Em entrevista ao FFW, Natasha Soares, modelo e uma das porta-vozes da plataforma Pretos na Moda, revelou mais detalhes da iniciativa que teve como primeira conquista a de instituir que, no mínimo, 50% dos castings do SPFW sejam compostos por negros, afrodescendentes, indígenas e/ou asiáticos. Na sequência, você confere os planos e desejos que vão além do calendário da moda nacional.
Como surgiu a ideia do Pretos na Moda? Foi algo que cresceu e evoluiu até de forma rápida, não? Digo quanto a plataforma em si e não a causa…
O coletivo surgiu de forma muito natural, a nossa união sempre existiu mas nunca foi nada oficial. Nós evoluímos rápido porque o objetivo já estava traçado, qualquer corpo racializado no mundo da moda te responderia, que o que ela precisava era incluir corpos de forma verdadeira.
Vocês gostam de deixar claro que não é sobre cotas, mas sim proporcionalidade, certo? Poderia comentar um pouco mais sobre isso?
O termo cota é controverso por que enquanto entendemos a necessidade desse sistema, também entendemos o quanto é distorcido a forma como é posta em prática. A nossa necessidade é de pertencimento, e não de uma inclusão vazia onde podemos ser usados como token. Proporcionalidade é o alvo, ela sim afirma o pertencimento.
Esse acordo com o SPFW foi um marco… e eu li que a cada temporada ele será reestruturado, pode falar um pouco mais a respeito dessa característica?
Entendemos a necessidade constante do mercado em se reformar, existem inúmeras outras questões e problemas a serem abordadas! A curto prazo isso foi o que desenvolvemos, mas tem outros projetos em andamento vindo por aí…
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“Não existe nenhum aspecto (ambiente) da moda que não precise ser avaliado e ajustado de acordo com o ponto de vista mais inclusivo e receptivo de corpos racializados.”
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Além do evento, pretendem fazer algo parecido com outros segmentos da moda como revistas, publicidade, equipes criativas, etc?
Sim, claro! A moda de uma forma geral precisa ser reestruturada e racializada. Não existe nenhum aspecto (ambiente) da moda que não precise ser avaliado e ajustado de acordo com o ponto de vista mais inclusivo e receptivo de corpos racializados.
Choooorem nessa @kindercomk Deusa mineira! #Pretosnamoda #projetoarvore
Esperam que isso tenha reflexos também internacionais? Vocês sabem de algo parecido acontecendo lá fora?
Caso haja reflexo internacional, será consequência da luta de todos, não almejamos isso mas acreditamos no poder da mudança e no quão ela pode ultrapassar fronteiras criadas pelo homem. Será um prazer inspirar positivamente as pessoas de outros países a olharem para dentro de si e para o ideal de moda excludente que alimentamos até os dias de hoje.
Nos Estados Unidos o @blackinfashioncouncil tem feito um movimento com várias marcas, que tem impulsionado a racialização. Acho importantíssimo!
Quanto a dinâmica da plataforma em si: ela servirá como um meio de comunicação entre pretos que trabalham na moda como modelos e também em outras áreas, certo? Vi que também querem estender a criativos, no sentido mais amplo…
Sim, com certeza! No início do movimento decidimos nomear o grupo “Pretos na moda” na intenção de abranger o mercado como um todo. Essa não é uma luta só de modelos, embora tenha começado conosco, o mercado como um todo precisa ser sacudido.
Queremos usar a plataforma para deixar todos cientes sobre o que se passa no mercado, atualizar a todos sempre que algo for conquistado!
A ideia é criar um ambiente de diálogo, mas que sirva também de vitrine para os profissionais/talentos, correto?
Exatamente! A ideia é ter na página uma rotatividade de pessoas, que automaticamente trazem seu ponto de vista, sua visão de trabalho. Para podermos trabalhar em cima das falhas do mercado em outras áreas/categorias também!