Clare Waight Keller é uma estilista com anos de carreira bem construída, com passagens por marcas como Calvin Klein, Ralph Lauren, Gucci, Chloé e agora Givenchy, como a primeira mulher a assumir a casa francesa. No entanto, ainda faltavam alguns degraus para que ela alcançasse a mesma relevância de Stella McCartney e Phoebe Philo. Até a manhã deste sábado, quando Meghan Markle desceu do carro para revelar seu vestido de noiva Givenchy assinado por Clare Waight Keller. E se até ontem, quase ninguém sabia quem era essa estilista britânica, ao menos nos dias que se sucedem ao casamento real, ela deve ser uma das estilistas mais buscadas no Google.
Não importa os anos de esforço e talento. Uma oportunidade como esta é um golpe de sorte – ou finalmente, o reconhecimento merecido pelo trabalho duro. A nova Givenchy, sob Waight Keller, será uma das marcas mais copiadas e desejadas não apenas pelo impacto que seu vestido de noiva causou neste fim de semana, mas porque a Duquesa de Sussex certamente a usará em muitas outras ocasiões, assim como faz Kate Middleton com Alexander McQueen (é inquestionável a vitalidade que Middleton trouxe à marca após se casar com seu vestido e usar McQueen em diversas ocasiões, inclusive no casamento do príncipe Harry com Meghan).
Muitos apontaram a escolha de Meghan pelo fato de Claire ser a primeira mulher a assumir a maison, sugerindo uma decisão em que pesava o fator feminista, mas a Dior também tem Maria Grazia Chiuri na mesma posição. Mas independente de como ou por que ela optou pela Givenchy, vale notar que o vestido de noiva é a peça que Waight Keller deixou mais visível os códigos da marca francesa desde que assumiu, em março de 2017. Hubert de Givenchy criava peças femininas que equilibravam o clássico e o moderno. O decote canoa é uma de suas marcas, assim como a elegância atemporal e até minimalista, sem excessos.
Mas até chegar no casamento real, foram muitos anos de aprendizado. Claire nasceu em Birmingham, Inglaterra, e se graduou em moda. Começou sua carreira na Calvin Klein onde ficou por quatro anos antes de seguir para Ralph Lauren. Em 2000 foi contratada por Tom Ford na Gucci para cuidar da linha feminina e de acessórios ao lado de Christopher Bailey e Francisco Costa. Saiu após quatro anos para se tornar diretora criativa na Pringle of Scotland, levando uma nova visão para a marca de tricô, recebendo boas críticas por seus desfiles. Deixou a empresa em 2011 pela Chloé, ocupando o lugar deHannah MacGibbon – que teve a difícil tarefa de substituir Phoebe Philo, sem muito sucesso.
Em sete anos de trabalho na Chloé, Claire manteve a marca comercialmente saudável, ainda que esteticamente não mostrava a força dos tempos de Stella McCartney ou Phoebe Philo.
Mesmo agora na Givenchy, a estilista ainda se encontra em um período de transição, revendo a história da marca e a herança não só de Hubert de Givenchy (que há muito se perderam), mas dos outros designers que por lá passaram, como Riccardo Tisci, Julian MacDonald, Alexander McQueen e John Galliano – Givenchy vendeu sua marca ao grupo LVMH pouco antes de se aposentar e faleceu aos 91 anos em março deste ano.
Sobre sua coleção de estreia, a crítica de moda Vanessa Friedman escreveu: “embora não houvesse nada em particular que causasse objeção – a coleção foi bem pesquisada e correta, com uma informação bem profissional – também não vimos novos padrões estabelecidos nem reinterpretações históricas oferecidas que falassem sobre identidade e expressão”. Talvez seja esse o maior desafio de Keller a partir de agora: é o momento dela deixar de ser apenas uma ótima estilista que executa bem qualquer papel para ser Claire Waight Keller, uma mulher para ficar na história da moda.
Claire é casada com o arquiteto Philip Keller, com quem tem três filhos.