ou blusas de seda com golas amplas revelam parte do torso, muitas vezes decorados com lenços coloridos, numa coleção extremamente sofisticada, ainda que nada revolucionária na passarela.
Gucci verão 2011 ©firstVIEW
Talvez o principal sentido do masculino milanês seja uma mudança no tradicional costume masculino. Cada vez menos homens estão utilizando ternos (pelo menos os convencionais). Seja por pura opção ou possibilidade, ou por um simples fato da realidade: a escassez de empregos. Especialistas podem até atestar que o pior da crise já passou, que a economia está retomando fôlego e que as vendas do primeiro semestre voltaram a crescer. Porém, as estatísticas comprovam uma baixa generalizada no mercado de trabalho.
Sob essa ótica, fica fácil entender porque Tomas Maier encerrou seu desfile masculino na Bottega Veneta com looks de praia e não com um guarda-roupa formal. Numa das coleções-síntese da temporada milanesa, fundiu como ninguém o formal ao causal – muitas vezes numa peça só. Blazeres vinham com interessantes recortes angulares de diferentes tecidos. Jaquetas ajustadas (um hit da temporada) com calças amplas numa interessante proporção sexy, masculina, porém delicada, assim, tudo ao mesmo tempo.
Bottega Veneta e Giorgio Armani verão 2011 ©firstVIEW
Giorgio Armani também trocou seus famosos ternos de formas amplas por versões contemporâneas em que os blazeres de abotoamento dulpo se encurtam e se aproximam do corpo. Refrescando seu repertório de forma natural e inteligente, muitas vezes troca seu paletó do século 21 por jaquetas de corte reto (usadas sem nada por baixo para aumentar o tom sexual do desfile) combinadas com calças volumosas quase sempre em tons neutros. Motoqueiros elegantemente sexy, com direito a sombra nos olhos, e acessórios fluorescentes.
Motoqueiros também serviram de tema para Christopher Bailey, combinando jaquetas curtinhas, repletas de tachas, com calças ultraskinny em couro arrematadas por sandálias híbridas de birkenstock com gladiadores. Para reforçar (mais uma vez) a supremacia da Burberry nos outerwears, Bailey mergulhou novamente nos arquivos da marca para encontrar algum pano de fundo para as recorrentes reconstruções do famoso trench-coat.
Burberry verão 2011 ©firstVIEW
Com resquício militar do inverno passado, as jaquetas de agora se acinturam ao corpo masculino, ganham detalhes de couro nos ombros, golas e mangas sobrepostas aos tricôs de ponto largo ou camisetas de malha bem solta. No fim, o tema motoqueiro e algumas jaquetas tachadas pareceram um tanto artificiais.