“Longe de casa, eu sou mais um filho do Atlântico Negro, e quero que as pessoas enxerguem essa historia como a nossa identidade.” conta Roberto Neri, empreendedor afro-brasileiro, nascido e criado em Salvador e fundador da Preto Novo. Também comunicador e especializado em novas mídias, em 2019, Roberto lançou o primeiro canal de TV afro-brasileiro, liderando o departamento de conteúdo da TRACE TV.
A Preto Novo é uma marca afrocentrada, surgida no sul da França, em 2019, ainda como uma comunidade quando Neri morava por lá e estudava comunicação. Segundo ele, sob uma realidade de uma região bastante racista, onde havia poucos espaços livres para discutir e trocar experiências enquanto um homem preto e latinoamericano, ele criou um coletivo que propunha encontros para que a juventude preta do local pudesse se encontrar e falar sobre suas vivências. Tudo isso, ainda em seu apartamento, em uma série catalogada e disponível no Youtube como ‘Diásporas’.
A origem do nome, Preto Novo, vem em referência à uma herança afro brasileira, da imagem do Preto Velho, ancestrais, espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos e diz da necessidade de se pensar no futuro e no presente sem deixar de lado o passado e a ancestralidade.
“Na França, diferente do Brasil (hoje), é muito mal visto afirmar uma identidade afro-centrada, as pessoas são muito reticentes ao falar sobre racismo, ou mesmo sobre raça, e Preto Novo ocupa esse espaço de resistência como uma das poucas marcas pretas na França.” conta Roberto Neri “Preto Novo nasce da relação diaspórica de disseminação a dialética entre centro/periferia ou metrópole/colônia, onde nenhum lugar é mais casa. A marca vem de onde querem que ela seja, e nessa relação, ela torna-se tão francesa, quanto brasileira, quanto caribenha, quanto brasileira…a proposta era de criar um espaço seguro para a minha comunidade.” continua.
Foi só neste ano que o projeto de Roberto Neri se tornou uma marca de moda, que fala sobre a importância de cultivar espaços onde as memórias são criadas a partir da riqueza da ancestralidade preta e não da dor.
“A marca busca mostrar ao mundo a herança afro-diaspórica como ferramenta de descolonização do olhar na moda. Para além das questões de poder e dominação, a colonização, reformulou, controlou e explorou ideias e conceitos como a masculinidade, a feminidade e o posicionamento do corpo que marginalizou, excluiu e impediu novas narrativas.” afirma Roberto Neri.
Na Preto Novo, que se estabelece como um projeto novo enquanto marca de moda, a principal estética se faz através das mensagens e das imagens de resistência e cura, com um mix de produto ainda simples, em sua primeira coleção cápsula. A marca convida artistas e designers pretes da cena brasileira e francesa para elaborar sua própria interpretação sobre ‘cura’, como resultado, as artes de afro cubismo do artista João Moska (artista plástico baiano) e o minimalismo de Jeff (designer no Camarões) estampam as peças da Preto Novo. A marca, ainda baseada na França vende suas peças por lá, mas tem planos começar a atender o público brasileiro a partir de fevereiro.