Por Elis Martini
Para quem veio do país onde Facebook, Instagram e YouTube são bloqueados pelo governo deve ser difícil se tornar um blogueiro que viaja o mundo cobrindo semanas de moda. Não para Peter Xu. Com mais de 1,4 milhão de seguidores no Weibo, rede social conhecida como “Twitter chinês”, o ex-professor de inglês virou celebridade em seu país natal depois que começou a escrever sobre moda, há três anos. Baseado em Xangai, ele atualmente presta consultoria para grifes que desejam conquistar o concorrido mercado chinês via mídias sociais, além de colaborar com publicações como “Elle” China, “Harper’s Bazaar” e “Cosmopolitan”.
Durante sua primeira visita ao Brasil, Peter conversou com o FFW sobre seu trabalho e sua impressão sobre a moda brasileira.
Como é ser um fashion blogger na China?
Para mim é muito difícil, tenho que usar uma VPN (Virtual Private Network) para usar o Instagram, que foi recentemente bloqueado por causa dos protestos em Hong Kong. Facebook é bloqueado, YouTube é bloqueado. Mas eu viajo muito: Paris, Milão, Copenhagen, Los Angeles, Nova York. Aprendo muito viajando e consigo ter uma perspectiva global. Mas na China é completamente diferente. Não acredito muito na blogosfera chinesa, a maioria das pessoas não fala inglês, é uma grande barreira. Na moda eles não conhecem muitos designers e marcas, somente os grandes: Dior, Prada, Gucci, Chanel.
Mas ao mesmo tempo o mercado chinês está crescendo muito; como as pessoas se informam sobre moda?
Está crescendo drasticamente, e as mídias sociais são as principais ferramentas usadas pelas marcas. Temos o Twitter chinês, o Instagram chinês, o Facebook chinês. Os asiáticos, mas especialmente os chineses, são o povo que mais passa tempo conectado na internet do celular. Até quando um grupo de amigos está comendo, na mesma mesa, eles postam coisas na internet um para o outro. Todo mundo baixa a sua cabeça para procurar por informação.
Como é a sua relação com seus seguidores?
Eu posto muito os looks que uso, mas sempre tem alguns seguidores que criticam bastante. E na China as pessoas são muito críticas, você não pode criticar o governo, mas pode criticar as celebridades e as pessoas famosas. Eles usam isso como forma de aliviar a raiva. Então eu recebo muitas críticas, talvez 70% dos comentários que recebo são positivos e o resto negativos. Às vezes eles são construtivos e fazem sentido. Você acaba sabendo o que a maioria das pessoas gosta ou não gosta. Depois de três anos trabalhando como blogueiro eu sei o que os chineses amam ou odeiam, então presto consultoria para marcas falando o que elas devem ou não fazer.
Por que você resolveu ser um blogueiro de moda?
Na China não temos muitos blogueiros, somente três ou quatro são conhecidos nacionalmente, e nós temos mais de um bilhão de chineses! Antes eu era professor de inglês e trabalhava com marketing para a L’Oréal. Um dia me dei conta de que não gostava daquilo, não era o que eu queria. E desde criança gostava de aparecer. Já participei de programas de TV e cantei como rapper em clubes noturnos. Usava roupas como as dos rappers americanos, só que elas eram confiscadas pelos professores do meu colégio. Quando eu era criança, na China, não se podia nem usar óculos de sol na rua, se você usasse as pessoas achavam que você era um “weirdo”. Mas está mudando muito rápido com essa nova geração. E nós nos abrimos muito graças às mídias sociais e aos blogs.
O que você está achando de São Paulo?
Incrível. Não é tão diferente de Xangai, é muito vibrante. Vejo um mix de culturas aqui. Sou um cara do hip-hop, adoro grafitti, e fiquei muito impressionado. Há grafitti e cores por tudo.
E da moda brasileira?
Vi muitas coisas típicas, como cores e estampas de animais e plantas, usados de uma maneira sofisticada. A marca Osklen, por exemplo, que trabalha com pele de peixe, é muito exótica para mim. Gosto desta marca, é uma das que me impressionaram. Vi o desfile da Giuliana Romanno, achei do nível de Yves Saint Laurent! Simplesmente quero comprar aquele chapéu. E a combinação de materiais fica muito elegante.
Observando as ruas, vi que as mulheres usam mais cores, mas de maneira geral as pessoas que não estão no meio da moda são muito conservadoras, vestem muito preto e branco, peças comerciais. E aqui as pessoas brincam mais com a sensualidade, com o tom da pele, o bronzeado, e para mim as brasileiras têm a melhor pele do mundo.