Este conteúdo é parte da série de entrevistas “O Estado da Moda, 6 Meses Depois”. Durante o mês de setembro vamos conversar com os personagens da moda brasileira (diretores criativos, estilistas, criadores de imagem, empresários) para entender a visão de cada um sobre o momento atual e sobre o futuro da moda, seu passado recente e o que funciona e o que não funciona mais. Que essas conversas possam apontar caminhos.
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O diretor criativo Giovanni Bianco, 55, fundou sua agência GB65 em 2001. Ficou mundialmente reconhecido por seus trabalhos para marcas como D&G, Miu Miu, Missoni, DSquared2 e pelas colaborações com as estrelas da música pop Madonna, Rihanna e Anitta.
Quando a pandemia começou, em março…
Bem, como nos todos sabemos, a crise da moda não vem de agora com a pandemia, ela simplesmente se ampliou. Então eu já estava no processo de mudanças, porém devo sempre lembrar que sou um privilegiado, pois com a graça ao bom Deus, sempre tive um bom volume de trabalho. O que mudou foi o tamanho do investimento de cada cliente.
O que mudou nesses 6 meses?
Ainda estou tentando entender todo o sistema. Tendo um studio nos Estados Unidos e outro no Brasil, cada um teve um comportamento diferente nessa retomada. O Brasil, de uma certa forma, teve retomada um pouco mais rápida do que nos EUA, onde sinto que tudo vai voltar mesmo em outubro ou depois das eleições.
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“O que quero é voltar a ser pequeno na estrutura do meu trabalho, ter mais qualidade profissional e de vida”
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Sobre pensar em desistir ou mudar completamente tudo:
Sim, eu e todos que forem honestos de assumir que essa pandemia veio para que todos nos tivéssemos a oportunidade de repensar nossos verdadeiros valores. E para mim está sendo muito valioso, pois entendi que não quero nunca mais ser grande, e que o que quero é voltar a ser pequeno na estrutura do meu trabalho, ter mais qualidade profissional e de vida, pois na loucura que estávamos, o tempo era inviável, e tudo ficou demasiadamente inchado. Agora deu para perceber que, para ser feliz e ter melhor qualidade de vida, nós precisamos de pouco.
Sobre os impactos das questões raciais, socioambientais e socioculturais mais urgentes:
Um impacto fundamental sobre as responsabilidades como ser humano. Estamos todos aprendendo muito e tenho certeza que vamos criar um presente e um futuro melhor para humanidade, e penso que a criatividade, nesse momento não é realmente o foco, mas sim o que podemos fazer para que o mundo seja mais justo e, finalmente, abrir oportunidades e ampliar a voz dos que passaram anos sendo injustamente oprimidos por uma irresponsabilidade de uma sociedade egoísta.
Sobre planos a curto prazo:
Tenho me presenteado com o tempo de observar, aprender e redimensionar o meu universo para que eu possa cada vez mais ser um ser humano melhor. Esse é um privilégio de ter realizado muitos projetos já nessa vida, e que eu possa me presentear com novos rumos, com novos olhares. Assim, penso que cada vez mais terei consciência da responsabilidade que tenho com o nosso planeta. Esse é o privilégio de ter mais tempo de pensar antes de fazer.
Como você vê futuro da criação de moda?
Estou tentando aprender a olhar para o futuro, tenho muita dificuldade, pois sempre fui adepto da filosofia de acreditar que não existe mais o passado e muito menos não sabemos o que é o futuro, que o que realmente temos é o presente. Eu tenho meu olhar sempre no presente, por isso tenho dificuldade de ver o que será o futuro da criação da moda. O que vejo que podemos fazer agora é ter cada vez mais responsabilidade no que nos propomos a criar – nisso eu acho que o caminho correto é fazer uma moda agora mais inteligente, que respeite o nosso mundo, o nosso planeta, e principalmente o ser humano. A moda irá brilhar muito mais quando cada um de nós fizer a sua parte com responsabilidade.