Às vezes, para inovar na moda, é necessário vê-la com certa distância, de um outro lugar. É o caso da japonesa Seiran Tsuno, que tem encantado com seus vestidos etéreos feitos em caneta 3D.
Tsuno é formada em enfermaria e por anos trabalhou em um hospital psiquiátrico. Paralelamente, ela começou a frequentar a escola de moda Coconogacco, que tem revolucionado o ensino de moda no Japão, onde teve a oportunidade de experimentar com sua criatividade e descobrir como gostaria de se expressar. Sua vivência no hospital aparece desde o início de seu projeto de moda. “Minha visão pessoal vem da minha solidariedade com as pessoas que foram salvas por acreditarem em um mundo invisível, por se comunicarem com um mundo que a maioria de nós não consegue ver”, diz.
Seu ponto de partida é tão incomum que, justamente por isso, resultou em algo novo, curioso e bonito. Como não sabia fazer roupas e não queria tentar fazê-las como as outras pessoas, resolveu criar um novo tipo de vestido usando materiais que não haviam sido usados antes. “O conceito era ‘vestidos para se comunicar com um mundo invisível’, então comecei a procurar imagens que transmitissem o conceito que eu queria expressar”. Entre essas imagens, a designer achou inspiração em experiências extracorpóreas, cores fluorescentes usadas em Ukiyo-e (estampas japonesas), pôsteres de companhias de teatro nos anos 70 no Japão, e o formato de figuras de barro escavadas em sua cidade natal, além também da maneira de capturar espíritos pelo povo japonês.
Assim foi surgindo essa série de vestidos em cores neon, alguns com detalhes que parecem bordados e que existem somente com a parte da frente, possibilitando o uso por qualquer pessoa, por exemplo, pessoas de tamanhos diferentes ou em cadeira de rodas. Inclusive, sua avó foi fotografada usando um deles, justamente em uma cadeira de rodas.
Recentemente, Seiran foi uma das finalistas no ITS Platform Contest, um concurso italiano que premia jovens talentos no mundo da moda. Seu trabalho é de uma delicadeza e ao mesmo tempo tão inovador, tanto no modo de produzir quanto no conceito de ser uma peça que você só veste de frente, você enfia seu corpo lá assim como um chinelo. O sonho dela é trabalhar com John Galliano e ver a Bjork usar suas criações. Talvez eles não estejam tão distantes assim.