A Haight Clothing tem apenas dois anos recém-completos, mas para quem frequenta o circuito cultural off mainstream do Rio, parece que ela já veste as garotas cool cariocas há muito tempo. Ex-estilista da Auslander, Marcella Franklin é a responsável por espalhar essa boa vibe de design de beachwear que é quase a antítese do estereótipo do estilo das frequentadoras das praias da cidade. A cartela de cores é sóbria, com basicamente preto, branco, nude e terrosos, o shape é minimalista e com calcinhas maiores e peças nem por isso menos abusadas. Os decotes vertiginosos, com os agora já famosos side boobs (a lateral do seio à mostra) da grife e os decotes em V profundos não perdem em nada para os fio-dentais e biquínis minúsculos no quesito sensualidade. Com design geométrico e equilíbrio com o resto do maiô (onde os decotões se concentram mais), porém, fica um sexy chique. Que ainda faz corar as paulistas quando usado fora da areia, claro.
Com um design que segue uma linha de raciocínio na mesma família de marcas como Lenny Niemeyer (de quem é fã assumida) e Osklen, a Haight traz a vantagem de ser uma grife menor, e por isso, mais exclusiva e com oportunidade de experimentar e ousar mais. Sem loja própria, vende em 15 endereços entre São Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre e Chile. As multimarcas Frey Kalioubi, Choix e Void General Store estão entre eles.
A seguir, leia a entrevista com Marcella, que dá todos os detalhes de sua marca e conta as novidades da coleção que acaba de lançar.
Como aconteceu essa mudança do jeanswear que fazia na Auslander para o beachwear?
Sempre fui apaixonada por praia e por biquínis. Em geral optava por peças mais diferentes das habituais cariocas, muitas vezes vintage, compradas em brechós ou em viagens. Trabalhei durante 3 anos no estilo feminino da Auslander. Lá, tive a oportunidade de desenvolver peças especiais para os desfiles, em parceria com outras marcas. Na coleção do Verão 2014, desenvolvemos uma linha de praia para a passarela em parceria com a Lenny Niemeyer, de quem sempre fui fã. Uma das marcas que mais admiro até hoje. Foi então que tive a oportunidade de criar peças mais conceituais e de modelagens diferenciadas (como as que eu gostava), e ainda com toda a estrutura de desenvolvimento e produção da Lenny. Aí, não tinha como a moda praia não me conquistar, né? Foi então que saí de lá para colocar em prática um projeto autoral que estava desenvolvendo. Uma coleção de beachwear com a pegada dos que eu desenhava para o desfile da marca. Depois de lançada, teve um retorno muito positivo. Foi então que um grande amigo me propôs uma sociedade e abrimos a Haight.
Quais são suas principais preocupações na hora de criar um biquíni ou maiô, em termos de modelagem, bom caimento, conforto?
A modelagem e o caimento das peças sempre foram das minhas maiores preocupações durante o desenvolvimento. Apesar de muita gente achar que a Haight faz “roupa só para magrinhas”, como já ouvi algumas vezes, nossos produtos são pensados justamente para fazer a mulher se sentir bem e bonita com o próprio corpo. Não importa se veste P ou GG. Não importa o modelo, os recortes são sempre estratégicos e os acabamentos escolhidos para não apertarem locais indesejados ou provocarem marcações que nenhuma mulher gosta. Por isso, muitas vezes uma cliente experimenta um tamanho a menos que o de costume e a peça veste ainda melhor.
Até agora, quais você acha que foram os grandes goals da Haight?
A Haight traz uma proposta de moda praia que pode-se considerer diferente da maioria convencional carioca. Com shapes minimalistas e modelagens diferenciadas, as peças podem ser utilizadas em outros ambientes, além da praia e piscina. Quero passar uma certa coragem e despreocupação em usar o que gostam. Seja o que estão acostumadas a ver nas nossas praias, ou o que normalmente só aparece nas passarelas. Muitas meninas gostam de peças diferentes das habituais, mas não se sentem à vontade em usá-las na praia do dia-a-dia. De uns tempos para cá, isso está mudando. E a Haight defende essa atitude, oferecendo também peças mais conceituais à orla carioca.
O que você destacaria da nova coleção que acaba de lançar, a de Primavera 2017?
Além dessa nova proposta de shape, a diversidade de características da mulher brasileira é uma das coisas que mais me encanta. Mais uma vez buscando a valorização do que cada uma tem de especial, uma das novidade dessa coleção são os nossos diferentes “tons de nude”. Para a Primavera 17, que estamos lançando, montamos uma cartela de cor que disponibiliza o nude da bronzeada, o nude da pele negra, o nude da mulata e o nude da branquinha. Temos até o nude da branquinha que pegou muito sol rs, nosso Rosa Nude.
Há uma novidade nos materiais, com o lançamento das peças de tricô?
Isso mesmo! Os tricôs da Haight são uma nova linha que desenvolvemos especialmente para a nova coleção de primavera, que lançaremos agora. As primeiras peças chegam às lojas na semana que vem. Elas têm no geral uma pegada new vintage sob um olhar esportivo, pensadas para a noite.
Vocês já exportam? Pretendem exportar? Querem abrir loja própria?
A Enfit é nossa primeira multimarcas internacional, que fica em Santiago, no Chile. Sem dúvidas um dos nossos objetivos para um futuro próximo é iniciar novos canais de exportação. Temos recebido e-mails de clientes de diferentes países perguntando como comprar nossos produtos, além de algumas multimarcas interessadas principalmente naEuropa e nos EUA. Mas ainda estamos em processo de estruturação interna, para iniciarmos da melhor forma possível. Abrir loja também é uma ideia, mas ainda sem previsão, nem pressa. O foco da empresa no momento é estruturar a marca e aumentar a equipe, para podermos começar a projetar os próximos passos da melhor maneira possível. Muita gente não imagina, mas a Haight, além de mim, só tem mais 2 funcionários.
Qual é seu ponto de partida e como é o processo de pesquisa das suas coleções? Há referências recorrentes? Você começa por uma ideia ou por um shape/material?
Sempre fui apaixonada por história da arte e consequentemente história da moda. Muitas vezes minhas inspirações iniciais vêm daí. Mas a graça é justamente trabalhar esse ponto de partida inicial e desenvolvê-lo para caminhos diferentes. No conceito da marca, falamos sobre o trânsito constante entre pares de opostos, sob uma conotação de convergência. E é esse jogo que traz a junção do antigo com o moderno que aplico sobre as peças, em uma proposta de moda praia ao mesmo tempo diferenciada e atemporal.
A Haight em um perfil de cliente hoje?
Acho que por buscar essa valorização antes mencionada, a Haight sempre teve clientes de perfis diferentes e tem atingido cada vez mais novos perfis, o que me deixa bastante feliz. Atendemos ao mesmo tempo a menina mais carioca e a mais globalizada. Mas em sua maioria, são clientes que têm como ponto em comum uma cabeça aberta e uma certa despreocupação em usarem o que gostam, mesmo que não seja a peça mais convencional e habitual da praia carioca.