Backstage do desfile de Inverno 2010 da Coven: militarismo reinterpretado através de tricôs e Lurex © Agência Fotosite
Agora que terminou a temporada de desfiles para o Inverno 2010, chegou a hora de filtrar as principais tendências que (re)apareceram nas passarelas.
Uma delas foi a onda militar, que contaminou todo o mundo da moda, transformando os trenchcoats nas novas jaquetas, os camuflados nos novos florais e o verde militar no novo preto, confirmando que a moda está em pé de guerra. Junya Watanabe, Burberry, Pedro Lourenço e Louise Goldin foram algumas das grifes que investiram na tendência nas semanas internacionais.
Apesar de serem eventos repudiantes, as guerras serviram, historicamente, como pool de inovações. Foi durante a 2ª Guerra Mundial, por exemplo, que surgiu o náilon como tecido usado nos paraquedas e outros itens militares. O próprio trenchcoat saiu dos campos de batalha. Além disso, macacões, jaquetas aviador, ombreiras, bolsos utilitários e uma infinidade de outros itens hoje comuns no nosso guarda-roupa antes eram restritos ao frontline.
A culpa pode ser da economia mundial instável, da violência urbana ou mesmo da ansiedade que já faz parte do nosso cotidiano. Cada vez mais queremos nos proteger do mundo lá fora. E a moda, como espelho da sociedade, reflete essa imagem de insegurança de váris formas, uma delas o militarismo.
A novidade agora é que a onda não se resume a jaqueta militar ou ao trenchcoat – item que foi tendência no Verão 2010. O militarismo do Inverno 2010 não é óbvio. Para muito além dos camuflados e jaquetas inspiradas nos anos 1940, as referências militares de agora são trabalhadas de maneira sutil. “Queremos apenas as referências leves do militarismo”, disse Maurício Ianês antes do seu desfile para a TNG em janeiro deste ano, durante o Fashion Rio.
Para a maioria dos estilistas que citaram a referência em suas coleções desfiladas nesta temporada, a sutileza foi um atributo essencial. O novo militar serve principalmente aos propósitos da alfaiataria, funcionando muito mais como elemento de decoração para blazeres, jaquetas, coletes e até camisas.
Foi assim na Juliana Jabour, onde o militar serviu de recurso essencial para dar força e estrutura a sua moda que costuma ser bem feminina. Para Alexandre Herchcovitch, veio como elemento de poder essencial para sua alfaiataria impecável, tanto no feminino quanto no masculino.
Na TNG, o militar também aparece escondido entre os motivos étnicos e mixado com as referências de esquimós caçadores do Alasca. Já na Cantão, a pluralidade de culturas e etnias de Budapeste abusa do verde militar e da modelagem de suas jaquetas e vestidos de ombros ligeiramente marcados. E na 2nd Floor uma das peças icônicas do militarismo – o trenchcoat – serve de base para modelagem da coleção inteira.
Até mesmo quando a referência militar é interpretada de forma mais literal, existem as modificações: nas proporções, modelagens e tecidos que ganham contornos mais contemporâneos, mais próximos da nossa realidade. Um dos melhores exemplos neste caso é a Coven que usou e abusou de tricôs e Lurex para retransformar o militar. Reveja: