O estilista Luiz Claudio já conquistou um espaço particular dentro da SPFW, unindo uma base conceitual de poesia e literatura com construção de peças caracterizada pela transformação dos tecidos e superfícies.
Para o seu Inverno 18, Luiz retornou à sua infância, ao atelier de costura de sua mãe. “Na minha casa sempre haviam fios espalhados por todos os lados. Eu não sonhava em ser um estilista e estar aqui, a costura foi algo muito natural que aprendi dentro de casa”, comenta ele. “Eu só me tornei designer porque aprendi a costurar. Vejo que as crianças hoje não sonham em ser costureiras. É um ofício que pode acabar se não for celebrado e valorizado”.
Com uma equipe de 26 mulheres na Apartamento 03, Luiz enxerga em muitas delas a sua própria mãe. “Eu acompanho a vida dessas mulheres há anos. Elas passam por tanta coisa. Engravidam, separam, e a maioria sustenta a família com a costura e vibra com cada peça. O universo de um São Paulo Fashion Week é um sonho para elas, porém não para seus filhos, então sinto que temos que levar essa mensagem para frente”.
A nostalgia deu o tom da coleção. Na passarela, música clássica antiga com sonoridade de vitrola nos levava para outro lugar, resgatando um sentimento de um tempo que não volta. “Para minha mãe, a peça deveria ser perfeita de dentro para fora e não somente no exterior. Ela dizia que para uma peça ser bem feita, ela teria de ser usada do avesso’’, conta o estilista.
Em meio a linhas e retalhos expostos vazando de estampas florais, Luiz Cláudio mergulha fundo em suas memórias de infância, com um moodboard pessoal e repleto de emoções genuínas. “A minha tia Rosa era aquela mulher chique e elegante. Ela me inspirou a confeccionar esses ternos de seda e algumas peças clássicas de alfaiataria”.
+ Veja aqui a coleção completa
O desfile “Baile de Memórias” ainda teve um final mais do que especial e vai entrar para a história da teledramaturgia brasileira. Pouco antes da apresentação, o estilista Dudu Bertholini veio à passarela explicar que após a fila final de modelos, a atriz Glória Pires entraria na passarela para celebrar a coleção como se fosse sua, na pele da personagem Elisabeth da novela Do Outro Lado do Paraíso, em sua consagração no mundo da moda. “As costureiras vibraram quando souberam que iriam vestir a Glória”.
Para o menino que brincava com os fios quando criança, colocar sua alma em uma coleção tão pessoal – que terá a projeção nacional que somente uma novela das 21hs consegue trazer – transporta o não-sonho de Luiz para uma conversa sobre a importância da costura que vai muito além de sua voz e ofício.