Da esquerda para direita: look masculino e feminino Karin Feller inverno 2010, e looks de Juliana Altafim e Najla Dib inverno 2009 ©Agência Fotosite
Uma incubadora dentro de outra incubadora? Foi assim, para acabar com tal ambigüidade que nasceu o Projeto Lab – braço da Casa de Criadores voltado aos estilistas e marcas realmente iniciantes. Antes um espaço dedicado a experimentações, hoje uma das principais vitrines de novos talentos da moda brasileira, o Lab vem ganhando força e relevância a medida que a organização e participantes vão absorvendo atuais necessidades do mercado.
Criado em maio de 2000, na 8ª edição da CdC, o evento nasceu para oferecer uma melhor plataforma aos trabalhos mais experimentais dos novos integrantes. “Na CdC começamos a manter um casting fixo de estilistas que, quanto mais desfilavam suas coleções no evento, mais cresciam comercialmente”, explica o diretor e idealizador do evento, André Hidalgo. “Mas a imprensa continuava a chamá-los de novos talentos e a comparar seus trabalhos com os de quem estava começando. Decidimos então criar um evento dentro do evento que fosse mais adequado conceitualmente para quem fazia sua estreia na moda com uma estrutura pequena.”
Para o jornalista e blogueiro Lula Rodrigues, apoiador e entusiasta do projeto, o Lab tem papel essencial para os novos talentos da moda. “É como dar papinha de criança, alimentar o bebê para que ele se desenvolva com força para aguentar as exigências do mercado”. Para ele, o Lab funciona como uma versão atualizada das manifestações underground dos anos 1980. “Se antes podíamos ver performances de 15 minutos, hoje não temos mais todo esse tempo”, explica, fazendo referência aos desfiles do projeto que são mais curtos do que um desfile convencional.
Da esquerda para a direita: Jadison Ranieri inverno 2010 e looks feminino de Arnaldo Ventura inverno 2010 © Agência Fotosita
André Hidalgo explica que o evento funciona como uma porta de entrada para própria CdC (quando não para o próprio mercado de moda). Estilistas começam ali de forma pequena, com um pequeno desfile de 10 looks. Depois de três edições, se o trabalho tiver boa aceitação pelo mercado e pela imprensa e o estilista souber se adaptar a realidade dos seu tempo, a marca migra para o line up oficial da CdC. Foi assim com os estilistas Samuel Cirnansck, Fábia Bercsek, Simones Nunes, Der Metropol e Karin Feller.
Inicialmente, o Projeto Lab era formado por marcas que a própria organização apostava. Hoje a seleção de quem desfila no evento é mais democrática. “A partir da 16ª edição da Casa de Criadores, passamos a abrir as inscrições para todo e qualquer interessado, que deve nos mandar um projeto de coleção + 1 look executado”, explica André. A partir daí uma comissão julgadora formada por profissionais da área avalia quem deve participar do projeto.
Dessa forma, o nível dos trabalhos apresentados tem ganhado cada vez mais relevância. Segundo André, “as marcas que hoje fazem parte do Lab chegam mais preparadas, com uma visão maior de mercado”. Com a maioria dos participantes vindos das faculdades de moda, a criação continua como foco principal, mas sem deixar de lado o aspecto comercial.
“O Brasil possui o maior número de cursos de graduação em moda e estilismo no mundo, e o Lab é uma das vitrines existentes para que os jornalistas e o mercado possam avaliar a qualidade de ensino e sua evolução nestes últimos anos”, diz Ricardo Oliveros, jornalista que acompanha o Lab desde a primeira edição. “A questão é que um projeto voltado para a nova geração precisaria de um mercado mais atento para poder absorver esta nova leva e possibilitar o real desenvolvimento do potencial apresentado, e isto não acontece”.