Este conteúdo é parte da serie de entrevistas “O Estado da Moda, 6 Meses Depois”. Durante o mês de setembro vamos conversar com os personagens da moda brasileira (diretores criativos, estilistas, criadores de imagem, empresários) para entender a visão de cada um sobre o momento atual e sobre o futuro da moda, seu passado recente e o que funciona e o que não funciona mais. Que essas conversas possam apontar caminhos.
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Carol Ribeiro, 40, paraense com mais de 20 anos de carreira. A modelo, empresária e apresentadora é referência na moda nacional e internacional. Como modelo desfilou e estrelou campanhas para as mais prestigiadas grifes do mundo e agora também atua como agente com sua própria agência de modelos. Como apresentadora tem sido o rosto da TNT na cobertura das maiores premiações da indústria do cinema.
Quando a pandemia começou, em março…
como modelo e apresentadora, seguia o ano normal, com alguns trabalhos marcados e já estabelecidos por contrato.
E como agência, seguindo o calendário e nossa missão que sempre foi o olhar mais único para cada modelo como indivíduo único, um cuidado mais pessoal.
O que mudou nesses 6 meses
Como agência, internamente, ficou nítido o trabalho no coletivo, a troca, a vontade de fazer rolar. De certa forma, é como se todos se unissem pelo todo, para que ninguém saísse perdendo. Senti um aumento do senso do coletivo que por vezes deixamos de lado no dia a dia. As dúvidas e incertezas se tornaram pautas de nossas reuniões, e isso, de certa forma, nos aproximou, pelo fato de colocarmos em pauta a visão de cada um. Falando de mercado em relação as modelos, apesar de a Prime sempre ter tido como base um olhar para o modelo com um cuidado maior/especial , de representar quem realmente acreditamos, e de certa forma mais humano, percebemos, através da escuta ( lives, leituras, redes sociais) o quanto o mercado e nós podemos crescer com uma visão mais humanista para com nossas modelos e clientes.
Sobre pensar em desistir ou mudar completamente tudo
As dúvidas e incertezas se tornaram pautas de nossas reuniões, e isso, de certa forma, nos aproximou, pelo fato de colocarmos em pauta a visão de cada um. Falando de mercado em relação as modelos, apesar de a Prime sempre ter tido como base um olhar para o modelo com um cuidado maior/especial , de representar quem realmente acreditamos, e de certa forma mais humano, percebemos, através da escuta ( lives, leituras, redes sociais) o quanto o mercado e nós podemos crescer com uma visão mais humanista para com nossas modelos e clientes.
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“Não acho que vai haver um ponto final no que temos hoje (na moda), mas vejo uma mudança de comportamento, do ‘olhar’ para o consumo. “
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Sobre os impactos das questões raciais, socioambientais e socioculturais mais urgentes
Aqui respondo Carol pessoa física. No começo fiquei incomodada com o tanto de interrogações e com a percepção de que ninguém tinha respostas; e foi daí que partiu uma vontade de falar de mudanças e criei o #MUDE, um projeto onde converso com pessoas que, ao meu ver, causam um impacto positivo no entorno. Aproveitei do momento para parar e escutar o oito de verdade, coisa que considero chave para o crescimento e melhora do todo, do pessoal e do profissional. Ali percebi o quanto a gente se acomoda em nosso meio e em “nosso sucesso”, e pensei maneiras (ainda caminhando, mas com algumas portas abertas) de trazer esse lado mais humano para nosso meio. O que como agente, Carol modelo, posso fazer no âmbito pessoal e profissional para melhorar o meio? Enfim, não pensei em desistir, mas meu incômodo me mostrou que há muito o que melhorar no meio, o que fazer, e que eu posso sim fazer minha parte. Vejo o começo de uma mudança geral causada por um incômodo e acho extremamente válido. Vejo os modelos caminhando para um mercado que os valorizem mais, tendo mais voz, mais espaço, mais respeito ( percebo isso no geral, na sociedade como um todo). Escuto muito que nada vai mudar, tal coisa continua, o mercado é o mesmo… Mas na verdade é o começo de um movimento/mudança , que se dado o real apoio e importância, será visto a médio e longo prazo.
Sobre os planos de curto prazo
A agência reabriu faz pouco tempo (3 semanas) mas mantivemos as reuniões e funcionamento de forma remota. Seguimos alerta com as mudanças de comportamento de mercado; e é aí que vejo as maiores mudanças para o meio de moda. Vejo um mercado mais aberto e democrático, não excluindo o que temos, mas melhorando. Nosso mercado depende muito do consumidor final, e o que ele pede, o cliente dá. Nós, como agência, seguimos na função de sempre priorizar o respeito e condições de trabalho para nossos modelos. A curto prazo, enquanto agência, estamos mantendo nossos modelos em suas cidades/casas até que sejam confirmados para trabalhos, evitando que estejam em São Paulo com gastos e se expondo. Percebemos as novas maneiras de trabalho “lojas live”, apresentações de coleção via app, e a importância da fala do modelo.
Como você vê futuro da criação de moda?
Acho que vamos voltar a ter uma moda mais pensada, o retorno do ateliê, da moda feita sob encomenda. Não acho que vai haver um ponto final no que temos hoje, mas vejo uma mudança de comportamento, do “olhar” para o consumo. Saber o que estamos consumindo, de onde vem, para onde vai e quem se beneficiou, passa a ser mais importante hoje – volto a falar que é um começo. Isso tudo já vem sendo discutido, mas agora foi acelerado e acho que veio realmente para ficar, e essa mudança só será vista a longo prazo.